Que quadra é essa,
em que a Constituição é ignorada à beça?
Em que juiz investiga
e faz política?
Em que a cúpula do poder claudica,
a lógica fenece
e a nação colhe o que não merece?
Me explica!!!
O controlador emudece;
nada de ser ajuizada qualquer ação penal.
Tudo se resume a meras e preliminares apurações.
Notícias de fato
que não passam de primícias,
singelas abstrações,
enquanto a democracia e a sociedade pagam o pato...
Onde está o mal?
Me explica!!!
É só isso que acontece!
Sem cabimento,
tudo acaba em arquivamento.
Acha que é tudo?
Um setor da Defensoria Pública luta contra a vacina
infantil,
contra o que o ECA disciplina
com brio.
Que absurdo!
A Polícia Federal é manietada,
os delegados atuantes tomam severas bordoadas,
dado que removidos,
à sorrelfa,
numa canetada.
Estamos perdidos.
E ninguém dá um pio!
Me explica!!!
Sem olvidar as Forças Armadas,
nesta selva,
politicamente abraçadas...
D´algumas figuras
helenisticamente anacrônicas,
carrancudas.
A decente maioria atônita!
E grassam verbas pródigas para patuscadas,
uísques, vinhos, camarões,
carnes caras,
com módicas operações.
Mas sobram iguarias raras
e condecorações!
Que tempos escalafobéticos são esses?
Me explica!!!
O Congresso de ouvidos moucos:
impeachment nem pensar,
conquanto os indícios de crimes não sejam poucos...
Orçamento secreto na sala de estar.
E o povo?
Nada depreende.
Fica a pestanejar...
Uma pergunta pra quem entende:
e o arcabouço jurídico-constitucional?
Silêncio...
Dessume-se que seja trama indecente.
Fundo do poço.
Me explica!!!
Há crise institucional,
e ela é permanente.
Um desses que aí está
mente
a todo instante,
cheio de blá-blá-blá.
Atua de modo descarado,
sem pudor,
ao seu talante,
mas sempre com dolo.
É intencional!
E, nas ruas, panelaço,
percuciente clamor.
Ele passará?
Me explica!!!
Se não há justificativa
para o que está errado,
deixe-me pelo menos que a esse espetáculo
bizarro assista:
sem sigilos,
pois vislumbrarei as mansões dos pupilos,
a leviandade,
a ostentação,
a indiferença,
a ausência de piedade,
a incompetência,
a fraude,
a indecência,
o gasto perdulário no cartão
e incomensuráveis outros indícios
de que não passava de um
bufão,
de um mito -
claro que de barro -
frágil como palmito,
tacanho,
com muito esbirro,
todavia, sem lastro
e repleto de detrito...
Que tempos escalafobéticos são esses?
Me explica!!!
*João Linhares, promotor de Justiça do MP/MS. Integrante da Academia Maçônica de Letras de MS. Mestre em Garantismo e Processo Penal pela Universidade de Girona, Espanha. Especialista em Jurisdição Constitucional e Direitos Fundamentais pela PUC - RJ