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Protocolo único fará a diferença na retomada do setor de eventos

Por Damien Timperio
Atualização:
Damien Timperio. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

O setor de eventos no Brasil é, sem dúvida, um dos mais impactados pela crise econômica imposta pela pandemia do novo coronavírus, já que foi o primeiro a parar e será, certamente, o último a retomar suas atividades. Estimativas de entidades setoriais falam em mais de R$ 100 bilhões em prejuízos apenas nos primeiros dois meses, mas sabemos que esses números irão muito além. Dos 12 milhões de trabalhadores, mais de 50% já não têm nenhuma renda, e micro e pequenas empresas - que representam 95% desse mercado - fecham todos os dias. Os desafios são enormes e as companhias estão fazendo o máximo para preservar os negócios e a força de trabalho. Infelizmente, isso não será viável sem o envolvimento e comprometimento do setor público.

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O mercado, que antes da pandemia injetava R$ 350 bilhões na economia nacional - o equivalente a 5% do PIB - e realizava 590 mil eventos por ano, foi totalmente paralisado e deve levar, pelo menos, dois anos para se recuperar. Enquanto isso, há uma profusão de eventos digitais muito interessantes e com conteúdos riquíssimos, mas que, ainda, não geram recursos para o setor. E não serão, em tempo algum, substitutos aos congressos, feiras e festivais presenciais. São produtos diferentes e complementares.

Sabemos que ainda iremos amargar alguns meses de prejuízos e entendemos que, no momento, não há outro caminho, pois a saúde e a vida estão em primeiro lugar. No entanto, precisamos nos preparar para a retomada e estabelecer protocolos únicos para todo o país. Esse, talvez, seja o maior desafio que enfrentaremos quando o isolamento social terminar; principalmente diante da clara divisão e falta de alinhamento entre os níveis de governo.

Em outros países em que atuamos na Ásia e na Europa, já retomamos parte dos eventos. No entanto, a falta de um protocolo único nacional traz ainda mais prejuízos ao setor. China e Bruxelas, por exemplo, têm visto exigências diferentes para cada cidade ou região. E, diante dessas distinções, as empresas são obrigadas a fazer investimentos muito maiores para se adequar a cada uma das regras. Há um outro ponto extremamente delicado aqui: o setor acaba muito mais vulnerável a obrigações custosas que, muitas vezes, sequer têm comprovação científica.

Um pavilhão de eventos de Bruxelas serve bem como exemplo. Para sua reabertura, o gestor precisou investir 1,5 milhão de euros em lâmpadas especiais que supostamente teriam algum efeito positivo no controle à disseminação do vírus. Não havia sequer embasamento técnico, apenas especulações e a decisão governamental. Por isso, a Associação Global da Indústria de Exposições (UFI, da sigla em inglês) - que reúne diversas entidades e empresas que atuam em todo o mundo - publicou recentemente um documento voltado para a reabertura global segura e controlada de exposições e eventos comerciais B2B, de forma a contribuir com a padronização de informações para o diálogo com os formuladores de políticas e autoridades.

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Imaginemos agora que, no Brasil, cada um dos 5.570 municípios passe a exigir uma série de medidas e protocolos próprios para emitir a licença de um evento. Haverá a enorme chance de repetirmos a experiência de Bruxelas, com investimentos consideráveis e ao mesmo tempo ineficientes. Ou ainda, o que seria pior, o risco de o setor acabar na mira da corrupção. A falta de um protocolo único será a pá de cal nesse mercado, que é fundamental para as cidades de todo o país e tanto pode apoiar na retomada da economia.

O turismo de negócios, além de atrair pessoas de outros estados e países, garante que as cidades fiquem com 75% dos recursos movimentados na realização dos seus eventos. São gastos de turistas com transporte (passagens aéreas e deslocamentos internos), rede hoteleira, serviços, alimentação e comércio - sem contar os impostos. Este é um público que gasta, em média, três vezes mais que o turista que viaja a lazer, segundo dados do Ministério do Turismo.

É por isso que as entidades setoriais estão buscando dialogar com as lideranças políticas regionais e nacionais, a fim de criar um grupo de trabalho capaz de desenvolver - com o devido suporte técnico da área de saúde pública - os protocolos que precisarão ser adotados do Oiapoque ao Chuí.

O governo federal precisa assumir a dianteira desse processo, a fim de definir as medidas e replicar a mesma regra para todo o país, como forma de garantir a segurança dos trabalhadores e dos visitantes dos eventos pós-isolamento social. Assim como vai acontecer com as companhias aéreas, que adotarão os mesmos critérios. A percepção de que não há um alinhamento é muito prejudicial para o negócio. A padronização das regras, por outro lado, contribui para despertar confiança das pessoas - sejam viajantes ou visitantes. Nós também precisamos desse sentimento de segurança na retomada das nossas atividades.

Há ainda uma outra questão de extrema relevância. O mercado de eventos trabalha com previsibilidade. Se planejamos reagendar eventos a partir do segundo semestre, precisamos estar com um protocolo seguro, bem alinhado e definido com tempo hábil para esta reestruturação dos espaços e da montagem. Na França, por exemplo, o governo definiu critérios concretos com um parâmetro de trabalho: eventos que reunissem mais de 5 mil pessoas estariam liberados a partir de 2 de junho. A data foi postergada (agora é 1º de setembro), mas isso permite que tenhamos um horizonte, um balizador para nosso planejamento. As diretrizes precisam ser estruturadas e antecipadas, sob pena de um decreto permitir a realização de eventos 15 dias depois e só conseguirmos tirá-los do papel meses à frente.

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O setor de eventos nacional está totalmente solidário e consternado com as mortes causadas pela pandemia da covid-19 no país, bem como com a crise econômica que ela causou. Entendemos que neste momento, antes de mais nada, o importante é salvar vidas. Mas neste mesmo caminho, temos a oportunidade ímpar de não cometermos os mesmos erros de outros países, pois o retorno da atividade econômica de forma planejada, após a maior crise sanitária dos últimos 100 anos, será a pedra angular para que todos, como sociedade, prosperemos novamente.

*Damien Timperio é CEO da GL events no Brasil, multinacional presente em 27 países, e vice-presidente da União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe)

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