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Telemedicina muito além da opinião: um método de cuidados para evolução da saúde

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Por Jefferson Fernandes
Atualização:
Jefferson Fernandes. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Desde o início da pandemia, a telemedicina vem tomando grandes proporções. Este método de cuidados à saúde e suas ferramentas tecnológicas vem ajudando as instituições, empresas e profissionais repensarem como continuar com suas atividades e seus negócios em um novo modelo. E, principalmente, darem seguimento de forma segura e eficiente ao atendimento médico de muitas pessoas durante a pandemia. Embora a existência da telemedicina não seja uma novidade, ela é ainda por vezes confundida como uma oportunidade de pedir uma orientação e não como uma consulta médica em si.  Mas, não é bem assim.

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Primeiro, é bem importante esclarecer que o uso da teleconsulta não veio para substituir as consultas presenciais e muito menos tirar o lado humano tão necessário na relação médico paciente. A telemedicina aproxima médicos e pacientes por meio do uso de tecnologia. Ela ocupa um espaço complementar, mantendo uma relação médico-paciente humanizada. Ela permite o acesso do paciente ao médico, quando e de onde for necessário, como por exemplo, do conforto de seu domicílio. Entretanto, é necessário que ambos, médico e paciente, concordem com a sua utilização. Se o paciente não desejar ou se o médico entender que um determinado atendimento não pode ser feito à distância, mas sim presencial, a consulta virtual não deve ser realizada.

Além disso, a telemedicina, definida pelo CFM como o exercício da medicina mediado por tecnologias para fins de assistência, educação, pesquisa, prevenção de doenças e promoção da saúde, elenca uma série de possibilidades de atendimento remoto: a teleconsulta, o telediagnóstico, a teleinterconsulta, a telecirurgia, a teletriagem ou teleorientação e o telemonitoramento e por aí vai.  Todas com um objetivo em comum: ampliar a assistência médica de qualidade.

Ou seja, ela atua como um facilitador, dando maior acesso e resolutividade aos cuidados à saúde e, cada vez mais, auxiliando na resolução de desigualdades geográficas e sociais nas questões de saúde, contribuindo na organização dos sistemas de saúde e trazendo maior eficácia e eficiência. Fora o papel que ela vem desempenhando durante esse período crítico de pandemia que temos vivido. Ela vem se demonstrando extremamente útil, seja para o diagnóstico e tratamento de pessoas com a Covid-19, ou para as que têm, por exemplo, doenças crônicas que precisam de cuidados, mas que devem manter o distanciamento social.  A telemedicina tem sido, também, de muita valia para a atenção primária à saúde.

E exatamente por essa mesma relevância e gama de possibilidades que a telemedicina não pode ser vista apenas como uma oportunidade de esclarecer uma dúvida, bater um papo informal com o médico, pegar uma opinião. Ela deve ser praticada de maneira responsável, ou seja, com segurança, ética e qualidade. É preciso obter as informações necessárias sobre os problemas do paciente e realizar exame físico dentro do que for factível ser feito de forma virtual. Enfim, seguir o mais próximo possível ao que é feito em uma consulta presencial. Se o médico entender, por exemplo, que aspectos importantes do exame físico não podem ser obtidos, ele irá indicar a necessidade de um atendimento presencial.

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Outro ponto que tem sido bastante discutido refere-se à remuneração médica por teleconsulta. Muitos médicos acabam abrindo mão dos honorários e, em algumas situações, são os pacientes que acham que não devem remunerar o médico pela teleconsulta. O que não faz sentido já que a consulta via telemedicina traz a mesma responsabilidade profissional, emprega o mesmo conhecimento e até mais recursos avançados que presencial. Pode ser considerado, em determinadas circunstâncias, um processo até mais trabalhoso, pelo nível de atenção e precaução exigidos. Claro, que os valores devem ser discutidos, mas até mesmo para que esta modalidade ganhe a notoriedade que ele merece, deve ser remunerada de forma justa, tanto para os médicos como para as operadoras de saúde.

É claro que existe um paradoxo. Na consulta presencial, o médico está mais próximo fisicamente, porém, graças à tecnologia os pacientes podem ter acesso mais frequente e mais ágil aos médicos. Isto permite uma continuidade do cuidado mais eficiente, com resultados positivos no controle dos problemas de saúde.

É importante que o médico utilize plataformas avançadas de telemedicina, que são bem diferentes das soluções de aplicativos de comunicação criadas para outros fins. Câmeras de elevada precisão, especialmente desenvolvidas para essa funcionalidade, permitem até exames mais complexos à distância. Além disso, podem ser utilizadas soluções de suporte à decisão clínica, prontuários e prescrição eletrônica. A inteligência artificial com seus algoritmos que permitem inclusive agir de forma preditiva e na solicitação de exames, agilizam o fluxo de trabalho, fora uma série de outros avanços que surgem todos os dias.  Entretanto, nenhuma destas tecnologias irá substituir o profissional de saúde e, se, ao final, o médico avaliar que os recursos tecnológicos disponíveis não tenham sido resolutivos, ele solicitará uma consulta presencial.

Por conta de todas essas questões, é fundamental que tenhamos uma legislação que, de forma definitiva, permita a prática destes cuidados por teleconsulta com responsabilidade e qualidade. Sem impedir a autonomia do médico e do paciente em decidir que mesmo uma primeira consulta possa ser feita de forma virtual. O próprio Código de Ética Médica reforça a autonomia do profissional em decidir o que é melhor para um determinado paciente, em determinadas circunstâncias. A regulamentação deverá preservar a integridade e o sigilo dos dados, seguindo a Lei Geral de Proteção de Dados, pois todas as informações em saúde são sensíveis. Garantir a qualidade da informação, a segurança, o sigilo, a privacidade e a responsabilização pelo resultado adverso são pontos essenciais. Especialmente para tranquilizar ainda mais os pacientes sobre os benefícios dessa modalidade e derrubar todos os mitos que ainda possam existir, reafirmando o seu papel complementar ao modo clássico de fazer medicina.

Mesmo porque, ao final, o que todos queremos é dar mais acesso e melhorar a qualidade da assistência à saúde e a telemedicina é um grande ator nesse processo.

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*Jefferson Fernandes, presidente do Conselho Científico do Global Summit Telemedicine & Digital Health

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