Desde que estourou a Operação Lava Jato, em março de 2014, o País passou a conviver com os valores extraordinários da corrupção. Delatores confessaram o recebimento e o pagamento de propinas milionárias para políticos, ex-dirigentes da Petrobrás e governantes. Na última quinta-feira, 26, uma nova etapa da Lava Jato no Rio, denominada Operação Eficiência, revelou uma propina de US$ 16,5 milhões (R$ 52 milhões) do empresário Eike Batista ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) - segundo os investigadores, apenas uma parte de US$ 78 milhões que o peemedebista teria recebido no exterior ao longo de seus dois mandatos como chefe do Executivo e também como deputado e senador.
Cabral está preso em Bangu. Eike está foragido, é alvo da Interpol, a Polícia Internacional agora o caça em todo o mundo.
Antes das revelações de Eficiência, a Calicute - outra fase da Lava Jato, deflagrada em novembro de 2016 -, já havia identificado a mesada de R$ 850 mil para Cabral, bancada por duas empreiteiras, Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia.
No ranking das propinas, a fortuna atribuída a Cabral não faz feio perante os ativos supostamente destinados a outros acusados da Lava Jato.
Por exemplo, o ex-gerente de Engenharia da Diretoria de Serviços da Petrobrás Pedro Barusco, um dos delatores da maior investigação já desfechada contra a corrupção no País, confessou ter recebido US$ 100 milhões em propinas no exterior. Para se livrar da prisão, além de admitir corrupção passiva, espontaneamente ele abriu mão da fortuna que já foi repatriada.
Parte do dinheiro que Sérgio Cabral teria recebido também já retornou ao Brasil, segundo a força-tarefa da Operação Eficiência - algo em torno do equivalente a R$ 270 milhões, graças à delação de dois operadores do mercado financeiro, os irmãos Marcelo e Renato Chaber.
Eduardo Cunha (PMDB), ex-presidente da Câmara ora preso em Curitiba, é alvo de uma sucessão de acusações no âmbito da Lava Jato.
Em apenas uma ocasião - operação de navio sonda da Petrobrás - ele recebeu US$ 5 milhões, segundo o delator Julio Camargo. Em outra oportunidade, o peemedebista teria sido um pouco mais modesto, ficou com US$ 1,5 milhão na compra de campo de exploração de petróleo de Benin, na África.
Em outras frentes de investigação, Cunha aparece como o artífice de um ousado esquema de propinas via incentivos repassados a grandes companhias pelo FI-FGTS da Caixa. Segundo um delator, o ex-deputado teria recebido pelo menos R$ 15 milhões em apenas algumas transações identificadas.
Quando requereu ao Supremo Tribunal Federal o afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que ele recebeu R$ 52 milhões da empreiteira Carioca Engenharia.
O peemedebista nega qualquer ato ilegal e captação de valores ilícitos.
Por seu lado, o ex-dirigente da estatal petrolífera Jorge Zelada mantinha 11,6 milhões de francos suíços em uma conta em Monaco. Ele está preso e até aqui não fez delação premiada.
Nestor Cerveró, que comandou a Diretoria Internacional da Petrobrás, fechou acordo de colaboração e entregou US$ 17 milhões que mantinha em contas na Suíça, valor já repatriado.
Outro ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa (Abastecimento, onde se instalou o primeiro foco das fraudes na Petrobrás), foi o pioneiro da era das delações. Abriu mão de US$ 26 milhões, dos quais US$ 23 milhões estavam depositados em contas na Suíça.
Muitos outros nomes já despontaram na lista de supostos beneficiários de propinas. O ex-presidente da Transpetro - braço da Petrobrás -, Sérgio Machado, fala em R$ 32 milhões para Renan Calheiros (PMDB/AL), presidente do Senado. Renan nega categoricamente recebimento de dinheiro ilícito.
A Procuradoria da República atribui também ao ex-presidente Lula propinas no valor de R$ 3,8 milhões supostamente repassados pela empreiteira OAS - por meio de obras em um triplex no Guarujá e armazenamento de bens em São Bernardo do Campo.
A defesa de Lula rechaça com veemência a acusação e afirma que ele jamais recebeu valores ilícitos.
UMA CHUVA DE PROPINAS, SEGUNDO A LAVA JATO
Sérgio Cabral: US$ 78 milhões no Uruguai
Pedro Barusco: US$ 100 milhões na Suíça
Jorge Zelada: 11,6 milhões de francos suíços em Monaco
Nestor Cerveró: US$ 17 milhões na Suíça
Paulo Roberto Costa: US$ 26 milhões na Suíça
Lula: R$ 3,8 milhões da OAS no Guarujá e em São Bernardo do Campo
Renan Calheiros: R$ 32 milhões
Eduardo Cunha: US$ 6,5 milhões na Suíça e mais R$ 15 milhões do esquema no FI-FGTS e mais R$ 52 milhões de empreiteira em Israel.