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Sócio de empreiteira admite pagamento de propina para partidos

Dário de Queiroz Galvão disse ter tomado conhecimento só em 2014 de valores que executivo do grupo deu a doleiro em esquema de corrupção na Petrobrás; ouvido na sequência por juiz da Lava Jato, ex-diretor contradiz patrão e sustenta que ele sabia de tudo, desde 2010, mas fala em 'extorsão'

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Por Redação
Atualização:

Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Fausto Macedo, Julia Affonso e Mateus Coutinho

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O empresário Dário de Queiroz Galvão Filho, um dos donos do grupo Galvão Engenharia, entrou em contradição ao depor à Justiça Federal, na tarde de ontem, em Curitiba, em processo em que é acusado de corrupção no esquema de cartel na Petrobrás desbaratado pela Operação Lava Jato.

Na mesma audiência em que tomou conhecimento que seria libertado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Dário Galvão admitiu que houve pagamento de propina - um total de R$ 4 milhões - pela empreiteira, entre 2008 e 2011, para partidos políticos por intermédio do doleiro Alberto Youssef - alvo central da Operação Lava Jato. Os pagamentos foram tratados como extorsão, por parte dos envolvidos.

Dário Galvão foi preso no dia 27 de março acusado de ser o mandante do pagamento de propinas na Petrobrás, para que a empreiteira não fosse prejudicada nos contratos. O operador do esquema, o consultor e lobista Shinko Nakandakari afirmou em delação premiada que eram dois executivos do grupo que tratavam com ele das propinas. Mas garantiu que o empresário tinha conhecimento de tudo. Entregou troca de e-mails em que seria tratado valores da corrupção em que Dário aparece como um dos destinatários.

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Ouvido pelo juiz federal Sérgio Moro - que conduz os processos da Lava Jato -, na ação penal em que ele e outros três executivos da empreiteira são réus, Dário Galvão admitiu pela primeira vez "pagamentos pontuais" de propina.

Afirmou, porém, ter tomado conhecimento do fato apenas em 2014, após o nome da empreiteira aparecer na Lava Jato, como uma das que pagava valores a empresa fantasma do doleiro Alberto Youssef - a MO Consultoria. Entrando em contradição com o executivo do grupo Erton Medeiros da Fonseca. Era ele quem pagava as propinas e apontou que os pagamentos eram de conhecimentos do sócio desde a época dos fatos.

"Eu não acredito que tenha acontecido doutor. Não é do meu conhecimento e pelos depoimentos do senhor Erton o que houve foram alguns pagamentos pontuais por solicitação de alguns partidos políticos, até onde eu sei", afirmou o empresário ao ser questionado pelo juiz se ele conhecia o cartel que pagava propina e fatiava obras.

Moro quis saber mais detalhes sobre o conhecimento que ele tinha sobre o pagamentos feitos pela Galvão, na época.

"Fiquei sabendo pela imprensa ogo que as investigações começaram apareceu o nome Galvão Engenharia e MO e aí sim eu e o Erton tivemos conversas e decidimos por diligências internas pelo nosso comitê de risco", explicou. As diligências teriam começado antes da prisão de Erton Medeiros da Fonseca, outro executivo da empreiteira réu da Lava Jato - ele estava detido desde novembro e foi libertado na semana passada, também por decisão do STF.

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Partidos políticos. "Ele (Erton) falou que foi solicitado para pagar ao senhor Alberto Youssef e MO recursos que deveriam ser repassados para partidos políticos", afirmou o empresário em seu depoimento.

"Qual o motivo?", quis saber o juiz da Lava Jato.

"Pelo o que ele me dizia era uma coisa como se fosse regra geral, e não vinculado a nenhum contrato. Essa foi a informação que el me passou, mas foram pagamentos pontuais."

Segundo Galvão Filho, os pagamentos foram iniciativa de Erton. "Ele admitiu que pagou por exigência dos partidos políticos, que não é obrigatoriamente, na minha avaliação, um modo errado da parte dele."

Em decisão em que determinou sua prisão preventiva, Moro registrou que o empresário agia como "o efetivo mandante" do pagamento de propinas no esquema de corrupção montado na Petrobrás. "Há provas de prática dos crimes por prolongados períodos, que se estende, pelo menos, de 2008 a 2014?, assinalou o juiz.

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Dário Galvão sustentou por mais de uma vez que tomou conhecimento dos pagamentos de propina somente após o nome da Galvão ser citado na Lava Jato, quando foi iniciado um trabalho interno dentro do comitê de risco do grupo.

Ouvido depois por Moro, Erton confirmou os pagamentos pontuais ao doleiro, mas negou a versão de que o sócio da empreiteira só tomou conhecimento do fato em 2014. Moro quis saber se em 2010 Dário estava em reunião em 2010 em que ele relatou a cobrança de propina ao grupo, tratada por eles como "extorsão" por parte do doleiro Alberto Youssef.

"Por que o senhor não citou que o senhor Dário Galvão sabia disso lá atrás", perguntou Moro.

"Posso ter me esquecido", respondeu Erton. Mas ele participou da reunião: "Ele participou da reunião".

Erton foi preso em 14 de novembro de 2014 e solto na semana passada após decisão do STF de relaxar as prisões preventivas da Lava Jato envolvendo executivos das maiores empreiteuras do País.

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Calado. O empresário afirmou que conheceu o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque - preso pela Lava Jato - e seu então braço direito Pedro Barusco, que era gerente de Engenharia e virou delator da Lava Jato.

O dono da Galvão requereu o direito constitucional de permanecer em silência ao ser perguntado em relação ao delator Shinko Nakandakari e também a todo esquema envolvendo propina na Diretoria de Serviços - que seria um dos braços no PT no esquema.

Dário afirmou não ter conhecido nem Youssef, nem o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa nem o ex-deputado José Janene (PP-PR) - morto em 2010. Questionado pelo procurador Paulo Roberto Galvão sobre suposto pagamento feito para uma empresa do ex-parlamentar, a CSA Finance Projetc, ele usou o direito de permanecer calado.

 

Choro. O empresário Dário Galvão, que estava preso desde 24 de março preventivamente, tomou conhecimento de que sairia da prisão por determinação do STF durante a audiência. Ao ser comunicado pela advogada que o defende diante do juiz Sérgio Moro, ele chorou.

"A defesa não tem mais perguntar, mas eu gostaria de dar uma infiormação para o meu cliente, nos entramos com habeas corpus perante o Supremo Tribunal Federal pedindo a revogação da prisão preventiva e a liminar acabou de ser deferida. Foi concedida a liberdade do meu cliente condicionada às medidas cautelares diversas", comunicou.

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Moro afirmou que assim que fosse comunicada a decisão, a ordem seria cumprida e ofereceu ao réu a oportunidade de dizer algo antes do término da audiência.

"Gostaria de dizer que essa situação toda me choca muito, nunca me envolvi em nenhnum ato ilítico", afirmou Dário Galvão. "Não vejo motivo para ficar recolhido no CMP (Centro Médico Penal, em Curitiba) que eu estou agora. Estou super constrangido com essa situação toda."

Ao decretar a prisão preventiva do empresário, em março, Moro registrou que diante das provas do processo a medida era necessária diante do "risco à ordem pública e para prevenir habitualidade e reiteração criminosa".

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