A Polícia Federal seguiu o rastro de supostas entregas de dinheiro a aliados do presidente Michel Temer (MDB) negociadas entre executivos da Odebrecht e a cúpula do partido em um jantar no Palácio do Jaburu, em maio de 2014. Em relatório, a PF aponta indícios de crimes de Temer e dos ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco. No documento, há interceptações de conversas por aplicativos, delações e telefonemas que, segundo a corporação, indicam o caminho e as datas dos repasses.
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Segundo delatores da empreiteira, naquela ocasião, teriam sido acertados repasses de R$ 10 milhões. Posteriormente, Moreira Franco teria pedido outros R$ 4 milhões. No documento, a PF detalha como encontrou vestígios da suposta operacionalização dos repasses.
Um dos tópicos do relatório é referente à entrega de R$ 1 milhão ao escritório de José Yunes, ex-assessor de Temer. Em 2016, ele admitiu, em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral, o recebimento do valor, e disse ter sido 'mula' de Padilha. O dinheiro teria como origem o departamento de propinas da Odebrecht, segundo afirmam delatores.
De acordo com o relatório, 'como tal operação ocorreu na cidade de São Paulo, a instrução dos presentes autos conta com arquivos que contêm conversas mantidas por Skype, alusivas à rotina da Transnacional', empresa de transportes utilizada por doleiros da Lava Jato para o envio de dinheiro.
José Carvalho Filho, executivo da Odebrecht, e Maria Lúcia Tavares, secretária do departamento de propinas da empreiteira, citaram a operacionalização dos repasses em depoimento.
Em uma das conversas, de agosto de 2014, um dos supostos responsáveis pela entrega, recebe uma ordem para entregar R$ 500 mil a José Yunes em São Paulo, mediante a senha 'pássaro'. Ele responde: 'a recepção informa que José Yunes está viajando', às 11h da manhã daquele dia.
"Aparentemente, não havia outra pessoa credenciada a receber as quantias, porém não há elementos que permitam concluir se a entrega foi ou não efetivada naquele dia, pois a conversa por Skype não teve prosseguimento", diz a PF, que ainda mostra que Yunes estava, de fato viajando, naquela época.
Sobre a entrega frustrada, a PF afirma ser 'interessante notar que, pouco após, fora desencadeada uma ampla sequência de eventos telefônicos envolvendo os terminais de Eliseu Padilha e José Carvalho Filho, somando dez chamadas entre 11: 15h e 12:09h'. "Assim, é razoável que o tenha contatado para noticiar o desencontro ocasionado pela ausência de José Yunes em seu escritório, quando os valores lá estavam.
Uma nova tentativa teria sido feita, desta vez, no dia 4 de setembro. O suposto entregador das verbas recebe uma mensagem via Skype, de manhã: "Entregar R$ 1 milhão. senha 'morango'. R. Capitão Francisco Padilha, 90 - Jardim Europa - São Paulo. Entre Rua Baviera e Rua Padre Manuel Chavez. Procurar Sr. José Yunes ou Shirlei. Entre 14 e 16 hrs".
Às 14h53 daquele dia, o superior volta a cobrar. "Como está a entrega do insider de R$ 1 milhão".
O encarregado responde. "Ainda estar no carro forte". "Estava trânsito aqui em sp".
No dia seguinte, o suposto responsável pela entrega volta a ser questionado: "Quem recebeu R$ 1 milhão da insider ontem?".
E responde. "Quem recebeu foi o Sr. José Yunes, a Shirlei, estavam os dois no local. Quem assinou foi a Shirlei".
"Tem-se, assim, importante evidência a indicar que José Yunes, pessoalmente, recebeu valores provenientes da estrutura concebida pela Odebrecht para o pagamento de vantagens indevidas", afirma a PF.
A PF ainda identifica um 'desdobramento fático que envolve a destinação dos valores', já que Lúcio Funaro, afirmou ter sido demandado por Geddel Vieira Lima para apanhar determinada quantia no escritório de José Yunes e encaminhá-la a Salvador/BA'.
"A despeito da indefinição quanto ao encaminhamento dos valores a Geddel Vieira Lima, face às razões expostas acima, remanescem firmes os indícios de que José Yunes, em 04/09/2014, recebeu R$
1.000.000,00 (um milhão de reais) enviados a seu escritório pela Odebrecht, em atenção à solicitação do Ministro Eliseu Padilha, havendo a possibilidade, pela natureza da relação pessoal mantida entre ambos, que José Yunes tenha atuado como interposta pessoa no interesse do Exmo. Sr. Presidente da República, Michel Temer", conclui a PF.
COM A PALAVRA, O MINISTRO MOREIRA FRANCO
"Não participei da reunião no Palácio do jaburu. Não solicitei absolutamente nada a executivos desta empresa nem de nenhuma outra. A Odebrecht arrematou a concessão do Galeão por R$ 19,3 bi e não por atendimento de interesses. As conclusões da autoridade policial se baseiam em investigação marcada pela inconsistência."
COM A PALAVRA, O MINISTRO ELISEU PADILHA
O advogado Daniel Gerber, que representa o ministro, disse que Padilha não vai comentar o assunto. "Se for o caso, se manifestará apenas nos autos."
COM A PALAVRA, O PALÁCIO DO PLANALTO
"A conclusão do inquérito pela Polícia Federal é um atentado à lógica e à cronologia dos fatos. Jantar ocorrido no final de maio, segundo os próprios delatores, tratou de pedido de apoio formal para campanhas eleitorais, o que ocorreu realmente dentro de todos ditames legais. Todos os registros foram feitos em contas do PMDB e declarados ao TSE. Agora, sem conseguir comprovar irregularidades nas doações, o delegado aponta supostos pagamentos ocorridos em março como prova dos crimes, ou seja, dois meses antes do jantar. A investigação se mostra a mais absoluta perseguição ao presidente, ofendendo aos princípios mais elementares da conexão entre causa e efeito."