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Revoltados com 'falta de palavra' de Bolsonaro, delegados da PF pedem cabeça do ministro da Justiça

Reunidos nos dias 2 e 3, os delegados decidiram pedir a renúncia de Anderson Torres, homem de confiança do presidente, e ameaçam paralisações parciais em protesto contra a falta de reestruturação das carreiras policiais federais

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Por Pepita Ortega
Atualização:

O delegado Anderson Torres, atual ministro da Justiça, na posse do superintendente da PF em São Paulo. Foto: Divulgação/Ministério da Justiça

Em meio a um clima de 'revolta e insatisfação' com o governo Jair Bolsonaro, os delegados da Polícia Federal subiram o tom e anunciaram nesta quarta-feira, 4, que vão pedir a renúncia do ministro da Justiça, Anderson Torres, pelo 'desprestígio e desrespeitoso tratamento' do chefe do Executivo para com a corporação. A classe ainda diz que realizará paralisações parciais e progressivas e que os servidores ligados à Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal poderão entregar cargos de chefia e recusar convites para assumir novos postos.

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A indicação se dá após o chefe do Executivo confirmar - como acordado em reunião do governo com o ministro Paulo Guedes - um reajuste linear a todo funcionalismo, sem menção à reestruturação das carreiras policiais da União com aumento de salário acima da inflação.

Ao Estadão, o presidente da ADPF, Luciano Leiro, afirmou que o ministro atuou 'intensamente' para a reestruturação das carreiras. "Ele pediu que confiássemos e isso ocorreu, mesmo sabendo que o presidente da República já havia descumprido sua palavra anteriormente. Isso, sem dúvida, é um desprestígio com o ministro e com a Policia Federal. É preciso que fique claro que não se pode desrespeitar a PF dessa forma. Não há nenhuma outra questão contra o ministro. A verdade é que o presidente se diz defensor da segurança pública, mas o que vimos até agora foi a desvalorização dos policiais federais", afirmou.

Trata-se de um dos capítulos mais delicados e tensos da corporação desde abril de 2020, quando o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, renunciou em meio à crise que teve como pivô o ex-diretor-geral da PF Maurício Valeixo.

As medidas foram aprovadas em Assembleia-Geral Extraordinária realizada nesta segunda e terça-feira, 2 e 3 de maio.

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Na avaliação dos delegados, Bolsonaro decidiu 'não honrar com a própria palavra'. Junto com as demais classes que compõem a PF, os delegados cobravam a 'valorização' da corporação prometida publicamente pelo presidente, em especial a reestruturação das carreiras das Polícias da União.

"É vergonhoso, sobretudo em um governo que se dizia pautar pela segurança pública, o atual estágio a que estão submetidos os policiais, com significativas perdas", registrou a principal entidade da classe em nota.

Nesse contexto, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal voltou a destacar que a segurança pública foi a 'maior' bandeira de campanha de Bolsonaro, reagindo ao fato de o trabalho das polícias da União ser utilizado 'indevidamente' pelo chefe do Executivo como 'instrumento de marketing para a sua reeleição'.

Os delegados dizem que vão insistir no 'cumprimento da palavra empenhada' e dizem esperar que valores como 'ética, palavra e honra' sejam 'compartilhados por todos os integrantes do governo federal'.

Dentro da PF, as últimas semanas têm sido marcadas por mobilizações em torno das cobranças às promessas feitas por Bolsonaro. Na quinta-feira, 28, entidades que representam as diferentes categorias que compõem a corporação organizaram atos em frente às superintendências de vários Estados, com faixas e manifestações de ordem pedindo a 'valorização das forças de segurança federais'.

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Na ocasião, o presidente da ADPF, Luciano Leiro, relatou que a pressão e a tensão dentro da PF aumentavam a cada dia em razão da falta de posicionamento do governo federal quanto a tão desejada reestruturação de carreiras da Polícia.

Em meio à escalada de tensão dentro da corporação, Anderson Torres chegou a se reunir com representantes das polícias da União, no último dia 18, com o intuito de contornar a insatisfação da classe. Na ocasião, o ministro da Justiça chegou a dizer que o reajuste de 5% para todo o funcionalismo ainda não havia sido fechado.

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