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Rumos da CPI

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Por Marcio Coimbra
Atualização:
Fachada do Congresso Nacional. FOTO: WILSON DIAS/AG. BRASIL Foto: Estadão

Jair Bolsonaro já tem uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para chamar de sua. Desde a redemocratização, todos os governos passaram por escrutínios no Congresso Nacional. Não será a primeira, nem a última vez. Enquanto isso, a velha máxima da política de Brasília segue assombrando o Planalto: Todos sabem como uma CPI começa, mas nunca como termina. Resta saber como a base bolsonarista irá se comportar. Até aqui, não faltaram erros.

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O presidente é um político intuitivo, porém pouco estratégico. Isto ficou claro na falta de articulação dentro do Congresso Nacional em seus anos no Planalto. Uma agenda econômica que nunca decolou, reformas que nunca saíram e derrotas sucessivas em outras votações marcaram o estilo errático de Bolsonaro. Vemos a mesma trilha se repetir no começo da CPI que irá investigar os erros na condução da pandemia.

Os riscos são grandes, uma vez que, sem uma base uma sólida no parlamento, Bolsonaro pode ser tragado pela falta de uma tropa de choque habilidosa e experiente. Desde o princípio, os problemas se acumularam, desde a ausência de articuladores para evitar a instalação da comissão, passando pelo vazamento de documentos com a estratégia a ser adotada pelo Planalto e chegando ao pedido de liminar trapalhão que visava evitar a escolha de um parlamentar opositor para o cargo de relator. Tudo errado.

Bolsonaro precisará trabalhar muito para evitar o pior, especialmente por este ser um governante semeador de desafetos, alguém que carrega a marca da ingratidão, especialista em tornar aliados em inimigos, uma prática que pode se tornar caminho perigoso durante investigações sensíveis. O leque de averiguações é enorme. Indicação do uso de cloroquina como tratamento precoce, as onze oportunidades perdidas e documentadas de compra de vacinas para a população brasileira e um rosário de denúncias que devem ainda aterrizar nas mesas dos parlamentares.

Enquanto isso, 116 pedidos de impeachment se acumulam nos escaninhos da Câmara dos Deputados. Apenas nos quatro primeiros meses deste ano foram 57. A pressão está crescendo e Bolsonaro pode ser tragado pela soma de acontecimentos nesta pandemia e falta de blindagem política real em sua defesa. Com a economia em descompasso, é aquilo que se chama de tempestade perfeita. Um acontecimento que já foi responsável por ceifar mandatos presidenciais na história recente.

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A sorte de Bolsonaro é seu mandato estar no fim e um impeachment neste momento não interessar à oposição, tampouco os postulantes ao cargo presidencial no próximo ano. O presidente cai somente se houver um fato arrebatador. Ainda assim, impeachment é um processo demorado que leva no mínimo seis meses. Do contrário, a tendência é seguir sangrando com as investigações, seus desdobramentos, falta de vacinas, mortes e economia em desacerto. Chegaria perigosamente avariado para disputar em 2022.

Os rumos da CPI são incertos, mas os elementos, listados pelo próprio governo, são contundentes e documentados. É difícil enxergar vida fácil para o Planalto nestas investigações. Segundo aquela máxima, todos sabem como uma CPI começa, mas nunca como termina. Neste caso temos uma certeza: não termina bem para Bolsonaro.

*Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, cientista político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-diretor da Apex-Brasil. Diretor executivo do Interlegis no Senado Federal

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