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'Tranquiliza a turma', disse Rodrigo Bethlem, alvo da Lava Jato

Força-tarefa da operação, no Rio, afirma que mensagens trocadas pelo ex-secretário do Rio e presidente de Federação de Empresas de Transportes ‘evidenciam a manutenção do esquema fraudulento no setor de transportes do Rio de Janeiro até os dias atuais’

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Por Julia Affonso
Atualização:
 Foto: Estadão

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ORDEM JUDICIAL

Policiais federais cumpriram as ordens judiciais na casa de Bethlem e em um escritório, ambos na Barra da Tijuca. Na casa, foram apreendidos equipamentos de informática e telefones celulares. No escritório, a PF apreendeu documentos.

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Segundo o Ministério Público Federal, as mensagens apreendidas - na Operação O Quinto do Ouro, em março - no celular do presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor), Lélis Marcos Teixeira, 'evidenciam a manutenção do esquema fraudulento no setor de transportes do Rio de Janeiro até os dias atuais'. Lélis está preso na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica.

"Diante da instabilidade surgida no final do ano de 2016 com a mudança da chefia do Poder Executivo Municipal do Rio de Janeiro, Rodrigo Bethlem Fernandes enviou mensagens a Lélis Marcos Fernandes, em 28 de dezembro de 2016, para que este tranquilizasse a "turma", pois o esquema seria supostamente mantido, ao que tudo indica, pela atual administração municipal", narra a Procuradoria da República ao juiz federal Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal, do Rio.

Às 22h04, Bethlem escreve. "Amigo preciso lhe falar urgente."

Dois minutos depois, Lélis responde. "Daqui te ligo. Ou amanhã cedo."

Bethlem prossegue. "Tenho uma notícia importante. Meu amigo garantiu que se o atual fizer ele mantém. Entendeu?"

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"Entendido ótimo", diz o presidente da Fetranspor.

Às 22h07, Bethlem manda duas mensagens em seguida. "Tranquiliza a turma", diz. "Feliz Ano Novo."

"Vou fazer isto. Feliz 2017", deseja Lélis.

"Me dê os louros", pede Bethlem.

"Ok", responde Lélis.

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No dia seguinte, em 29 de dezembro, às 19h39, Bethlem afirma. "Este vice vai dar muito trabalho. Ele que criou isso."

"Tenho certeza disso", diz Lélis.

"Os 2 tinham se acertado. Vamos falar depois", sugere Bethlem.

"Ok", encerra Lélis.

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Para o Ministério Público Federal, 'o teor das mensagens revela fortes indícios da realização de acertos espúrios'.

"Ao que tudo indica, o vice em questão seria o vice-prefeito do Rio de Janeiro, Fernando Mac Dowell, engenheiro civil e doutor em engenharia de transporte, que igualmente ocupa o cargo de Secretário Municipal de Transporte, e é conhecido por possuir amplo conhecimento técnico sobre o setor em questão e profundo crítico das medidas até então adotadas", observa a força-tarefa da Lava Jato.

"O embate entre os empresários do setor de transporte e o vice-prefeito e secretário dos transportes do Rio de Janeiro, Fernando Mac Dowell, perdura até os dias atuais, eis que ainda não há previsão de reajuste nas tarifas de ônibus da cidade, defendendo o secretário, ainda, uma revisão do plano de racionalização das linhas de ônibus ocorrido entre o final de 2015 e o início de 2016."

Transportes. A Operação Ponto Final afirma que o esquema atribuído a Sérgio Cabral 'atuou igualmente no setor de transportes do Estado Rio de Janeiro, sendo responsável pelo pagamento de mais de R$ 260 milhões a políticos e agentes públicos mediante o "caixa 2" da Fetranspor, a fim de preservar os interesses das empresas de transporte de passageiros do Estado'.

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"Dentre os empresários responsáveis por oferecer e pagar vultosas quantias em nome da Fetranspor aos agentes públicos estão Lélis Marcos Teixeira, o qual, além de presidir a Fetranspor, desempenha relevantes funções em sociedades empresárias ligadas ao serviço de transporte do Estado do Rio de Janeiro, bem como Jacob Barata Filho, um dos empresários com maior poder econômico do setor", afirma a Procuradoria.

Em seu site, a Fetranspor afirma que 'congrega 10 sindicatos de empresas de ônibus responsáveis por transporte urbano, interurbano e de turismo e fretamento'. "Esses sindicatos, por sua vez, reúnem mais de 200 empresas de transporte por ônibus, que respondem por 81% do transporte público regular no Estado do Rio de Janeiro", informa a Fetranspor.

 

COM A PALAVRA, RODRIGO BETHLEM

O Estado entrou contato com o advogado de Rodrigo Bethlem, mas não obteve retorno.

COM A PALAVRA, A PREFEITURA DO RIO

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A Prefeitura do Rio emitiu nota dizendo que "repudia com veemência as insinuações descabidas de qualquer possibilidade de escândalos no setor de transporte do governo anterior ter continuado na atual gestão". O texto afirma ainda que a atual administração "conseguiu impedir novamente o aumento da tarifa de ônibus urbanos do município, contrariando a reivindicação dos empresários e até decisão de primeira instância da Justiça."

COM A PALAVRA, EDUARDO PAES

"A operação de hoje não guarda qualquer relação com o período em que Rodrigo Bethlem foi secretário do governo do ex-prefeito Eduardo Paes. Aliás ele já não mantém relações políticas com o ex-prefeito Eduardo Paes desde 2014, tendo inclusive apoiado a eleição do atual prefeito."

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