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PT 'mordeu' propinas do MDB, diz delator da Odebrecht

Segundo Márcio Faria, ex-executivo da empreiteira, das supostas vantagens de R$ 40 milhões acertadas com a cúpula do MDB, no âmbito de contrato com a Petrobrás, teriam sido destinados R$ 8 milhões ao PT

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Por Luiz Vassallo , Fausto Macedo , Julia Affonso e Ricardo Brandt
Atualização:

Sede da Odebrecht em São Paulo. Foto: JF Diorio/Estadão

Márcio Faria da Silva, ex-executivo da Odebrecht, relatou ao juiz federal Sérgio Moro uma suposta 'mordida' do PT em propinas que teriam sido acertadas com a cúpula do MDB no escritório do presidente Michel Temer (MDB), em 2010, quando ele era presidente do partido. O delator foi interrogado nesta segunda-feira, 8, no âmbito de ação da Lava Jato contra ex-diretores da Petrobrás e operadores. O suposto acordo envolveria R$ 40 milhões ao MDB e, do total, R$ 8 milhões seriam repassados ao PT.

A denúncia foi oferecida no âmbito da Operação Deja Vu, 51ª fase da Lava Jato. A acusação mira corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito de um contrato para prestação de serviços no valor de US$ 825 milhões celebrado entre a Construtora Norberto Odebrecht e a Petrobrás.

O contrato PAC SMS, pivô da denúncia, era referente à manutenção de ativos sucateados da estatal em nove países do mundo, entre eles a Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). Segundo os delatores da Odebrecht, deste contrato, foram acertadas propinas de 5% (R$ 40 milhões), sendo 4% (R$ 32 milhões) para Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves e Michel Temer, e 1% (R$ 8 milhões) para o PT.

O delator afirma que, após a reunião com emedebistas em 2010 para suposto acerto de propinas, a Odebrecht foi abordada por petistas. "O PT, vou usar uma expressão chula, veio morder, e através de João Henriques com Rogério, eu falei: Rogério, tem um valor para o MDB, se for tirar 10, 20 ou 90% do mesmo valor, ok. Valor novo não tem. acertaram com eles que teria 'split' para o PT".

"Uma parte em dinheiro foi para o PT, uma parte para uma pessoa detentora de foro a tirar esse valor e uma pessoa que não detinha que era o Delcídio Amaral. Somou-se um por cento que era o crédito junto ao PT", afirmou.

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Segundo planilhas de propinas da Odebrecht, uma parte do dinheiro teria sido destinada a Delcídio Amaral, o 'Ferrari', e a outra ao senador Humberto Costa (PT) - reeleito neste ano com 1,7 milhão de votos -, apelidado de 'drácula' pela empreiteira. Humberto Costa nega o recebimento de propinas da Odebrecht.

Outros delatores, como Olívio Rodrigues e Rogério Araújo, da Odebrecht, corroboraram com o depoimento de Faria, também nesta segunda, 9, a Moro.

Reunião. Antes de a carta-convite da licitação ser apresentada à Odebrecht, segundo o delator, um ex-gerente da Diretoria Internacional da estatal (comandada pelo MDB), Aluísio Telles, procurou a empreiteira para negociar 3% de suborno sobre o valor a ser pago. Posteriormente, agentes do PT teriam obtido um 'split' - divisão, em inglês - de 1% com o MDB.

"Foi falado expressamente desse contrato. Eduardo Cunha explicou o projeto e a contrapartida era uma doação expressiva ao MDB. Ficou subentendido que se tratava de vantagem e o pessoal se comprometeu a agir junto com a diretoria internacional para que acelerasse a assinatura do contrato que estava atrasada. Nem se falou em doação de campanha, falou-se em contribuição expressiva".

O delator afirma que os valores foram repassados por meio de 'operadores de propina'.

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Márcio Faria narra, em delação premiada, que participou de uma reunião entre o lobista João Henriques, os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha (MDB) e Henrique Alves (MDB) entre eles, o presidente Michel Temer (MDB), e ex-executivos da empreiteira. Segundo os delatores da construtora, no encontro, em 2010, teria sido acertada propina de US$ 40 milhões ao partido.

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No depoimento a Moro, no entanto, ele não pode citar os detentores de foro privilegiado. Ele afirma que, em troca da propina a agentes públicos e políticos, a Odebrecht foi beneficiada no edital.

"E a contrapartida disso seria que a gente teria uma série de informações privilegiadas para melhor atacar esse projeto. Entre outras, elaboração das empresas que poderiam ser convidadas, influência no edital e, o mais importante disso, quando a gente ia tratar de 9 países, um prazo extremamente exíguo para fazer essa proposta se a gente não dispusesse de informações antecipadas e privilegiadas".

COM A PALAVRA, PT

A reportagem entrou em contato com o partido. O espaço está aberto para manifestação.

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COM A PALAVRA, MDB

A reportagem entrou em contato com o partido. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, O PRESIDENTE MICHEL TEMER

A reportagem entrou em contato com a assessoria do Palácio do Planalto.

À época da divulgação das delações da Odebrecht, o presidente Michel Temer afirmou que 'jamais tratou de valores' com Márcio Faria. "A narrativa divulgada hoje (quarta) não corresponde aos fatos e está baseada em uma mentira absoluta. Nunca aconteceu encontro em que estivesse presente o ex-presidente da Câmara, Henrique Alves, com tais participantes", disse o texto emitido pela Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência.

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Segundo o Planalto, o que realmente ocorreu foi que, "em 2010, na cidade de São Paulo, Faria foi levado ao presidente pelo então deputado Eduardo Cunha". "A conversa, rápida e superficial, não versou sobre valores ou contratos na Petrobras. E isso já foi esclarecido anteriormente, quando da divulgação dessa suposta reunião", destaca a nota.

Temer contestou ainda de "forma categórica" qualquer envolvimento de seu nome em negócios escusos. "(o presidente) Nunca atuou em defesa de interesses particulares na Petrobrás, nem defendeu pagamento de valores indevidos a terceiros", diz o texto.

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