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'Rei do ônibus' revela R$ 6 milhões por mês a Picciani e outros deputados do Rio

Em seu primeiro interrogatório em um processo da Lava Jato, o empresário Jacob Barata Filho admitiu que as empresas da federação de transportes pagaram a políticos do Estado dinheiro gerado por caixa 2

Por Constança Rezende
Atualização:

Jorge Picciani. FOTO: TANIA REGO/AGENCIA BRASIL Foto: Estadão

Em seu primeiro interrogatório em um processo da Lava Jato do Rio, o empresário Jacob Barata Filho, que controla grande parte das linhas de ônibus do Rio, admitiu que as empresas da federação de transportes do Rio pagaram a políticos do Estado dinheiro gerado por caixa 2. Em depoimento nesta sexta-feira, 24, na 7ª Vara Federal Criminal, Barata disse que esse caixa chegou a gerar até R$ 6 milhões por mês. Ele citou como beneficiados deputados da Assembleia Legislativa (Alerj), como Jorge Picciani (MDB) e Paulo Melo (MDB), quando presidiram a Casa.

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Segundo Barata, conhecido como "O rei dos ônibus" no Rio, o objetivo do pagamento da "caixinha" era facilitar que projetos que beneficiassem a federação fossem aprovados, e as propostas que a prejudicavam não passassem. O empresário disse que esse acordo também tinha o intuito de também "beneficiar" o usuário, já que os serviços dos ônibus era feito para gerar conforto, rapidez e o "menor custo possível na passagem".

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"Existia o caixa 2, gerado pela Fetranspor, para o pagamento de agentes públicos no sentido de tentar melhorar e proteger o sistema de transportes. Existe um pensamento de que o que é bom para empresa não é bom para usuário, e o que é bom para o usuário não é bom para a empresa, mas é justamente o contrário", justificou.  O objetivo do caixa era justamente buscar  a satisfação do usuário e evitar projetos que viessem prejudicar o setor e ter a ilusão de benefícios a curto prazo. O objetivo era da geração era contribuir com agentes públicos que ajudassem a atingir esse objetivo", argumentou.

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Um dos processos que passaram pela Casa e foi citado por Barata com de interesse da federação era estabelecia a obrigatoriedade de ter cobradores de passagens nos ônibus. Segundo ele, a proposta, se aprovada, poderia representar aumento da tarifa e era desnecessária.

"Hoje, 80% das passagens são de bilhetagem eletrônica", alegou.

Segundo Barata, a "contribuição" a agentes públicos começou com recursos para campanhas e, depois, evoluiu para "outras contribuições", que não especificou. "Não posso detalhar essas contribuições porque não era eu que fazia esse trato com agentes públicos. Sabia do caixa e concordava com a utilização desse dinheiro", disse, respondendo ao juiz federal Marcelo Bretas.

Barata afirmou que a Retranspor resolveu colaborar com as campanhas de políticos porque "o custo de campanha hoje é maior do que um deputado vai ganhar durante todo o mandato dele" . "Todas as empresas que trabalham com o setor público sabem que têm que colaborar com campanhas, caso contrário não trabalham", disse. No entanto, ao ser questionado por Bretas, ele afirmou não saber se os recursos teriam sido gastos realmente em campanhas de políticos ou para uso próprio.

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O empresário contou que o dinheiro desse caixa 2 das empresas de ônibus eram gerados, em um primeiro momento, por recursos obtidos do vale-transporte e, depois pelo Bilhete Único. A primeira forma de pagamento, segundo Barata, gerava 20% da receita do transporte e, com o surgimento do Bilhete Único, passou a ser 80%.

De acordo com o empresário, esta forma de recolhimento de caixa 2 era mais segura do que, se ,por exemplo, recolhessem 1% da receita de cada empresa. "Isso evitava que eles não pagassem e se pode fazer de maneira sigilosa", justificou. Outra medida de segurança para a circulação desses recursos, segundo ele, foi por um sistema "presidencialista" da Alerj. "A partir do presidente, as coisas eram resolvidas, até por uma questão de segurança", afirmou.

O Estado ainda não conseguiu ouvir as defesas de Picciani e Melo.

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