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Testemunha da Lava Jato relata ameaças a legista do caso Celso Daniel

Cirurgião dentista afirmou que seu amigo Carlos Delmonte - encontrado morto em 2006 -, afirmou a ele que 'sofria muitas pressões para mudar depoimento à Polícia Civil de São Paulo'

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Por Mateus Coutinho , Julia Affonso e Fausto Macedo
Atualização:

Celso Daniel. Foto: Itamar Miranda/AE

Uma testemunha ouvida pela Polícia Federal no dia 1 de abril, quando foi deflagrada a 27ª fase da Lava Jato, a Carbono 14 que pegou o empresário de Santo André Ronan Maria Pinto, citado no polêmico episódio da morte do ex-prefeito Celso Daniel, em 2002, reacendeu o episódio da morte do legista do caso Carlos Delmonte Printes que apontou na época que o ex-prefeito teria sido torturado.

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Delmonte foi encontrado morto em outubro de 2006, e, segundo concluiu a Polícia Civil na época, teria cometido suicídio.

O cirurgião dentista Glacio Avolio, que conhecia o legista há muito tempo e lecionou com ele em um curso na capital paulista desde 1977, revelou aos investigadores da Lava Jato que na época das investigações da morte de Celso Daniel o legista teria confidenciado a ele que "sofria muitas pressões para mudar o depoimento prestado à Polícia Civil de São Paulo".

Na época, o legista apontou em seu laudo que o ex-prefeito havia sido torturado antes de morrer e, segundo o relato de Glacio, Printes estava sendo pressionado para afirmar que o caso foi um crime comum.

A ÍNTEGRA DO DEPOIMENTO DE GLACIO:

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 Foto: Estadão

"Carlos não mudou seu depoimento e ainda confidenciou que havia sofrido um atentado na Avenida Vinte e Três de Maio, na madrugada, cuja data não lhe disse, na qual uma caminhonete cabine dupla com vidros escuros tentou jogá-lo para fora da avenida por duas vezes", disse Glácio em depoimento prestado espontaneamente à Polícia Federal em São Paulo e que foi encaminhado à Lava Jato.

No depoimento, contudo, Glácio disse que o legista não o revelou quem o estava ameaçando, mas disse que "eles do PT estão com medo que isso suba a rampa do Planalto", afirmou Glacio. Naquele período, Lula era o presidente da República.

Delmonte chegou a vir a público dizer que o assassinato de Celso Daniel tinha indícios que apontavam para queima de arquivo.

Na Carbono 14 a Lava Jato avançou sobre Ronan Maria Pinto e o denunciou sob a acusação de receber R$ 6 milhões do PT para comprar o jornal Diário do Grande ABC, que na época cobria o caso implicando Ronan na morte de Celso Daniel.

Apesar de denunciar vários dos envolvidos no polêmico episódio, a Lava Jato não reabriu o caso da morte do ex-prefeito e nem acusa Ronan Maria Pinto de chantagear o partido por, supostamente, ter informações sobre o caso que poderiam implicar o ex-presidente Lula e outros nomes do PT, como disse o operador do mensalão Marcos Valério em depoimento à Procuradoria da República em 2012.

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A reportagem encaminhou e-mail para a assessoria do PT na noite desta terça-feira, 10, mas ainda não obteve retorno. O espaço está aberto para a manifestação do partido.

 

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