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Reunião do G-20 em Osaka enfrentará dificuldades

Por Arnaldo Francisco Cardoso
Atualização:
Arnaldo Francisco Cardoso. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A reunião dos representantes das vinte maiores economias do planeta, marcada para os dias 28 e 29 de junho, na cidade japonesa de Osaka, ocorrerá em contexto mais adverso que o da reunião do ano passado, em Buenos Aires, quando o clima era de incertezas, mas ao final chegou-se a um documento relatando avanços em negociações sobre tratados comerciais, mudanças climáticas, fluxos migratórios e, principalmente, o anúncio de uma trégua de 90 dias na então recente guerra comercial travada entre EUA e China.

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Passado um ano, a guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta não só se agravou como vem provocando sérios desdobramentos sobre a geopolítica mundial.

Neste último ano, a intensificação das relações entre a China e a Rússia tem sido interpretada por diferentes analistas como sinal inequívoco de uma nova configuração de poder no mundo, na qual cada vez mais os EUA se veem isolados.

E as investidas da China não têm se restringido ao espaço asiático.

Em março passado, foi a vez da Itália, quando em visita de Xi Jimping ao país, produziu-se 29 acordos em áreas como energia e infraestrutura, além da assinatura de memorando de entendimento para a entrada da Itália na 'nova Rota da Seda', ambicioso projeto do líder chinês que, através de investimentos em infraestrutura como portos e ferrovias, visa a integração física de 65 países, interconectando Ásia, Europa e África.

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A assinatura do memorando pela Itália governada pelo ultra-direitista Matteo Salvini, admirador de Donald Trump, provocou críticas em Washington e em Bruxelas e explicitou que a força econômica da China, em tempos de minguadas taxas de crescimento econômico e alto endividamento, fala mais alto que simpatias ideológicas.

Como tem sido recorrente em eventos internacionais desde janeiro de 2017, quando pela primeira vez um líder chinês participou do Fórum Econômico Mundial em Davos, Xi Jimping deverá, em Osaka, ocupar o vazio de liderança deixado pelos EUA governado por Trump e pela UE em crise.

A União Europeia, que desde muito vem perdendo protagonismo, se apresentará na reunião de Osaka dividida e com suas lideranças enfraquecidas. O Reino Unido, em meio a uma crise política que levou a queda de sua primeira-ministra, Theresa May, assiste a uma deterioração de seu sistema constitucional no inédito processo de saída do bloco europeu.

A chanceler alemã Angela Merkel, que na última década desempenhou persistente papel de liderança na defesa da unidade do bloco, vê em seu provável último mandato seu legado criticado por diferentes grupos como soberanistas e anti-europeístas de toda Europa, e a França de Macron, em convulsão social, parece incapaz de exercer liderança.

Quanto ao Brasil, se na reunião de Buenos Aires o país representado pelo ex-presidente Michel Temer em final de mandato e com a economia em crise, teve discreta participação, na reunião de Osaka não se pode esperar nada muito melhor, pois sob o novo governo o país tem registrado a piora de indicadores macroeconômicos e sociais, perda de confiança de consumidores e investidores e uma série de ocorrências negativas em seu relacionamento com a comunidade internacional.

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Sobre os outros dois membros latino-americanos, a Argentina vai enfraquecida para a reunião em função da grave crise econômica e social que atravessa sob o governo do liberal Maurício Macri, e o México, em ato de protesto contra o agravamento das desigualdades sociais no mundo, não enviará seu presidente López Obrador ao evento.

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Na reunião cujo anfitrião será o Japão, que pela primeira vez preside o G20, seu primeiro-ministro Shinzo Abe apresentará aos membros do grupo os principais desafios que deve guiá-los, sendo eles a busca pelo crescimento econômico e a redução das desigualdades; a melhora na qualidade das infraestruturas e saúde; a preocupação contínua com as mudanças climáticas e os resíduos plásticos lançados nos oceanos; os avanços da economia digital e os desafios colocados às sociedades quanto ao envelhecimento de suas populações.

Desde a criação do G20, vinte anos atrás, em contexto de seguidas crises financeiras globais, viu-se expandir a compreensão de que tais crises não poderiam ser enfrentadas isoladamente.

Em 2008, diante de nova e mais aguda crise financeira, desta vez no coração do capitalismo global, os líderes do G20 decidiram elevar o nível de articulação e cooperação política e econômica, tornando o G20 o mais importante mecanismo de governança econômica mundial. Nos últimos anos, o agravamento dos problemas tem sido preocupantemente acompanhado da perda de confiança e engajamento nos processos multilaterais de discussão e negociação de propostas para o enfrentamento dos problemas do atual estágio do capitalismo global.

Em vez do aprimoramento dos mecanismos de governança, tem ganhado espaço os discursos isolacionistas e práticas protecionistas alçando grupos nacionalistas e extremistas ao centro da cena política internacional, com resultado de acirramento das tensões e instabilidade mundial.

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Que a reunião de líderes em Osaka possa restaurar o sentido original do G20, de aposta na cooperação e governança internacional e que dê sinais de disposição para o aprimoramento de tais mecanismos, com atenção às demandas globais, mas também às particularidades e necessidades de populações nacionais. Esta parece ser a melhor utopia que nos resta no momento.

*Arnaldo Francisco Cardoso é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Higienópolis e Alphaville. Atua nas áreas de Economia e Comércio Exterior

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