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Promotoria em Minas abre inquérito sobre violações de acordos com vítimas de Fundão

Segundo os promotores Gregório de Almeida e Valma Cunha, do Ministério Público de Minas, foi notado atuação de empresários da Vale, BHP e Samarco no Conselho Curador da Fundação Renova para impedir cumprimento de ajuste com atingidos

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Por Paulo Roberto Netto
Atualização:

O Ministério Público de Minas Gerais determinou a abertura de inquérito civil para apurar suposta falta de independência da Fundação Renova e possíveis violações a acordos firmados com os atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015.

A tragédia devastou o distrito mineiro de Bento Rodrigues, causou danos graves ao Rio Doce e matou 19 pessoas.

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De acordo com a Promotoria, foi notado duas ocasiões em que as empresas Vale, BHP e Samarco, responsáveis pelo desastre, interferiram no Conselho Curador da organização para impedir o cumprimento de programas previstos no Termo de Transação e Ajuste de Conduta firmado com a Justiça.

O ofício assinado em 28 de janeiro pelos promotores Gregório de Almeida e Valma Cunha aponta que seis dos nove assentos do conselho da Renova são ocupados por representantes das mineradoras. "Em pelo menos duas oportunidades ficou evidenciada a atuação anômala da Fundação Renova na defesa ostensiva de interesses das empresas", apontam os promotores.

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O distrito de Bento Rodrigues, em Minas Gerais, após o rompimento da barragem de Fundão, em 2015. Foto: Márcio Fernandes / Estadão (06/11/2015)

O primeiro caso teria ocorrido quando a Renova exigiu dos atingidos pela barragem que abrissem mão de entrar com novas ações na Justiça para receber indenizações. A solicitação levou à uma ação civil pública do Ministério Público em 2016.

A segunda situação de interferência das empresas no Conselho ocorreu ao exigir que os municípios atingidos pelos rejeitos desistissem de suposta ação judicial no exterior contra uma empresa ligada a uma das responsáveis pelo desastre. Segundo os promotores, a exigência foi retirada do documento posteriormente pela Fundação Renova por ser considerada 'abusiva'.

"Ficou constatado problemas e indícios de irregularidades relativos à gestão, ao patrimônio e às finalidades da Fundação Renova", afirmam os promotores.

A promotoria aponta que a organização teria descumprido acordo firmado em agosto de 2018 para a contratação de mão de obra, produtos e serviços produzidos e comercializados em Mariana  para compensação de danos causados pelo desastre. As cláusulas descumpridas estariam afetando o município mineiro e o distrito de Monsenhor Horta.

Renova. Criada a partir de um Termo de Ajustamento de Conduta firmada entre a Samarco, BHP e Vale com os governos federal, de Minas Gerais e Espírito Santo, a Fundação Renova é uma entidade sem fins lucrativos que tem como objetivo executar as medidas previstas para indenizar os atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG).

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Em seu estatuto, a Renova determina que o Conselho Curador é responsável por fazer juízo de programas socioambientais e socioeconômicos desenvolvidos e aprovados pela organização para que sejam 'adequados para o cumprimento' do acordo de ajustamento de conduta. Segundo o documento, os membros do Conselhão deverão ser 'indivíduos dotados de formação técnica e com notória experiência profissional no mercado'.

Cada mantenedora da Fundação tem direito a indicar dois membros efetivos e dois suplentes. A Vale, BHP e Samarco são as mantenedoras da Renova. Cada indicado permanece no cargo por até um ano, mas é permitida sucessivas reeleições e às mineradoras é garantido o direito de substituir seu indicado.

COM A PALAVRA, A FUNDAÇÃO RENOVAA Fundação Renova informa que está à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos quando demandada pelo Ministério Público.

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