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'Tenho contas como todos, paciência', diz advogada previdenciária que prega isolamento total contra o coronavírus

Fátima Bonilha, com 30 anos de atuação nos tribunais, diz ao 'Estadão' como a covid-19 atingiu em cheio sua rotina, lamenta a queda de honorários, mas acredita que vamos superar a crise e 'seremos melhores'; leia a entrevista

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Foto do author Fausto Macedo
Foto do author Pepita Ortega
Por Fausto Macedo e Pepita Ortega
Atualização:

Fátima Bonilha. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Diante da quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus, a advogada previdenciária Fátima Bonilha já vê os honorários minguarem, mas as contas continuam chegando. "Claro que vou passar uns tempos mais complicados. Vou pagar as contas básicas. Empurrar as demais. Paciência", afirma a advogada, que tem 30 anos de experiência em causas ligadas à Previdência.

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Com escritório em Santos, no litoral paulista, Fátima reconhece que o Judiciário adaptou seu funcionamento em meio à crise do coronavírus, mas reclama da paralisação de processos digitais na Justiça Federal. Se a quarentena se prolongar, diz, será preciso dar andamento imediato a esses processos.

Ainda assim, a advogada defende o "isolamento total" como principal medida de combate ao avanço da covid-19 no País. E se mantém otimista. "Vamos tratar de nos cuidar e cuidar dos nossos idosos. Vai passar."

ESTADÃO: Como o surto do coronavírus atingiu o seu trabalho?

FÁTIMA BONILHA: Viemos de umas férias forenses de 30 dias, absurdamente apoiada pela OAB e instituída no novo CPC (Código de Processo Civil). Estas férias terminaram em 20 de janeiro. Na sequência tivemos o carnaval, mais uma semana. Quando tudo começaria a caminhar veio este tiro de canhão paralisando tudo. E mais uma vez, absurdamente, até os processos digitais. Até 30/4, lamentável!

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ESTADÃO: O que mudou na sua rotina de advogada previdenciária?

FÁTIMA BONILHA: Consegui uma série de contatos remotos e colaboração na Justiça do Trabalho. Despachos e andamentos, ainda que com prazos suspensos. Porém, na Vara Federal em Santos, nada. Nenhum auxílio. Enviei e-mail para o e-mail institucional deles, e não obtive qualquer retorno. Isto porque eu quero alertá-los de um grave erro deles, pois emitiram precatório e RPV (requisições de pequeno valor) errados. Dentro de um processo meu, emitiram estes ofícios para terceiros nada a ver com meu processo. Já tentei informar o CJF (Conselho da Justiça Federal), estou aguardando uma resposta.

ESTADÃO: Os rendimentos honorários caíram? Pode indicar o porcentual de perda?

FÁTIMA BONILHA: Com tudo isto, eu tinha uma expectativa de receber honorários entre abril/maio. Esta expectativa frustrou-se. Claro que estou apertada. Claro que vou passar uns tempos mais complicados. Não vejo lógica de suspender andamento de processos digital. Eles criaram a digitalização para facilitar, não é o que ocorre.

ESTADÃO: Como planeja contornar esse cenário?

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FÁTIMA BONILHA: Tenho contas como todos, vou pagar a estagiária, que é minha obrigação, além do que uma grande colaboradora. E as contas básicas. Empurrar as demais. Paciência.

ESTADÃO: O Judiciário adaptou o trabalho dos advogados à crise do coronavírus? O que mudou?

FÁTIMA BONILHA: Como eu disse, tivemos, sim, colaboração da Justiça do trabalho. A Justiça Cível tem dado andamento e, inclusive, sentenças. Minha dificuldade está com a Justiça Federal, nenhuma resposta aos meus e-mails. Me parece que o JEF está andando, mas não posso afirmar.

ESTADÃO: Qual a sua sugestão para um eventual prolongamento da quarentena?

FÁTIMA BONILHA: Se ocorrer a prorrogação, devem pôr imediatamente os processos digitais para andar e verificar o que pode ser feito para ajudar a Justiça Federal de Santos, se é que precisam de ajuda.

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ESTADÃO: Praias fechadas e ruas desertas. Como você está fazendo para suportar uma quarentena tão severa?

FÁTIMA BONILHA: É uma beleza triste ver as praias vazias, mas extremamente necessário. As pessoas achando que é férias. Não é, é isolamento. Este isolamento é uma questão de logística. Vai passar. Eu moro em casa, tomo sol todos os dias.

ESTADÃO: Controla bem a ansiedade? Como?

FÁTIMA BONILHA: Faço uma hora de exercícios. Saio só pra compras de mercado. Medito! Respiro! Acredito, sim, numa regeneração! Valores devem mudar! Quem vive de aparência hoje está no desespero.

ESTADÃO: Isolamento total ou vertical?

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FÁTIMA BONILHA: Isolamento total! Não sou médica, como advogada posso falar do que entendo.  Se você não entende de economia, não fale, pergunte pro posto Ipiranga. Se também não entende de saúde, também não fale. Vamos tratar de nos cuidar e cuidar dos nossos idosos (eu já não tenho mais idosos na minha família). Vai passar! Venceremos e seremos muito melhores!

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