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'Queria solicitar R$ 1 milhão', pediu Marco Maia, segundo empreiteiro

Léo Pinheiro, da OAS, relatou à Justiça que o deputado do PT (RS) o procurou em 2014 para cobrar propina em troca de proteção à sua empresa na CPI da Petrobrás

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Foto do author Julia Affonso
Por Mateus Coutinho , Julia Affonso , Ricardo Brandt e enviado especial a Curitiba
Atualização:

O deputado federal Marco Maia (PT-RS). Foto: Estadão

Em seu novo depoimento ao juiz da Lava Jato nesta terça-feira, 13, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro disse que o deputado Marco Maia (PT-RS), relator da CPI Mista da Petrobrás, em 2014, o procurou naquele ano para cobrar propina em troca de proteção a sua empresa na comissão que deveria investigar as irregularidades na estatal petrolífera.

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Segundo o empreiteiro, preso pela segunda vez na semana passada e cujo acordo de delação fracassou após vazamentos, o encontro com o então relator da comissão ocorreu em uma residência em Brasília, no Lago Sul. "Ele teve uma conversa comigo, que podia ajudar porque o relatório é fruto de todo um trabalho investigativo feito durante o período (da CPI) e o relatório final é que é votado. Então, ele teria condições de ajudar no sentido de proteger nossa empresa", disse Léo Pinheiro.

O DEPOIMENTO DE LÉO PINHEIRO QUE CITA MARCO MAIA (A PARTIR DE 9MIN36SEG)

Ainda de acordo com Pinheiro, Marco Maia teria lhe relatado uma "dificuldade bem grande" pelo fato de ser relator de uma investigação que implicaria grandes empresas e traria dificuldades para ele conseguir doação para sua campanha. O deputado teria então, segundo o empreiteiro, solicitado ajuda financeira. "Queria lhe solicitar, em troca de lhe ajudar quando estiver fazendo o relatório final da CPI, uma contribuição de R$ 1 milhão", teria dito o deputado, segundo o empreiteiro.

"O deputado Marco Maia foi muito incisivo comigo, (de que) o produto final de uma CPI era o relatório", seguiu o executivo.

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Léo Pinheiro confirmou ao juiz Sérgio Moro que sua empresa acabou fazendo o pagamento para um empresário indicado pelo parlamentar e que atuaria para campanhas políticas. Nesta parte do depoimento, porém, Moro pediu ao empreiteiro que focasse apenas na denúncia da Procuradoria da República contra Argello, que não tem mais foro privilegiado, e não desse mais detalhes sobre o episódio envolvendo Maia.

Atualmente, o deputado petista já é alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal suspeito de cobrar propina de empreiteiras para protegê-las nas CPIs de 2014. A investigação contra ele foi aberta a partir da delação do ex-senador Delcídio Amaral, que alegou que Marco Maia e Vital do Rêgo cobravam "pedágio" das empreiteiras, o que agora é confirmado também por Léo Pinheiro.

O depoimento do ex-presidente da OAS foi tomado na ação penal em que Argello, preso desde abril na Lava Jato, e outros oito, incluindo o próprio Léo Pinheiro, são acusados de arquitetar um esquema de pagamento de ao menos R$ 5,3 milhões em propinas de empresas para evitar a convocação de empreiteiros investigados na Lava Jato para depor nas CPIs no Senado e no Congresso em 2014.

Naquele ano foram instaladas uma CPI Mista e uma CPI no Senado e nenhuma delas convocou empreiteiros das grandes construtoras para depor.No caso da CPI Mista, o texto final do relator Marco Maia foi aprovado em 18 de dezembro daquele ano e pedia o indiciamento de 52 pessoas. O parecer de Maia foi modificado de última hora e aprovado por 19 parlamentares e com a objeção de oito membros da oposição.

Novo interrogatório. O executivo Léo Pinheiro, da OAS, ficou em silêncio durante seu primeiro interrogatório como réu nesta ação penal em agosto, antes de perder sua delação. Frente a frente com o juiz federal Sérgio Moro, o empreiteiro disse na época que 'por orientação dos advogados' não responderia a nenhuma pergunta.

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Condenado a 16 anos de reclusão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa na Lava Jato, o executivo teve a negociação de sua delação premiada suspensa pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A interrupção foi provocada pela divulgação de informações sobre o ministro Dias, Toffoli, do Supremo Tribunal Federal. O ministro teria sido citado por Leó Pinheiro, o que é negado pelo procurador-geral.

COM A PALAVRA, O DEPUTADO MARCO MAIA: "Com relação ás declarações dadas pelo Sr. Léo Pinheiro as quais cita a minha pessoa, gostaria de dizer.

Tais afirmações são mentirosas, fruto de retaliação de um criminoso por mim indiciado na CPMI. Refuto com indignação tais ilações!

Fui relator de uma CPMI em 2014, onde foi pedido o indiciamento daqueles que hoje me acusam.

Foram 52 indiciamentos, mais o pedido de investigações de 20 empresas ao CADE pela prática de crime de cartel.

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Como já havia afirmado anteriormente, não recebi nenhuma doação para minha campanha eleitoral de 2014 de quaisquer empresas que estivessem sendo investigadas por tal CPMI.

Por fim, utilizarei de todas as medidas legais para que a verdade seja estabelecida e para que os possíveis desgastes a minha imagem parlamentar seja reparado em sua integralidade.

Brasília, 13 de setembro de 2016.

MARCO MAIA

Deputado Federal PT/RS"

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COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DE VITAL DO RÊGO:

"O ministro informa que jamais negociou, com quem quer que seja, valores relacionados a doações ilícitas de campanhas eleitorais ou qualquer tipo de vantagem pessoal. Repudia, com veemência, as infundadas alegações, que são novamente desacompanhadas de qualquer prova relacionada ao seu nome."

 

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