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Reflexos da Consciência Negra e das eleições: é possível sonhar com uma mulher negra na Presidência da República?

Por Liliane Rocha
Atualização:
Liliane Rocha. FOTO: MARIO DUARTE Foto: Estadão

Não é novidade que no Brasil, ao longo de novembro, celebramos o mês da Consciência Negra. A data em geral é um importante momento de exercício da cidadania, de reflexão da nossa história, e avaliação sobre a representatividade negra nas grandes empresas brasileiras e no poder público.

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Este ano, no entanto, devido à pandemia, tivemos o ajuste do calendário eleitoral no Brasil. E com isso, uma oportunidade expressiva de ver a pauta étnico-racial em debate juntamente ao período das eleições municipais. O que, em minha opinião, surtiram efeitos inestimáveis.

Diversos formadores de opinião, brancos e negros, ocuparam as redes sociais falando sobre a importância do antirracismo, da representatividade, da proporcionalidade e de como, no momento do voto, é preciso lembrarmos de fortalecer candidatos negros, mulheres e mulheres negras, LGBTQIAP+, periféricos, entre tantos outros grupos que, em geral e historicamente, seriam invisibilizados.

Resultado, em São Paulo, por exemplo, passamos de 10 vereadores negros para 11, de 11 vereadoras mulheres para 13 vereadoras. E de nenhuma mulher negra na Câmara para 4 mulheres negras.

Sendo que uma delas, Erika Hilton, mulher, preta e trans foi a 6ª vereadora mais votada de São Paulo. É a primeira mulher transgênero a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo.Carolina Iara, travesti, intersexo e soropositiva também foi eleita. Sem dúvidas, avanços importantes na valorização da diversidade no âmbito político.

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A cada 10 prefeitos eleitos no primeiro turno, somente três são autodeclarados negros. Os números em geral certamente poderiam ser melhores, mas é inegável que algo parece estar mudando. Segundo o TSE, 32% dos prefeitos se declaram pretos ou pardos. Seriam as eleições municipais de 2020 no Brasil um vislumbre de que um novo momento histórico, cultural e social de fato está sendo construído?

Há anos a intelectualidade negra brasileira, junto a importantes aliados brancos, vem empenhando esforços para a construção de um país mais inclusivo, um país no qual negras e negros possam estar em postos de tomada de decisão tanto no poder público quanto nas empresas.

Esse avanço, ainda que lento, é resultado direto das políticas de ações afirmativas, da liderança empresarial e política, que escolheram se engajar com seriedade no tema, da medição e acompanhamento da demografia da diversidade em todos os âmbitos, lembremos que esse também é resultado direto do fato de o TSE ter começado a coletar informações sobre raça a partir do ano de 2014.

Sonhar não custa nada, por isso, apesar da sub-representação ainda existente, ouso aqui sonhar alto. Afinal, como diz Jorge Paulo Lemann, "sonhar grande ou sonhar pequeno dá o mesmo trabalho".  Além disso, acredito que mais pessoas ecoando esse mesmo pensamento ampliam a possibilidade de que ele saia do campo das ideias e passe para a realidade. Será que em 2022 conseguiremos eleger uma mulher negra à Presidência da República? Palavras ditas e registradas para a posteridade.

*Liliane Rocha, fundadora e CEO da Gestão Kairós consultoria de Sustentabilidade e Diversidade e autora do livro Como ser um líder inclusivo. Criadora do conceito Diversitywashing e reconhecida como 101 Top Global Diversity and Inclusion Leaders no Diversity & Inclusion Excellence Awards 2019 e 2020, na Índia

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