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Toffoli diz que Justiça com poucas mulheres tem 'visão limitada e parcial do mundo'

Presidente do Supremo defende maior participação feminina no sistema porque 'a mulher fornece um olhar diferenciado à atividade judicial, notadamente nas questões de direito relativas a gênero'

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Por Redação
Atualização:

Dias Toffoli. Foto: Dida Sampaio/ESTADÃO

O presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, disse nesta segunda, 15, que 'um sistema de Justiça com poucas mulheres em seus quadros e postos de comando é um sistema incompleto, que opera a partir de uma visão limitada e parcial do mundo'. Para Toffoli, essa situação 'impacta na própria qualidade da prestação jurisdicional'.

Durante almoço no Salão Nobre do Supremo, com juízas, desembargadoras e ministras de Tribunais Superiores, ele afirmou que a sociedade brasileira precisa de mais mulheres no Poder Judiciário.

O encontro foi organizado em parceria com a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), por meio da presidente interina da entidade, juíza Renata Gil, informou o site do Supremo.

 Foto: STF

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"A mulher fornece um olhar diferenciado à atividade judicial, notadamente nas questões de direito relativas a gênero, e os desafios são muitos nesta seara", ressaltou o ministro.

Toffoli destacou que, 'a despeito de a Lei Maria da Penha ser uma legislação avançada em termos de proteção da mulher contra violência doméstica e familiar', o Atlas da Violência, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2016, mostra números aterrorizantes, como o assassinato de 4.645 mulheres no País, o que equivale a 4,5 homicídios para cada 100 mil brasileiras.

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Nos últimos 10 anos, observou o presidente do Supremo, houve um aumento de 6,4% nesses tipos penais.

Quando ocupou interinamente a Presidência da República em setembro, o ministro sancionou a lei que torna crime a importunação sexual e aumenta a pena para o estupro coletivo (Lei 13.718/2018).

"Esses exemplos mostram que, embora o Congresso Nacional tenha aprovado importantes legislações de proteção à mulher, é preciso que se confira efetividade a essas normas. O Poder Judiciário tem papel fundamental na garantia dessa efetividade, e as magistradas mulheres especialmente", afirmou.

Citando pesquisa 'Estatísticas de Gênero', elaborada pelo IBGE, e também estudos do Conselho Nacional de Justiça, Toffoli afirmou que, no Judiciário, os porcentuais de participação feminina ainda são baixos.

As mulheres representam 38% da magistratura, mas o porcentual de participação feminina diminui à medida em que se avança na carreira - as magistradas representam 44% dos juízes substitutos, 39% dos titulares, 23% dos desembargadores e apenas 16% dos integrantes dos Tribunais Superiores.

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O estudo também revela uma queda na representatividade de mulheres entre os que ingressaram na magistratura a partir de 2011, em todos os segmentos da Justiça.

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Toffoli afirmou que, embora o concurso público garanta isonomia no acesso aos cargos públicos, os maiores desafios vêm depois do ingresso na carreira, quando a mulher encontra um universo criado e dominado, por longo período, apenas por homens.

"É preciso que a mulher tenha voz nos espaços por onde passar dentro desse sistema", recomenda o ministro. "É necessário que essa voz seja respeitada e escutada com atenção e efetivamente considerada nas deliberações. O respeito precisa vigorar plenamente. Somente assim haverá igualdade de fato."

Toffoli assinou a Portaria do CNJ com a composição do grupo de trabalho para elaboração de estudos, análise de cenários, eventos de capacitação e diálogo com os tribunais sobre o cumprimento da Resolução CNJ nº 255/2018 que instituiu, na gestão da ministra Cármen Lúcia, a Política Nacional de Incentivo à Participação Institucional Feminina no Poder Judiciário.

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