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Que a China verde inspire o Brasil

Por José Renato Nalini
Atualização:
José Renato Nalini. FOTO: DANIELA RAMIRO/ESTADÃO Foto: Estadão

A China está sempre à frente de outros grandes países, porque é gigantesca e os problemas que tem de enfrentar adquirem idêntica dimensão. Sempre foi considerada grande emissora de gases causadores do efeito estufa. Mas acordou para o maior perigo que ronda a humanidade neste século. Não é a pandemia presente, nem as outras que ainda virão. Por sinal, elas são consequência daquilo que é muito mais sério: o aquecimento global. Este o imenso desafio.

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Atenta a essa realidade, a China resolveu levar a sério o projeto de descarbonização. O ministro da agricultura e assuntos rurais da China, Tang Renjian, acredita no enorme potencial para a exploração de uma agricultura sustentável. Reuniu-se com a ministra da agricultura Tereza Cristina e afirmou que seu país quer injetar um novo ímpeto no Brasil para alcançar a agricultura mais sustentável. O Brasil é o primeiro país a criar parceria estratégica com a China para desenvolvimento sustentável e o maior parceiro no comércio de produtos agrícolas.

Essa oportunidade não pode ser desperdiçada por um Brasil tão necessitado de investimento Internacional. Brasil e China têm muito em comum: vasta legião de miseráveis e de pobres é uma das características identitárias.

É preciso alimentar os famintos e, como reconhece a ministra Tereza Cristina, o Brasil tem mais de 90 milhões de hectares de pastos degradados. Eles podem ser utilizados pela agricultura, sem a necessidade de derrubada de uma árvore sequer. Por isso, não é preciso mais desmatar. Diz a ministra: "são áreas antropizadas há muitos anos, sem investimento em terras que têm aptidão agrícola e pecuária e, além disso, quanto à aptidão pecuária, também há muito o que pode ser melhorado".

Alinha-se a China ao conjunto de países do Primeiro Mundo que têm condições de investir no Brasil. O capital estrangeiro já emitiu inúmeros recados e já se posicionou frontalmente contra a política de extermínio do verde que caracterizou a maléfica gestão salina no Ministério que, paradoxalmente, foi criado para proteger a natureza.

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É importante que o agronegócio consciente adquira protagonismo no ambiente governamental brasileiro e consiga demonstrar que a retórica será substituída por ação concreta.

Não faltam instrumentos. Um ordenamento pioneiro, a partir do artigo 225 da Constituição Cidadã, que já foi chamada de "Ecológica". A natureza exuberante, que forneceu gratuitamente, durante séculos, serviços ambientais à humanidade que habita o Brasil.

Projetos também não faltam. Somos pródigos em planejar e fazer promessas. Falhamos quando chega a hora de cumpri-las.

A ministra fala em CAR dinamizado, que seria a tática de agilizar as análises e validações de mais de seis milhões de Cadastros Ambientais Rurais, para garantir que os produtores rurais com pendências ambientais possam aderir aos Programas de Regularização Ambiental - PRA.

Difícil é conciliar o discurso com a prática do MMA, que desmanchou as estruturas de fiscalização e controle, incentivou a grilagem, favoreceu a criminalidade organizada que extermina a floresta e protege garimpos ilegais. Ambientalistas condenam tentativas de anistiar a grilagem e uma postura não só permissiva, mas indutora de práticas nefastas em relação à natureza.

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Também se aposta no Plano Safra 2021-2022, que seria "mais verde para todos". Um manejo mais sustentável para a agricultura é ainda mera proposta, sequer divulgada pelo Ministério da Agricultura. O Plano ABC- Agricultura de Baixo Carbono, conta com linhas de crédito subsidiadas. Na esfera do "dever ser", o país é impecável. Mas no terreno da realidade, as coisas são muito diferentes.

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O capital internacional está disponível e seu natural destino é o Brasil, que, a despeito da política antiambiental, ainda possui razoável parcela de território coberto por vegetação nativa.

Um pouco de juízo não faria mal àqueles que respondem pela República. A China é parceira preciosa de nosso agronegócio. Até quando terá paciência para suportar ofensas, desaforos, alusões desairosas e toscas? Observe-se que ela está estimulando o plantio de soja na África, para se libertar da dependência ao mercado brasileiro.

O problema é muito sério. A hegemonia crescente da China é um sinal de alerta para a lucidez residual. Nunca é bom brigar com alguém mais forte. Já brigar com gigante, é suicídio.

A urgência é se aproximar da China, aprender com ela, apoiar-se nela. A inconsequência de quem a hostiliza tem potencial de condenar as próximas gerações a um retorno a estágios inimagináveis de atraso e obscurantismo em todas as áreas.

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*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2021-2022

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