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Recuperação pós-covid-19: há luz do outro lado?

Por Adriano Gomes
Atualização:
Adriano Gomes. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Estamos vivendo um período ímpar na história e feliz daquele que consiga realizar um aprendizado construtivo diante do cenário imposto. Algumas reflexões estão sendo lançadas que percorrem diversos campos do conhecimento, desde discussões sobre método científico em clima de pandemia, passando pela medicina e economia. Uma das mais acaloradas, senão a maior, se deu em torno de uma criação que me surpreendeu: um possível antagonismo entre vida e Economia. Confesso que foi surpreendente, para dizer o mínimo.

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Vida e Economia são recíprocos, porém um precede o outro, até pela construção lógica: vida precede Economia e não vice-versa! Não há vice-versa aqui, definitivamente não.

Como seres racionais, precisamos aprender algumas coisas com essa pandemia. Primeiro, admitir que todos nós não estávamos devidamente preparados para enfrentar um problema de tal grandeza. Quando digo todos isso vai do indivíduo, passando por família, organizações, empresas e, principalmente, o Estado, seja ele qual for, desde o mais liberal até o mais fechado e dirigido por um único partido. Posto isso, por si só, demonstra a boçalidade de uma discussão de um evento de tal gravidade no que se denomina de "campo ideológico", onde cada grupo de detentores da verdade constrói suas narrativas que não passam de um punhado de argumentos frágeis.

Mas e a retomada, será tocada com qual força de empuxo ? Lembro de duas frases de Galbraith que são: "política não é a arte do possível. Ela consiste em escolher entre o desagradável e o desastroso" e "a única função das previsões econômicas é a de conferir respeitabilidade à astrologia." Em suma, invariavelmente erramos muito quando se trata de enxergar o futuro da economia associada a um ambiente político que nos coloca na bifurcação do desagradável e do desastroso. Mas, vou me arriscar.

O crescimento do produto pode ser olhado sob a construção da riqueza e nela há três grandes pilares. O primeiro parece que está e estará bem robusto que é do agronegócio. O segundo,  que vem sendo corroído e desgastado há anos, expõe suas ferragens velhas à vista. Trata-se da riqueza produzida pelas indústrias, ano a ano perdendo sua importância no montante. Finalmente o último pilar é do setor de serviços que sofre e sofrerá absurdamente os efeitos da paralisação. Adicione-se um ingrediente amargo nesta análise com a potencial explosão de empresas em dificuldades financeiras que irão desaguar em recuperação judicial e falência.  De modo complementar, quando se observa o lado da demanda, temos 4 pilares.

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As exportações parecem que continuarão com bastante força. O principal item que é a soja parece não encontrar obstáculo à frente. Mas o segundo principal produto de nossa pauta é petróleo que enfrenta o seu pior momento histórico. Os demais itens exportados não demonstram grandes problemas adiantes. Seguramente o consumo das famílias será afetado de frente, com queda do poder aquisitivo, maior endividamento e aumento de desemprego. Os investimentos das empresas devem seguir o destino das gavetas ainda que se ofereçam taxas de juros atraentes. Investimentos são guiados por expectativas, uma espécie de cenoura no horizonte chamada de consumo. E o gasto público, último e importante pilar, sofrerá um conjunto de fatores adversos, sendo o principal deles, o elevadíssimo nível da dívida pública pós-covid. E hoje já se especula qual será a taxa de juros que o mercado exigirá para rolar essa dívida.

A resposta será imposta pela realidade, lá adiante. E ao olhar para trás, diante de tal realidade, iremos nos perguntar: será que se tomássemos a estrada do desagradável não teria sido melhor. Mas, arremato com o mesmo Galbraith: talvez isso seja ofício de astrólogo.

*Adriano Gomes é sócio-diretor da Méthode Consultoria e professor de Finanças da ESPM

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