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Realmente pensamos a cidade com igualdade de gênero?

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Por Luisa Peixoto
Atualização:
Luisa Peixoto. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

No mundo pré-moderno, a mulher tinha pouca liberdade para descobrir qual era o seu papel na sociedade para além das atividades domésticas. Até o século XIX, o espaço público era predominantemente masculino e a mulher saía poucas vezes de casa. Apesar de movimentos feministas existirem desde o século XVIII, foi apenas no século XX que as mulheres entraram no ambiente de trabalho e as estruturas urbanas começaram a se adaptar à nova realidade e ao novo papel delas na sociedade.

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No entanto, será que realmente pensamos a cidade com igualdade de gênero?

Os desafios das mulheres no espaço público ainda são enormes! Para começar pela segurança, diariamente elas estão sujeitas a situações de assédio e agressão. Um espaço urbano mal iluminado, uma rua vazia ou um ônibus lotado são muito mais assustadores quando se é uma mulher. Segundo a pesquisa da Rede Nossa São Paulo "Viver em São Paulo - Mulher", realizada em 2020, cerca de 43% das entrevistadas já foram vítimas de assédio no transporte coletivo, e 63% disseram já ter sofrido algum tipo de assédio, em diferentes situações. A insegurança de sair às ruas limita a presença das mulheres em diversas atividades urbanas.

E os desafios não param por aí! A jornada diária da mulher muitas vezes ainda se mostra mais complexa do que a dos homens, já que em sua maioria se reduz a ir e voltar do trabalho. Em muitos casos, além de trabalhar fora, mulheres ainda são as responsáveis por levar as crianças na escola e fazer compras, o que acaba tornando seus deslocamentos muito mais complexos. De modo geral, mulheres utilizam mais os serviços de transporte público do que os homens, que são a maioria no uso do carro privado, já que geralmente nas residências eles têm a preferência de permanecer com o veículo. Na pesquisa Origem de Destino do Metro de São Paulo feita em 2017, 62% das viagens de carro são feitas por homens, enquanto as mulheres representam 56% das viagens de transporte público e 53% dos deslocamentos a pé.

Curiosamente, mulheres com maior renda têm padrões de deslocamento mais similares ao dos homens na mesma faixa de renda, o que não acontece com mulheres de renda mais baixa, que utilizam bem menos o carro do que os homens. Ter filhos é outro fator que influencia diretamente nos deslocamentos das mulheres. Ainda segundo a Origem e Destino de 2017 de São Paulo, mulheres com filhos entre 5 e 9 anos são as que mais realizam viagens a pé (44%), seguidas do ônibus (29%).

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Mesmo com tantas diferenças, é possível construir uma cidade mais igualitária. A cidade de Viena, na Áustria, por exemplo, adotou uma abordagem de integração de gênero em várias áreas, como educação, saúde e planejamento urbano. Pesquisas realizadas na década de 1990 evidenciaram grandes discrepâncias entre o uso dos serviços e espaços da cidade por homens e mulheres. Viena tentou enfrentar este desafio redesenhando áreas para facilitar a mobilidade e acessibilidade de pedestres, bem como melhorar os serviços de transporte público. A cidade também criou conjuntos habitacionais incluindo creches, serviços de saúde e acesso ao transporte público, com o objetivo de garantir que todos tenham direito igual aos recursos urbanos.

Para remodelar as cidades, precisamos de alguns passos, como planejar sistemas que facilitem as jornadas e que pensem nesses deslocamentos de forma integrada. Por isso a importância da integração entre serviços e modos de transporte. Atualmente, temos uma forte aliada nessa batalha, que é a tecnologia. Ela nos permite trazer informações para dar suporte e segurança para todos os usuários durante suas jornadas, seja por meio de informações em tempo real ou com as facilidades de pagamento. Além disso, a integração entre os serviços de transporte por meio de pagamentos e infraestrutura urbana facilita a promoção de uma jornada fluída e simplificada para todos os usuários. Incentivando uma mobilidade com serviços de transporte diversos e integrados vamos dar mais acesso e segurança para todas as mulheres.

*Luisa Peixoto, especialista em Mobilidade e Políticas Públicas da Quicko

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