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São as águas de março

Por Samanta Lopes
Atualização:

Samanta Lopes. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Dia 8 de março está chegando! E precisa ser lembrado como marco reconhecido pela ONU desde 1975, no combate à desigualdade de gênero, mesmo que em 46 anos, haja poucos avanços significativos para comemorar. Hoje, muitos países possuem mulheres em cargos no executivo, legislativo e judiciário, nos quais conseguem mudar a realidade de seus cidadãos, com autonomia verdadeira, e aqui cabe destacar que a maioria dos países mais efetivos no combate a pandemia do Covid-19, realizaram ações orquestradas por mulheres, assim como as comunidades nas regiões periféricas do Brasil.

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Tom compôs "Águas de Março" em 1972, quando estava em uma fase depressiva, Elis trouxe seu jeito jocoso para a execução, e o dueto entre ambos levou a música a disparar nas paradas. Até hoje ela é uma das mais executadas da discografia brasileira, inclusive com versão para o inglês, o que recuperou o ânimo do compositor por um bom tempo. E por que trazer esta música para falar de Diversidade e Inclusão no mundo corporativo?

Os versos da canção falam de vida e morte, de pequenos detalhes que compõem o cotidiano de Tom em um mergulho profundo, onde ele busca alento em coisas simples do cotidiano, pequenas alegrias, e a meu ver, um reflexo do que temos vivido nos últimos meses: as pessoas, que são a matéria prima das empresas, estão mergulhadas em um certo marasmo, isoladas, desanimadas e cansadas, buscamos conforto no simples e próximo.

"É o fundo do poço, é o fim do caminho

No rosto um desgosto, é um pouco sozinho"

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O processo de digitalização nos negócios, mudou a forma de entregarmos nossas obrigações às empresas, os formatos de interação mudaram, e a carga horária para quem atua com digital aumentou.

Vivíamos em um mundo sensorial, os sentidos eram bombardeados o tempo todo. A experiência do cliente era pensada para tirar seu fôlego, fazê-lo sentir algo único ou deixá-lo sem palavras, torná-lo fiel pela experiência em sua jornada de usuário. Hoje, as ações focam em cliques no carrinho e na audiência, em garantir sua permanência em um site ou programa, e a prioridade de atingir as métricas de vendas online é sinônimo de sobrevivência. Economiza-se em recursos presenciais, nada de lajes gigantes, escritórios imensos e caros, estacionamentos e outros serviços vinculados foram entendidos como gastos supérfluos, e os recursos tecnológicos se tornaram foco de aprimoramento constante, a tela tornou o surpreender mais difícil.

Tudo isso nos leva ao foco deste artigo: e as mulheres nesse ambiente de tecnologias emergentes?

Quantas possuíam equipamentos e infraestrutura em suas casas, conhecimentos técnicos e estrutura de apoio para suas outras atividades enquanto mães e cuidadoras? Um dos maiores índices de evasão das pesquisas entre Mestrandos e Doutorandos aconteceu entre as mulheres, principalmente porque se tornaram cuidadoras das pessoas mais velhas, e por não terem com quem deixar as crianças (1). As creches e escolas particulares retomaram as atividades, mas nas regiões periféricas às que começaram a atender, atuam em rodízio e outras adotaram a greve.

Um estudo de 2019(3), chamado "ILO Monitor: COVID-19 and the world of work.", do Instituto Internacional de Trabalho (ILO), mostra que entre as 100 maiores empresas da América Latina, o número de mulheres em cargos executivos de alta liderança se reduziram: hoje chegamos a 7,3% frente aos quase 12% que foram atingidos em 2018.

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"Colocar mulheres no topo das empresas não é só uma questão de nomear pessoas, há todo um ecossistema por trás disso. Além de educá-las, é preciso garantir que elas vão ser promovidas nas empresas e fazer as conexões necessárias para chegar lá", disse à BBC News Meggin Eastman, diretora executiva da divisão de pesquisa da MSCI.(3) - GlobeWomen - Corporate Women Directors International (CWDI).

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Adoro receber flores e presentes, creio que muitas mulheres também apreciam, mas temos de mudar as prioridades das ações que praticamos nas empresas, e não apenas no mês de março. É preciso incluir proposições reais de combate à disparidade de gênero na pauta do planejamento anual com metas claras, desde a captação ao desenvolvimento de carreiras para mulheres. Ao invés de presentes, prefira ações como cursos, equipamentos e apoio para bolsas de estudos e aprimoramento com mentorias. De minha parte, prefiro ser respeitada e receber a remuneração pelas horas de trabalho que exerço com valores dignos e compatíveis aos de qualquer outro profissional em função similar.

Enquanto formos as primeiras a serem demitidas quando acontecem crises porque acreditam que não damos conta das jornadas que se expandem, ignorando às várias noites mal dormidas cuidando de outras pessoas, amamentando entre outras ações, ou estudando para provas porque temos durante o dia várias outras ocupações, continuarão nos negando oportunidades. Enquanto acreditarem que não somos capazes de gerir todos os ambientes onde escolhemos estar, continuaremos vitimadas da baixa mobilidade social, sem direito à inclusão, sem respeito por nossas diversidades, sem poder ocupar os lugares onde mais fazemos sentido: nos cargos onde as decisões mudam o mundo.

Mulheres são potências e precisam de oportunidades para mostrar. Parem de escolher por nós e abram espaço para passarmos! #agentefaz

*Samanta Lopes é coordenadora MDI da um.a #DiversidadeCriativa

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(1)    Pandemia deixa mais da metade das mulheres fora do mercado de trabalho- Fev/2021. Disponível em: https://folha.com/043em6pb >.

(2)   PNAD Contínua trimestral: desocupação cresce em 11 UFs no 2º trimestre de 2020, com quedas no Pará e Amapá. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/28699-pnad-continua-trimestral-desocupacao-cresce-em-11-ufs-no-2-trimestre-de-2020-com-quedas-no-para-e-amapa#:~:text=Mulheres%20e%20pretos%20t%C3%AAm%20as%20maiores%20taxas%20de%20desocupa%C3%A7%C3%A3o&text=No%202%C2%BA%20trimestre%20de%202020%2C%20a%20taxa%20foi%20estimada%20em,rela%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20taxa%20m%C3%A9dia%20total.

(3)   ILO Monitor: COVID-19 and the world of work. Fourth edition. Disponível em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---dcomm/documents/briefingnote/wcms_745963.pdf >.

(4)  Dia Internacional da Mulher: 6 gráficos que mostram como as mulheres avançaram (ou não) na América Latina/032019 - Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47490977 >.

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