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Ressaca da nova política

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Por Márcio Coimbra
Atualização:
Márcio Coimbra. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Muito se fala sobre a possibilidade de uma frente ampla contra Bolsonaro. Estamos falando da união entre forças de centro-direita e centro-esquerda, capazes de enfrentar o vencedor do pleito do 2018. Entretanto, talvez isso não seja necessário e também nada indica que seja estrategicamente inteligente. Estas forças, dispersas no primeiro turno, são capazes inclusive de tirar Bolsonaro do embate final sem união formal.

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Na campanha paulistana muito se falou de uma suposta frente ampla formada para apoiar Boulos. Nada disso. O encontro entre Lula, Ciro, Marina e Dino ocorreu por conveniência e pareceu mais um encontro de confrades da esquerda para evitar um novo governo tucano. Uma frente ampla, como diz o nome, precisa ser vasta, angariando apoio de diversos setores ideológicos, como ocorreu com Tancredo Neves em 1985.

Aquilo que se imagina para 2022 é algo similar, entretanto, de difícil articulação. Unir a esquerda ao centro é praticamente impossível, enquanto encontrar equilíbrio neste espectro, um desafio ainda maior. São muitos caciques querendo ocupar este espaço. Enquanto isso, na centro-direita e na direita propriamente dita, já existem nomes bem posicionados.

Mas como disse Fernando Gabeira, "ao término das eleições municipais, comecei a duvidar se era mesmo necessária uma frente para derrotar Bolsonaro". Ele está certo. Apesar de muitos dizerem que é cedo para previsões, acredito que é tempo para enxergar as tendências e movimentos que apontam para a dinâmica de 2022. Foi exatamente o que Gabeira disse ao corroborar esta tese.

Bolsonaro saiu combalido das eleições municipais. O bolsonarismo, como movimento, fracassou, tantos nos pleitos majoritários, como nos proporcionais. O eleitorado mostrou que está cansado do discurso antipolítico, dos outsiders, da polarização e da guerra de narrativas. A falta de resultados reais e uma gestão caótica da pandemia acabaram por levar o eleitor a fazer as pazes com a política depois do rompimento começado em 2016 e concretizado em 2018. O tempo é de reconciliação.

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Somado isso ao problema estrutural de nossa economia, que está diante de um déficit assustador, sem capacidade de investimento ou sequer de implementar um programa de transferência de renda, os auspícios não são os melhores. Veremos um 2021 sem auxílio emergencial, equilíbrio fiscal ou privatizações. Estaremos diante de desemprego e uma retomada lenta que pode ainda transformar-se em período de retração. A popularidade de Bolsonaro sofrerá com estes abalos.

Isto significa que 2022 será uma eleição completamente diferente de 2018, quando o novo e a rejeição à política eram a tônica do debate. Estamos diante de um pleito que vai privilegiar a experiência, transparência e a seriedade. O sinal das eleições americanas foi claro. O eleito foi um centrista, talvez aquele político com a mais vasta e profunda experiência nos corredores de Washington. O establishment despachou o outsider. Um equilíbrio que pode vir a ser testado no próximo ciclo eleitoral brasileiro.

Diante disso, nem será preciso uma Frente Ampla. Tudo indica que caminhamos para um pleito com dois polos diametralmente opostos, além de duas candidaturas centristas. O caminho para o segundo turno estará neste equilíbrio. Forças dispersas que agem de forma ampla, em partidos diferentes, mas com o mesmo objetivo. Uma dinâmica que pode tirar Bolsonaro do jogo ainda no primeiro turno. A ressaca com a nova política pode vir na forma de avalanche eleitoral contra o bolsonarismo. A conferir.

*Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, cientista político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007)

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