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Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Sem direito haverá trabalho?

Por José Alberto Couto Maciel
Atualização:
José Alberto Couto Maciel. FOTOS: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Cansei de ouvir essa bobagem dos radicais que só pensam na economia.

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Chega de escutar o ministro da Economia, Paulo Guedes, defender a flexibilização da legislação trabalhista para atender a população de vulneráveis identificada durante a pandemia.

Não dá mais para aguentar esses economistas que declaram que temos de ter uma legislação para reconhecer a população de desempregados, como a carteira verde e amarela, onde predomina a inexistência de direitos, mas há viabilidade de trabalho.

Talvez esteja no momento de chamar a Princesa Isabel para assinar a Lei Áurea novamente porque os empresários estão descontentes de ter de pagar direitos trabalhistas e, como disse o ministro nesta terça-feira, 8 de dezembro de 2020, em palestra reproduzida pela Folha de São Paulo,

"Vamos continuar ignorando essa legião de brasileiros ou temos de alguma forma, em alguma legislação, que reconhecê-los.

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Temos de reconhecer o direito à existência desses brasileiros. Eles não conseguiriam sobreviver com o quadro de legislação existente. Foram excluídos, então não vamos tirar direito de ninguém. Como a gente cuida deles? Será que não precisamos de um regime extraordinário?"

Meu Deus do céu, será que alguém pode entender como o ministro que a culpa do aumento de desemprego não é da pandemia, mas dos bárbaros direitos que ganham em decorrência da CLT e dos Tribunais, o que, aliás, tem acontecido em quase todos os países?

Seguindo essa orientação fantástica desses brilhantes economistas, não seria melhor que o COVID pegasse nesses desempregados e então não precisaria mais o governo se incomodar com essa camada "de gente que atrapalha o sistema econômico nacional"?

Vejam, os trabalhadores não ganharam seus direitos porque o Governo resolveu a eles conceder. Isso foi uma vitória conquistada por gerações e não vou, nessas breves considerações, levantar o histórico do direito do trabalho porque todos nós conhecemos. E sabemos, também, que a economia tem como objetivo o social e não ao contrário, pois basta que se leia o artigo 1º da Constituição Cidadã.

Apenas para lembrar, Getúlio Vargas, Café Filho, Juscelino Kubitscheck, Jânio Quadros, João Goulart, Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo, Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma, NENHUM PRESIDENTE imaginou excluir direitos trabalhistas para corrigir erros econômicos.

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Isso aconteceu, antes de haver direitos trabalhistas, mas com os homens que trabalhavam no campo, na antiguidade, na idade média. E só para relembrar, porque a história é cíclica, o resultado em 1789 foi a revolução francesa e a famosa guilhotina.

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Existem milhares de empresários endividados com o Governo, mas que não pagam os impostos devidos. Todos conhecemos os altos salários, muito acima do teto, recebidos pela Corte, o que lembra mesmo o tempo de Versalhes. Todos sabem que a previdência social, que é concedida como se fosse um benefício governamental, é pagamento decorrente da vida inteira do trabalhador que recolhe mensalmente para ter uma pretensa vida melhor na aposentadoria, e, portanto, não se trata de verba governamental.

Qualquer um sabe, e basta ler no contracheque, que o que onera a folha de pagamento das empresas não são os direitos trabalhistas, mas as cobranças fiscais exigidas.

É evidente que se existem milhares de ações na Justiça do Trabalho e não é por culpa dos trabalhadores, mas sim porque decorrem de direitos não pagos.

Reclama o ministro da Economia também da Justiça que tem gerado um passivo explosivo com relação a precatórios (dívidas reconhecidas pelo poder público na Justiça). Esquece, porém, que tais dívidas não são decorrentes dos credores, porque devedor é o Estado que reclama das mesmas, como se coubesse ao mau pagador reclamar de quem lhe é credor.

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Creio que está chegando o natal, estão chegando as vacinas, está chegando o momento em que Jesus, que nasceu para nos salvar, salve esse mundo dessa imundice que o homem causa ao meio ambiente e limpe a mente daqueles que entendem que progredir é reduzir os salários, aumentando o número de empregos, como se isso fosse uma extraordinária e nova concepção do direito e da evolução social.

*José Alberto Couto Maciel, da Academia Brasileira de Direito do Trabalho

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