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Telemedicina, a nova e inevitável fronteira

Por Renato Velloso
Atualização:
Renato Velloso. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Há mais de uma década especialistas no Brasil e no exterior falam sobre os benefícios da telemedicina. Mas foi preciso uma pandemia global com proporções imprevisíveis, para que finalmente o uso desse modelo de atendimento médico entrasse pra valer no radar das autoridades. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump anunciou que todos os participantes do programa de saúde Medicare, que abrange cerca de 60 milhões de pessoas com idade acima de 65 anos de idade e jovens que se qualificam por algum tipo de incapacidade, passaram a ter cobertura de consultas médicas virtuais (até então apenas moradores de áreas rurais, com dificuldade de acesso a consultas presenciais, tinham acesso a essa modalidade). No Brasil, o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu publicamente esta semana o uso de telemedicina no combate ao vírus. Ontem, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou em caráter excepcional o uso da telemedicina enquanto durar a pandemia de covid-19. Já não era sem tempo.

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A telemedicina é uma inovação poderosa, com potencial para contribuir enormemente para a saúde, trazendo benefícios para todos os participantes da cadeia. Todo o arcabouço para que ela seja utilizada já está disponível: tecnologia, acesso à internet, prontuários e protocolos específicos para essa modalidade de atendimento, leis para proteger a privacidade do paciente (a LGPD terá enorme papel nesse sentido). Precisamos aplicá-la imediatamente para encurtar as distâncias do atendimento médico e garantir ACESSO à saúde de qualidade, rápida e segura.

Apenas para analisarmos seu impacto na atual pandemia global, imagine a situação de uma pessoa idosa que apresente sintomas de gripe. Sem saber se é uma influenza comum ou um caso de covid-19, esse paciente se desloca até um hospital ou pronto-socorro, contrariando todas as orientações médicas básicas nessa situação: vai para as ruas, interage com outras pessoas e se expõe em lugares onde há livre circulação de todo tipo de vírus e bactérias. Com sorte, o paciente descobre que tem apenas uma gripe comum e volta para casa. Ou seja, se expôs a um risco totalmente desnecessário e ainda sobrecarregou a capacidade de atendimento do hospital ou pronto-socorro a que recorreu. Caso tivesse feito um atendimento à distância, precisaria apenas de um celular ou computador para ter uma orientação médica. Tudo isso sem sair de casa.

O uso da telemedicina é fundamental não apenas no curto prazo, para proteger os pacientes mais vulneráveis na crise covid-19 (ao mesmo tempo em que garante que eles possam continuar seus tratamentos habituais) e liberar espaço nos hospitais para atendimento de pacientes graves, mas também no longo prazo, para um país como o Brasil, que envelhece rapidamente e não dispõe de recursos suficientes para atender a demanda de toda população.

Um levantamento da Organização Mundial da Saúde mostra que quatro em cada cinco países em desenvolvimento hoje tem pelo menos um programa de atendimento virtual para oferecer serviços médicos a população. Está claro que esse é um caminho sem volta.

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Embora alguns especialistas tenham expressado preocupação de que as visitas em vídeo sejam impessoais em comparação com as visitas tradicionais, as evidências sugerem que os pacientes podem se sentir mais à vontade com as visitas em vídeo quando realizadas no conforto de suas próprias casas. Um estudo feito por pesquisadores da universidade Thomas Jefferson, na Pensilvânia, demonstrou que não só os pacientes analisados estavam satisfeitos com a consulta virtual, como alguns deles preferiram o atendimento por vídeo.

No Brasil, em que tempo e custo de deslocamento muitas vezes inviabilizam o acesso à saúde, e onde o tempo de espera em consultórios e hospitais pode ser muito longo, a comodidade e flexibilidade da telemedicina precisam ser levadas em consideração. As autoridades deram agora o primeiro passo para a disseminação da telemedicina ao liberar seu funcionamento durante a pandemia. Mas esse é um caminho sem volta. É preciso liberar seu uso, com responsabilidade e regulamentação, de forma muito mais ampla.

O valor da telemedicina para os pacientes é simples: economia de tempo e dinheiro sem comprometer a qualidade do atendimento. É levar saúde a todos os cantos do país com qualidade e rapidez.

Acredito que a consulta virtual passará a ser tão frequente que não será mais a primeira etapa no processo, mas apenas a terceira ou quarta etapa no processo de diagnóstico e tratamento.

*Renato Velloso é CEO da rede de centros médicos dr.consulta

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