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PSD em busca do novo JK

Por Sílvio Ribas
Atualização:
Juscelino Kubitschek. FOTO: ARQUIVO ESTADÃO Foto: Estadão

Quando o ex-ministro Gilberto Kassab criou o PSD, em 2011, revelou que o partido era uma homenagem a Juscelino Kubitschek. O conteúdo visual de estreia explicitava a conexão e o número da legenda, 55, remetia ao ano da eleição do líder desenvolvimentista. Kassab chegou a registrar o endereço eletrônico JK, para servir à fundação do PSD, mas acabou o abandonando após os duros protestos da surpreendida família do ex-presidente.

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Kassab, então prefeito da capital paulista, e Guilherme Afif Domingos, vice-governador de São Paulo à época, deixaram o DEM para fundar, diziam eles, uma agremiação política centrista sem traço ideológico, o que muitos leram como uma vocação para sustentar qualquer governo. Mas a inspiração era mesmo JK, lembrando que durante sua disputa pelo Planalto em 1989, pelo PL, Afif tentou, sem êxito, associar a sua imagem à do político mineiro.

O Partido Social Democrático não é a recriação do velho PSD de Juscelino, mas Kassab parece ainda mais empenhado em repetir a glória da legenda xará, extinta pelos militares em 1966. Enquanto a corrida de 2022 já afunila para os extremistas Bolsonaro (direita) e Lula (esquerda), o presidente do PSD mira neste ano que o partido celebra 10 anos oferecer a terceira via, a candidatura própria capaz de levar 40% dos eleitores no primeiro turno.

O escolhido por Kassab para ser o Juscelino do século 21 é o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, eleito por Minas Gerais e ainda filiado ao DEM. Quando ele ingressar no PSD, a bancada mineira do Senado ficará toda nas mãos da sigla, que já tem em seus quadros o polêmico prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. Kassab já montou importantes palanques para o próximo ano, atraindo nomes de peso como o prefeito do Rio Eduardo Paes. Tenta agora filiar Geraldo Alckmin (PSDB), o mais mineiro dos paulistas.

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Sílvio Ribas. FOTO: ARQUIVO PESSOAL  

O projeto JK 2022 segue seu roteiro. Conduzido por Kassab, Pacheco teve encontros com caciques do PSD, com diplomatas, com os ex-presidentes Michel Temer (MDB) e FHC (PSDB) e com diversos líderes empresariais. Habilidoso nas articulações, o senador por Minas lastimou nessas ocasiões a polarização política que assombra as próximas eleições gerais. Para ele, a falta de diálogo atrapalha a busca por saídas para as crises do Brasil atual.

O resgate da civilidade no jogo político, bem ao estilo da escola mineira, tem sido, aliás, a marca dos primeiros pronunciamentos de Pacheco como chefe do Legislativo. Aos 44 anos, o advogado criminalista descreveu uma ascensão meteórica em sua ainda incipiente carreira política. A julgar pelo salto de deputado federal a presidente do Senado de uma legislatura para outra, não é exagero acreditar em voos ainda mais elevados. Faz lembrar a disposição de JK em encurtar etapas para levar o país ao futuro postergado.

Fiel à cartilha das velhas raposas por trás das Alterosas, Pacheco antevê movimentos e faz costuras de bastidor que logo renderão frutos. Quer evitar que Bolsonaro leve adiante o roteiro frustrado do ex-presidente americano Donald Trump, com cenas improváveis de invasão do Congresso por seguidores. Lá, os militares ficaram do lado do legalismo. Aqui, há dúvidas, sobretudo se considerar as forças policiais. Tais tensões são parecidas com as que JK sofreu antes de assumir o poder, com rejeição de generais.

Na política, mineiros jogam sem explicitar intenções ou revelar estratégias. Com isso, podemos esperar uma "candidatura de conciliação" ou de "união nacional", tendo uma figura que mimetize o otimismo de JK, mas amparado pelo equilíbrio de Tancredo Neves. Até o mercurial Itamar Franco conseguiu a façanha de assumir um país em polvorosa e entregar um Brasil confiante, democrático e com moeda forte após três décadas de carestia.

No contra-ataque do centro, ensaios já foram tentados, mas estão perdendo fôlego diante da rigidez da polarização e dos projetos partidários e das vaidades de pré-candidatos. Das trevas espessas da falta de diálogo, pode estar surgindo um personagem que encarne justamente o contrário disso, como alternativa palatável contra o populismo ideológico.

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Alckmin, quando deixou o Palácio dos Bandeirantes para concorrer pela segunda vez à presidência em 2018, também apostou na centralidade e até mesmo evocou JK, personagem reverenciado por Pacheco. Mas o momento não era favorável à concertação política, mas de guerra do eleitorado contra o chamado sistema. Desde as eleições para prefeito, no ano passado, esse cenário começou a mudar e o desejo popular pode ser o de pacificação.

No Brasil, a maioria dos partidos tem dono, que controla acesso a cargos, vagas nas chapas e cofres da agremiação. Sob a batuta de GK se constrói o novo JK sob a legenda que já foi DEM, PFL e Arena. Mas não é partido que ganha eleição, é a sintonia entre candidato, demanda popular e contexto geral. Se o espírito do momento for favorável à distensão, à concórdia e à racionalidade, Pacheco pode encarnar o espírito da hora e sair vitorioso.

*Sílvio Ribas, jornalista e assessor parlamentar no Senado Federal

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