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Testemunha aponta 'entrega de contas' entre doleiro e executivo da Odebrecht

Carlos Alexandre de Souza Rocha afirmou à Justiça Federal, em 3 de setembro, que Alberto Youssef se encontrava com Alexandrino Alencar, ex-diretor da maior empreiteira do País, em shopping, em São Paulo

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Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Ricardo Brandt , Mateus Coutinho e Fausto Macedo
Atualização:

Alexandrino Alencar foi preso em 19 de junho, em São Paulo. Foto: Rafael Arbex/Estadão

Uma testemunha de acusação que depôs no processo da Odebrecht, na Operação Lava Jato, afirma que o executivo Alexandrino Alencar, ligado à empreiteira, se encontrava com o doleiro Alberto Youssef em um shopping, em São Paulo, para tratar de propina. Segundo o comerciante Carlos Alexandre de Souza Rocha, que fazia serviços para o doleiro, a relação entre Youssef e Alencar era de entregas de contas e de swifts.

A ÍNTEGRA DO DEPOIMENTO DE CARLOS ALEXANDRE DE SOUZA ROCHA

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Swifts são códigos que identificam uma instituição bancária. Eles são usados em transações financeiras interbancárias, principalmente em transferências internacionais, e algumas outras comunicações entre bancos.

"O que eu sei da Odebrecht é que por volta de 2010, 2011, por aí, tanto para entregar, para você fazer a transferência, você precisava dar uma conta e quando a pessoa faz transferência ela dá um documento que se chama swift, um número do swift que é o comprovante daquele pagamento. Umas 3 ou 4 vezes eu fui a um shopping em São Paulo com ele (Youssef), Eldorado, não me lembro se eu fui entregar a conta ou se pegar recibo, também não me lembro se foi negócio que ele fez comigo, ele ia se encontrar com um senhor de barba branca, barba branca não, barba rala, um senhor muito elegante, muito bem vestido, ele falava que esse senhor era da Odebrecht, e esse senhor, pelo que eu me recordo, é o senhor Alexandrino", afirmou Carlos Alexandre de Souza Rocha, em depoimento no dia 3 de setembro à Justiça Fedreral no Paraná, base da missão Lava Jato.

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Doleiro Alberto Youssef preso na primeira fase da Lava Jato. Foto: Vagner Rosario/Futura Press

Alexandrino Alencar está preso desde 19 de junho deste ano, quando foi deflagrada a Operação Erga Omnes, 14ª fase da Lava Jato. Ele, o presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, e outros executivos da companhia, são acusados de lavagem de dinheiro, corrupção e organização criminosa.

Ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, Carlos Alexandre de Souza Rocha afirmou que não foi apresentado a Alexandrino Alencar. "Eu ia para o shopping com ele (Youssef), sempre no shopping Eldorado, que ele dizia que ele (Alencar) tinha um escritório ali perto, nas intermediações, também não sei onde era o escritório dele, mas ele não atendia em escritório. Ele sempre marcava com o Beto nesse café do shopping Eldorado, ele entrava no café, eu saía, ia dar uma volta no shopping, aí ia para o carro, não era um encontro demorado, era 15, 20 minutos, e depois a gente se encontrava no carro, às vezes eu passava no café. Eu nunca fui apresentado a esse senhor Alexandrino, eu nunca fui, que eu me recorde não."

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O comerciante disse ainda. "Eu não me recordo se era entrega de swift ou era entrega, o Beto entregava a conta para ele pagar, pode ter situações que o Beto foi pegar, o senhor Alberto Youssef foi pegar o swift e pode ter situações que o senhor Alberto Youssef foi entregar a conta para ele pagar."

O depoimento de Carlos Alexandre de Souza Rocha foi feito por meio de videoconferência. Ele foi questionado pelo Ministério Público Federal se tinha conhecimento de que a relação entre Alberto Youssef e Alexandrino Alencar era de entregas de contas e swifts. "Sim, senhora", afirmou, emendando. "A única coisa que eu me recordo, que eu posso acrescentar a isso aí é que o Beto falou para mim que era, eu às vezes perguntava, porque não era da minha conta, eu fazia meu serviço, mas eu me recordo muito bem que uma vez eu perguntei para ele, ele falou para mim que a Petrobrás tinha uma cota de alguma coisa, de algum produto que eu não lembro o que é. E para aumentar essa cota existia aquele pagamento de propina, pagamento de comissão, sei lá, foi isso aí que o senhor Alberto Youssef falou para mim a respeito do senhor Alexandrino, ele que pagava as contas da Ode... Esse foco, eu não sei o que era, alguma coisa que a Petrobrás, que a Odebrecht Óleo e Gás, eu acho que é Braskem que tinha uma cota e pra aumentar essa cota existia esse pagamento por fora."

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A Procuradoria perguntou a Carlos Alexandre de Souza Rocha se os valores depositados nessas contas se referiam a essa 'cota'. A testemunha respondeu que sim. "Alberto Youssef me falou uma vez, que eu perguntei ou duas vezes que eu perguntei a ele, porque existia essa conversa, porque as ordens às vezes demoravam muito a entrar, aí ele dizia "Rapaz, eu não posso cobrar porque isso é um comissionamento e tal, não é assim", por isso que chegou a esse ponto do senhor Alberto me explicar isso aí."

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Carlos Alexandre de Souza Rocha já foi investigado na Lava Jato, por operações ilegais no mercado paralelo de câmbio. Ele contou à Justiça que fazia negócios de Alberto Youssef. "Eu nunca tive conta fora, simplesmente o senhor Alberto Youssef me pedia para arrumar algumas contas para ele fazer pagamentos de transferências do exterior, eu tinha um conhecido e esse conhecido arrumava as contas, eu passava para ele, e ele fazia os depósitos, eu pagava com reais para ele. Isso não era uma situação constante, era quando aparecia", disse. "Ele falava para mim que era sempre de construtoras, mas ele não entrava em muitos detalhes não, e não era favor não, eu fazia e ganhava uma comissão, não era favor não, era negócio."

COM A PALAVRA, A ODEBRECHT

"As manifestações da defesa do ex-executivo da Odebrecht se darão nos autos do processo. Ressaltamos, no entanto, que a própria testemunha afirma ter conhecimento das informações por meio de outras pessoas."

COM A PALAVRA, A BRASKEM

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- Alexandrino Alencar foi funcionário da Braskem até 2007.

- A Braskem não tem conhecimento de qualquer tipo de pagamento dessa natureza.

- Todas as negociações e contratos da Braskem com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança das duas empresas.

 

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