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Setembro Amarelo: a importância da discussão sobre saúde mental dos atletas no futebol

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Por Marcelo Segurado
Atualização:
Marcelo Segurado. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Independente da área, a saúde mental é tão importante de ser promovida, monitorada e tratada quanto a saúde física. A exemplo do futebol, sabemos que atletas e treinadores precisam estar fortalecidos mentalmente e, acima de tudo, com o bem-estar preservado para conseguirem desempenhar suas funções, alcançar um bom resultado nas competições e manter um ambiente esportivo saudável.

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Infelizmente a ansiedade e depressão são doenças psiquiátricas recorrentes no esporte. Uma pesquisa do sindicato mundial de jogadores (Fifpro), publicada no ano passado, que contou com a participação de 1.600 jogadores de futebol, mostrou que "22% das mulheres e 13% dos homens apresentaram sintomas compatíveis com o diagnóstico de depressão".

O período da pandemia também trouxe diferentes restrições e privações aos atletas, que podem ter desencadeado efeitos negativos, como sintomas de estresse, ansiedade e depressão. Por um outro lado, para alguns clubes pode ter sido um marco a respeito da valorização e importância do departamento psicossocial.

No futebol, a relação que o dirigente constrói com os jogadores costuma ser muito próxima, devido a convivência nas concentrações, treinamentos, viagens, jogos e até mesmo no vestiário. Você passa a entender cada atleta, e compreende que cada um tem um perfil e comportamento específico, que são indivíduos de características próprias.

Em um grupo de 40 pessoas, com jogadores e comissão técnica, é necessário normas e condutas coletivas, mas tratamentos individualizados também são fundamentais. Lidando dessa maneira, é mais fácil perceber quando um determinado atleta começa a manifestar um tipo de comportamento diferente daquilo que ele está acostumado a fazer.

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Quando isso acontece, um fator importante nesta situação é conquistar a confiança do jogador para fazer uma abordagem do que pode estar acontecendo. Depois de uma aproximação e diálogo, a chance do próprio atleta conseguir desabafar é maior e, a partir daí, entra o papel do clube, departamento médico e principalmente da gerência, em dar todo apoio e suporte que esse sujeito precisa.

No caso do esporte, a importância da figura do psicólogo atualmente, em função das cobranças serem cada vez maiores, é tão grande quanto a de um preparador físico, nutricionista ou até mesmo de um médico. É cada vez mais fundamental a presença desse profissional no dia a dia dos atletas, principalmente os da base. No futebol, a pressão em cima desses jovens é grande desde cedo e por isso o acompanhamento psicológico se faz tão necessário.

A paciência para que o atleta atinja o amadurecimento pleno me parece cada vez menor. O clube tem a obrigação de prepará-lo para lidar com as glórias e, principalmente, as frustrações, que costumam ser mais complicadas de encarar. Para que isso aconteça, o trabalho do psicólogo dentro de um clube é fundamental.

O jogador de futebol é um cidadão da sociedade como qualquer outro. Não há nenhuma distinção nisso. Há certos tabus que precisam ser desconstruídos. Questões que vão além do campo e da bola precisam ser discutidas com os atletas desde a formação. Nos dias de hoje, em que as redes sociais se tornam cada vez mais duras e eloquentes, todos estão sujeitos a serem julgados em fração de segundos e isso é uma outra problemática preocupante e que atinge diretamente essa nova geração que está se formando.

É evidente que a campanha do Setembro Amarelo, que dedica o mês a visibilidade e prevenção ao suicídio, tem sua relevância. Mas não basta lembrarmos disso apenas neste mês, é preciso estender e ampliar o debate para que possamos, também no esporte, mudar a vida das pessoas.

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*Marcelo Segurado, executivo de futebol, com formação em Sociologia e Geografia

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