Atravessamos neste momento uma crise moral e ética jamais vista. As delações dos executivos da maior construtora do país e do mundo - Odebrecht - escancara como a política era realizada no Brasil há mais de vinte anos.
De forma espantosa para nós brasileiros, esses executivos nos contam como os políticos eram eleitos; de que forma as negociatas espúrias se concretizavam; e também como a propina era distribuída.
Muito difícil assistir a essas delações sem se indignar; indignação esta não somente em relação aos fatos enlameados trazidos, mas também da própria naturalidade como que são revelados. Uma naturalidade acompanhada de deboche, de risos, e de conformismo.
Nesse panorama, verifica-se que o mérito, a honestidade, a preocupação com o gasto público e o bem estar do brasileiro era inexistente, e o que imperava era apenas o poder, o dinheiro, a propina, a permanência no poder, e a continuidade dos esquemas; dos acertos; dos arranjos.
Este é o ápice da publicidade de um sistema que governou o Brasil por muitos antos; onde foram completamente desconsiderados os cidadãos brasileiros, e suas básicas necessidades. Os miseráveis eram pisoteados por políticos corruptos, que se aliaram a empresários desonestos para assaltarem cada vez mais os cofres públicos.
Vendas de emendas parlamentares sufocaram os doentes do SUS, esvaziando as prateleiras de remédios, exames e tratamentos. Desvios das estatais para o bolso de algumas dezenas de corruptos demoliram a construção de creches, escolas e centros esportivos para crianças carentes.
Os bilhões de reais evadidos dos órgãos públicos deixaram de ser aplicados na segurança pública, nas estradas, no saneamento básico. Obras superfaturadas que irrigaram as contas dos governantes desonestos eram carentes de materiais de qualidade, resultando em desabamentos, ferimentos e mortes.
Este cenário inaceitável pode, ao menos, contribuir com o renascimento de um sentimento: a INDIGNAÇÃO com os atos de corrupção. Não podemos mais encarar os atos corruptos com naturalidade, não é natural, não é normal. Embora seja usual no Brasil, temos que combater e rechaçar tais atos, assim como os políticos que os praticam. Precisamos nos importar e cuidar de nosso pais, pois aqueles que foram eleitos com esse fim não cumpriram sua missão; apenas saquearam, enriqueceram, usufruíram luxos, em detrimento do povo; do miserável; do pobre brasileiro.
*Thaméa Danelon é procuradora da República e coordenadora do Núcleo de Combate à Corrupção do Ministério Público Federal em São Paulo