Rafael Moraes Moura
03 de outubro de 2017 | 05h00
Raquel Dodge e Michel Temer. Foto: Dida Sampaio/Estadão
A procuradora-geral da República Raquel Dodge pediu ao ministro Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, que mande o Palácio do Planalto abrir os registros de entrada, em 2017, relativos a dois amigos do presidente Michel Temer, o coronel da PM reserva João Batista de Lima Filho e/ou José Yunes.
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Lima Filho é o dono da Argeplan Arquitetura, muito próximo de Temer há mais de 30 anos. Ele teria se encontrado duas vezes com o contador Florisvaldo Caetano de Oliveira, apontado como homem do grupo J&F responsável pelas entregas de dinheiro a políticos, segundo o próprio delator.
De acordo com o colaborador, o primeiro encontro teve como objetivo conhecer o destinatário, chamado de “coronel”, e combinar a forma de entrega dos valores. No segundo encontro, por sua vez, Oliveira afirmar ter entregue R$ 1 milhão em espécie para Lima Filho.
Yunes, advogado, foi assessor especial do presidente.
Raquel também quer saber quantas vezes estiveram no Palácio os executivos Ricardo Mesquita e Celso Grecco, da empresa Rodrimar, e, ainda, Edgar Safdie, amigo do ex-deputado e ex-assessor especial de Temer, Rodrigo Rocha Loures, o ‘homem da mala’ – em abril, ele foi filmado pela Polícia Federal carregando uma mala preta com 10 mil notas de R$ 50, somando R$ 500 mil em propina viva da JBS.
No mesmo ofício a Barroso, a procuradora pede autorização para tomar o depoimento do presidente e 60 dias para concluir as investigações relativas ao Decreto dos Portos – ato que teria beneficiado a Rodrimar.
“Trata-se de inquérito instaurado para apurar fatos descobertos noâmbito de ação controlada e de interceptação telefônica, investigações conduzidas inicialmente no Inquérito nº 4.483, de relatoria do ministro Edson Fachin, contudo, desmembradas e distribuídas à relatoria de Vossa Excelência por não guardarem conexão com os fatos do primitivo inquérito”, destacou Raquel na petição ao ministro Barroso.
Segundo ela, a Procuradoria ‘entendeu pela instauração de investigação para melhor elucidar os fatos, de maneira não apenas a confirmar a identidade das pessoas mencionadas, como também esclarecer se e em quais circunstâncias atuaram para repassar dinheiro ilícito aos agentes públicos Michel Miguel Elias Temer Lulia e Rodrigo Santos da Rocha Loures’.
Ainda segundo Raquel, a interceptação dos diálogos entre Rodrigo Loures e outros interlocutores apontou para ‘a possível prática de crimes de lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva, pois, em diversas das conversas, seria possível depreender que Rodrigo Loures teria apontado os nomes de Ricardo Conrado Mesquita e Antônio Celso Grecco, ambos vinculados à empresa Rodrimar”
A procuradora requerei, ainda, a obtenção do registro de doações eleitorais feitas ‘pela Rodrimar S.A e/ou empresa do mesmo grupo econômico e/ou alguns dos seus sócios (Celso Grecco ou outro) para Michel Temer e/ou o PMDB nacional ou regional de São Paulo, nas últimas duas eleições (2014 / 2016), pelo menos’.
Outro pedido de Raquel é que seja enviado ofício ao Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil para que apresente: os integrantes (nomes e lotação) do Grupo de Trabalho formado por representantes do Ministério e da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) para atualização da legislação do setor portuário.
A procuradora quer, ainda, acesso à a minuta do texto do decreto enviada pelo ministro dos Transportes, Maurício Quintella, para análise jurídica do gabinete da Casa Civil em meados de dezembro de 2016; as atas das reuniões de trabalho de maio de 2016 a junho de 2017.
A reportagem não localizou a defesa do coronel Lima Filho, nem de Edgar Safdie. O espaço está aberto para manifestação.
COM A PALAVRA, MICHEL TEMER
A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República informou em nota enviada à imprensa nesta segunda-feira, 2, que o presidente Michel Temer responderá aos questionamentos referentes ao Decreto dos Portos.
“O presidente da República, Michel Temer, responderá aos questionamentos pertinentes ao inquérito. Vale destacar que houve amplo debate com o setor antes da publicação do decreto de renovação das concessões de portos. Todos os dados são públicos”, diz a nota.
“O assunto não comportava nenhum sigilo ou informação privilegiada, apenas a publicação do decreto que finaliza o longo processo de negociação entre o governo e o setor empresarial, como é comum e legítimo em uma democracia. E só foram atendidos os pleitos das empresas licitadas depois de 1993. Tudo antes disso, que era uma reivindicação de várias empresas, foi rejeitado.”
COM A PALAVRA, A RODRIMAR
A Rodrimar informou que em seus 74 anos de história ‘nunca recebeu qualquer privilégio do Poder Público’ e que seus executivos ‘estão, como sempre estiveram, à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento que se fizer necessário’.
COM A PALAVRA, LOURES
A defesa do ex-assessor especial do presidente Michel Temer, o ex-deputado Rocha Loures (PMDB/PR), comunicou que só vai se manifestar depois de ser notificada oficialmente.
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