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Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Teste de ignorância e tolice

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Por Rodrigo Merli Antunes
Atualização:

Tempos atrás li um livro onde o jornalista Paulo Eduardo Martins afirmava que estamos vivendo uma Era de Mediocridade, onde se vê a consagração dos idiotas e a supremacia dos cretinos. A frase é forte, mas absolutamente correta em meu ponto de vista. E sabem por quê? Porque vivemos em um verdadeiro caos, mas mesmo assim a maioria das pessoas ainda não se deu conta disso. Ou pior: Elas já se aperceberam, mas continuam rindo ou empurrando o problema com a barriga.

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Querem ver?

No Brasil são assassinadas cerca de 60.000 pessoas por ano, algo equivalente a 3 guerras do Iraque e àquilo que se matou em toda a Revolução Francesa. Aqui, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos e um homicídio é cometido em menos de 10. Isso representa mais de 3 vezes o limite considerado suportável pela Organização Mundial de Saúde. Estamos entre os países onde mais se mata no mundo, mesmo não estando em nenhuma guerra declarada. Das 30 cidades mais violentas do planeta, 11 estão no Brasil. Em que pese tenhamos a 4ª população carcerária do globo, é fato que muitos bandidos ainda estão a solta, sendo 400 mil o número de foragidos de nossa Justiça.

Dos ilícitos cometidos em nosso território, somente cerca de 8% são elucidados, entrando os outros 92% para a cifra negra da criminalidade. E, daqueles 8% esclarecidos, somente 1 ou 2% acabam redundando em alguma punição. Para piorar, somos o 4º país mais corrupto do mundo, mas nossas prisões quase não possuem detentos de tal natureza. Dos 715 mil presos brasileiros, somente 0,01% são de pessoas que cometeram algum crime de colarinho branco. E isso sem contar os jovens entre 16 e 18 anos, os quais, muito embora possam votar para Presidente da República, não podem ser responsabilizados por seus crimes.

E na Educação, então?

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Aqui no Brasil são investidos cerca de R$ 1.000 mensais por aluno, quando na Suíça o montante chega a R$ 6.500. Com os professores, a maioria das Nações investe cerca de R$ 12.000 por mês, mas no Brasil esse valor é 3 vezes menor. No entanto, para um preso detido em um presídio federal, o país gasta cerca de R$ 7.000 mensais. Em outras palavras, é como se o preso valesse 7 vezes mais que um aluno e quase o dobro que um professor.

Mas isso não é só!

Temos ainda 14 milhões de analfabetos e quase isso de desempregados, algo em torno de 7% da população total. Analfabetos funcionais somam outros 18%, o que redunda em um total de 1/4 da população que não possui senso crítico algum. Já quanto aos outros 3/4, é fato que não temos muitos motivos para nos orgulharmos. Nos últimos testes internacionais de educação, nosso desempenho foi pífio.

Em Matemática, dos 44 países pesquisados, ficamos apenas em 38º lugar. Em Leitura, das 65 Nações estudadas, ficamos na 55ª posição. Já em Ciências, também de 65 Estados analisados, fomos o 59º do ranking. Dentre as universidades, é certo que a nossa USP, tão idolatrada por aqui, não ficou nem entre as 100 melhores do mundo, aparecendo apenas na 211ª posição.

E o que pagamos de tributos? Já perceberam? Aqui nós trabalhamos até o fim de maio só para sustentar o Estado. Já nos EUA, onde há prestação de serviços públicos decentes, eles trabalham com esse objetivo somente até meados de março. Nossa carga tributária é uma das mais elevadas do mundo, atingindo cerca de 30 ou 35% de todos os nossos rendimentos. E o curioso é pensar que a Inconfidência Mineira e a consequente Independência do Brasil ocorreram por conta de míseros 20% de tributos cobrados de Portugal. Chega a ser irônico!

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Mas sabem o que mais me surpreende? Eu respondo: Mesmo diante de toda essa tragédia acima retratada, ainda assim o brasileiro se considera feliz. Pesquisas divulgadas recentemente revelam que nós somos o 17º povo mais feliz do planeta, isso dentre mais de 200 países pesquisados. Trocando em miúdos, é fato que os brasileiros ainda acham que possuem motivos para sorrir. Somos como as hienas. Comemos fezes e ainda damos gargalhadas. Me desculpem os esperançosos, mas ser otimista é uma coisa; já ignorante ou tolo é outra bem diferente.

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Não é por outra razão que fazem conosco o que bem entendem. Somos verdadeira massa de manobra para os legisladores e governantes. Sempre fomos. Agora mesmo, enquanto estamos aqui, certamente alguns estão lá em Brasília tentando aprovar um projeto de lei que visa calar e intimidar o Judiciário e o Ministério Público, estes os últimos que ainda tentam de alguma forma modificar um pouco daquilo que fora abordado no início. Entretanto, é fato que muitas pessoas do próprio povo ainda são a favor dessa barbárie, mesmo sem nunca terem lido o inteiro teor do projeto de lei que pretendem aprovar. Mas, não é difícil saber o porquê disso tudo, né? Aliás, falei sobre ignorância e tolice em boa parte deste artigo.

Assim como dias atrás um colega se manifestou nesse mesmo blog (Dr. Fernando Zaupa), digo que é preciso que os brasileiros acordem. Chega de ignorância e de tolice! 107 milhões de votos no paredão do Big Brother Brasil não vão mudar coisa alguma. Mas, se metade dessa gente se informar seriamente acerca de pautas importantes, tal como a Reforma da Previdência e a Lei do Abuso de Autoridade, muita coisa já poderá ser mudada. Como já dizia o educador norte-americano Amos Bronson Alcott, "a maior enfermidade de um ignorante é ignorar a sua própria ignorância".

Vamos fazer um teste? Você tinha conhecimento de tudo o que foi falado aqui? Ou estava priorizando o seu time de futebol, a novela das nove e a sua academia? Se a resposta foi que não sabia, então sinto dizer que você corre o sério risco de entrar para o clube das hienas. O Livro de Provérbios possui uma passagem magnífica, onde é dito que o sábio procura aprender, mas os tolos estão sempre satisfeitos com a sua própria ignorância. Então não seja tolo ou medíocre! Não perca tempo! Se informe o quanto antes.

Aliás, muita gente precisa correr. Daqui a pouco o STF vai aprovar a legalização das drogas e muitos não vão conseguir absorver qualquer tipo de conhecimento. Se com todos os neurônios disponíveis a coisa já está difícil, imaginem se sobrarem somente o Tico e o Teco dentro das cacholas... Misericórdia! Que Deus tenha piedade de nós!

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*Rodrigo Merli AntunesPromotor de Justiça do Tribunal do Júri de GuarulhosPós-Graduado em Direito Processual Penal pela Escola Paulista da MagistraturaCoautor do Livro "O Tribunal do Júri na visão do Juiz, do Promotor e do Advogado"

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