Beatriz Bulla, Gustavo Aguiar e Fausto Macedo
21 de dezembro de 2015 | 14h05
O presidente do PT Rui Falcão encontrou uma explicação para a série de acusações que envolvem seu partido no esquema de propinas instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014. Segundo ele, ”setores da mídia monopolizada e parte do aparelho do Estado capturado pela Direita’ tentam ‘criminalizar’ o PT. Rui Falcão fez esta afirmação em depoimento à Polícia Federal no dia 8 de dezembro, em Brasília. A PF o indagou se gostaria de nomear os ‘setores da mídia monopolizada e parte do aparelho do Estado capturado pela Direita’, mas o presidente do partido esquivou-se e ‘preferiu não menciona-los’.
Ao delegado da PF Josélio Azevedo de Sousa, o presidente do PT anotou que ‘os objetivos destes segmentos seriam proscrever o Partido e desestabilizar o Governo da Presidenta Dilma’.
Rui Falcão depôs no inquérito instaurado pela PF para investigar o “processo sistêmico de distribuição de recursos ilícitos a agentes públicos, notadamente com a utilização de agremiações partidárias, em especial o PT, o PMDB e o PP”. Segundo o inquérito, esses partidos ‘indicaram e mantiveram, mediante apoio político, ocupantes do cargo de diretor em diversas Diretorias da Petrobrás, nas quais se descobriu um grande esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, materializado a partir da solicitação e pagamento de vantagens indevidas incidentes sobre o valor dos contratos celebrados pelas respectivas Diretorias’.
Este inquérito da PF corre sob a guarda do Supremo Tribunal Federal. A investigação mira em políticos com foro privilegiado, deputados e senadores. Neste inquérito também já depôs o ex-presidente Lula, não como investigado, mas na condição de informante. Mesma situação de Rui Falcão.
Em um trecho de seu relato, divulgado pelo Estado na sexta-feira, 18, o presidente do PT disse que as empreiteiras OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Correa e UTC são as maiores doadoras do partido porque a legenda ‘tem um bom projeto para o País’. Todas as empresas são investigadas por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobrás.
Rui Falcão afirmou também que não recorda em que momento o PT procurou as empresas investigadas para obter doações, e reiterou à Polícia Federal que as contas das duas campanhas da presidente Dilma Rousseff foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. Quando afirmou que a razão para tantos réus delatores da Operação Lava Jato apontarem seu partido como como beneficiário da corrupção, ele falou na ‘tentativa de criminalização do partido’.
A PF indagou Falcão a que ele atribui ou justifica a condenação de João Vaccari Neto, quadro histórico e ex-tesoureiro do PT preso desde março na Lava Jato e condenado sob suspeita de arrecadar propinas para o caixa da agremiação. “O depoente afirma que tal condenação não é definitiva, decorre exclusivamente de delações e não está amparada em qualquer prova material.”
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Rui Falcão disse que ‘não tinha conhecimento do esquema de corrupção instituído na Petrobrás’. “Que João Vaccari Neto tinha autorização do partido para solicitar e receber contribuições estritamente dentro dos marcos legais, que portanto se solicitou ou recebeu vantagem indevida não o fez em nome do Partido.”
O presidente do partido informou que o PT ‘paga a defesa judicial de Vaccari’. “O PT arca com os custos desta defesa pelo fato de que João Vaccari continua a ser filiado ao Partido.”
A PF o questionou se ‘todos os membros do PT têm direito à defesa paga pela sigla’. Ele disse: ‘Não. Tem direito ao custeio de suas defesas os ex-dirigentes no exercício de suas atividades partidárias e em decorrência de funções delegadas pelo partido; que acredita que tais previsões não constem do Estatuto do Partido; que o custeio destas despesas são decisões do Diretório Nacional.”
Rui Falcão disse, ainda, que Vaccari não foi expulso da legenda ‘porque não houve transgressão estatutária, visto que a juízo do Partido não há prova de que João Vaccari tenha praticado os crimes a ele atribuídos’.
Ele disse que, em sua opinião, ‘João Vaccari Neto é inocente.’
A PF o questionou sobre empréstimos do partido no Banco Schahin – segundo o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, a instituição financeira emprestou recursos ao PT por meio de ‘laranjas’ para fazer caixa 2. “Que desconhece a realização de empréstimos feitos pelo PT junto ao Banco Schahin”, afirmou Rui Falcão.
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