Na semana passada, atingimos os 37 graus na cidade de São Paulo. Até as 22h da noite da última sexta-feira (2/10), ainda batíamos a casa dos 30 graus. No início deste ano, dezenas de áreas da cidade ficaram embaixo d'água. Estamos vendo períodos de secas cada vez mais intensos -- em 2014, o Sistema da Cantareira quase secou. E a poluição no ar de São Paulo está matando mais de 5 mil pessoas por ano.
Os efeitos da crise climática têm se tornado cada vez mais presente e, se não revermos o estilo de vida das grandes cidades como a nossa São Paulo, a situação tende a piorar.
Já tivemos avanços importantes partindo da Câmara Municipal: preservamos áreas verdes, como o Parque Augusta e o Parque Vila Ema, garantimos que a água utilizada na limpeza da cidade seja proveniente de reuso e, em 2009, aprovamos a Lei nº 14.933/2009, que instituiu a Política de Mudança do Clima na capital, pioneira no país.
Entre os pontos relevantes dessa legislação estão a adaptação aos efeitos da mudança do clima, um transporte público mais eficiente e limpo e incentivo às energias renováveis descentralizadas. Um Comitê Executivo também foi criado para acompanhar e fiscalizar o cumprimento das normas ambientais.
No entanto, a trajetória de sucesso foi descontinuada pelo Poder Executivo a partir de 2012. Apesar dos nossos esforços, não houve mais avanço no cumprimento da lei e, em 2013, o Comitê Executivo parou de se reunir. A cidade de São Paulo tomou, então, a direção contrária no combate aos problemas ambientais.
Mas nós não paramos. Seguimos lutando dentro e fora da Câmara dos Vereadores: na sociedade civil, trabalhamos diretamente com a capacitação de governos, participando de audiências públicas e pressionando representantes. Dentro do legislativo, entre outras ações, protocolamos um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o atraso no cumprimento dessa legislação.
Mas precisamos de outras mãos. Se queremos construir um futuro diferente para a nossa cidade, temos de unir esforços. Precisamos que a nova geração se envolva e lute também pelo futuro que nos aguarda. Precisamos passar o conhecimento adquirido e combinar nossas experiências com coragem para imaginar um caminho diferente que não é só possível: é urgente.
Ou a temperatura na cidade continuará a subir, os índices de poluição poderão piorar e as enchentes e secas serão cada vez mais severas.
Precisamos fazer algo. Precisamos fazer mais.
*Gilberto Natalini é autor do livro Por uma São Paulo Mais Sustentável e vereador no quinto mandato, com mais de 91 leis aprovadas, diversas relacionadas ao meio ambiente
*Flávia Bellaguarda é ativista climática e advogada. Atuou como assessora de Mudança do Clima no ICLEI América do Sul. Mestre em Desenvolvimento Internacional em Sustentabilidade e Política pela Universidade de Birmingham e candidata pela primeira vez a vereador