Empossado recentemente em um acordo do governo federal com o Centrão, Nogueira agora atua como interlocutor e fiador do presidente Jair Bolsonaro junto às autoridades dos outros Poderes.
A reunião a portas fechadas foi proposta há duas semanas por Ciro Nogueira. Neste intervalo de tempo, contudo, o Supremo retomou o julgamento contra ele por suspeita de integrar uma organização criminosa formada por membros do Progressistas.
Enquanto isso, Bolsonaro dobrou a aposta nos ataques contra os integrantes do Judiciário após sofrer derrotas no Supremo e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com a abertura de três inquéritos em sequência. Embora a Corte que preside seja um dos alvos preferenciais do presidente, Fux decidiu não desmarcar a reunião e ouvir as demandas do Planalto. Segundo fonte ligado ao ministro no Supremo, ele estaria mais disposto a ouvir do que falar na conversa.
Logo após o encerramento da reunião, Nogueira usou o Twitter para publicar uma foto com o magistrado. A legenda falar em consenso entre as instituições e "harmonia entre os Poderes, sintetizados no símbolo que é a nossa Constituição".
O encontro entre o magistrado e o ministro palaciano ocorreu poucas horas após o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, comparecer à Corte, também na tentativa de restabelecer o diálogo entre as instituições, diante da crescente onda de ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral e a ministros do Supremo.
Ao final da reunião com Fux, o senador afirmou que "a democracia não pode ser vilipendiada" e propôs o reagendamento da reunião entre os líderes dos Três Poderes. No início deste mês, o presidente do STF anunciou o cancelamento do encontro em demonstração de apoio aos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, ambos do TSE, que se tornaram alvos de insultos do Planalto e agora são ameaçados por Bolsonaro com a apresentação de pedido de impeachment no Senado.
Na ocasião, Fux disse que Bolsonaro não está disposto ao diálogo e que as ofensas contra os ministros afetam a todos no Supremo. Contrariado, o magistrado declarou em duro discurso que o presidente não cumpre a palavra, pois, há pouco tempo, havia se encontrado na Corte para encontrar uma saída para a crise e sinalizou que os discursos seriam moderados a partir de então.
Pouco tempo depois, porém, Bolsonaro fez gestos golpistas com uso das Forças Armadas, como no desfile bélico pela Esplanada dos Ministérios, e disse que os ministros do STF que integram o TSE fazem parte da "ditadura da toga"
"Apesar do cancelamento da reunião, o diálogo entre os Poderes nunca foi interrompido. Como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), eu sigo dialogando com os representantes de todos os Poderes. Em relação a uma nova reunião, a questão será reavaliada", disse Fux na abertura da sessão do STF nesta quarta.