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Promotoria de São Paulo prende dois policiais do Deic na 'Operação Quebec, Sierra Juliete' por sequestro de chefe do PCC; assista a vídeos, ouça grampos

Ofensiva batizada em alusão à sigla que significa 'dinheiro' na 'linguagem policial' cumpre dois mandados de prisão e dez ordens de busca e apreensão para investigar suposto sequestro de 'Armani' antes de sua prisão em novembro de 2020

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Foto do author Pepita Ortega
Foto do author Fausto Macedo
Por Pepita Ortega e Fausto Macedo
Atualização:

 Foto: Reprodução

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo deflagrou nesta sexta-feira, 18, a Operação Quebec Sierra Juliet para investigar policiais civis do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) envolvidos no suposto sequestro de 'Armani', apontado como um dos líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em 24 de julho do ano passado. Os policiais José Luís Alves e Carlos Henrique dos Santos foram presos durante a ofensiva.

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As apurações contam com vídeos que mostrariam os policiais suspeitos entrando na casa do líder do PCC - preso em 18 de novembro do ano passado na Operação Fast Track -, além de áudios em que a mulher de 'Armani' e a advogada descrevem o ocorrido (veja as gravações e ouça os grampos ao fim da reportagem).

Além dos mandados de prisão, agentes cumpriram dez ordens de busca e apreensão, expedidas pela 2ª Vara Especializada em Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores. Um dos endereços vasculhados é o da sede do Deic, localizada na zona norte da capital.

Na casa de um dos policiais alvo das diligências, os agentes apreenderam diferentes armas e valores em espécie (veja mais imagens no fim da matéria). A ofensiva conta com apoio da Corregedoria da Polícia Civil do Estado de São Paulo e do 4º Batalhão de Choque da Polícia Militar (GATE/BOPE).

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 Foto: Reprodução

A ofensiva investiga possíveis crimes de extorsão mediante sequestro, associação criminosa, abuso de autoridade por violação de domicílio e receptação, diz o MPSP. O nome da operação, Quebec Sierra Juliet, faz alusão à sigla QSJ, a partir do alfabeto fonético internacional. Na 'linguagem policial', QSJ significa 'dinheiro'.

De acordo com a Promotoria, o líder do PCC teria sido seguido pelos policiais sob suspeita assim que deixou sua casa. Os agentes usavam um veículo furtado no Rio de Janeiro e desviado para São Paulo, informou em nota a Promotoria paulista.

"Quando Armani parou em um posto de gasolina, foi arrebatado pelos agentes, que o algemaram e o colocaram no banco de passageiros do seu próprio veículo. Os quatro sequestradores, então, dividiram-se entre os dois automóveis", registrou o MP-SP.

De acordo com os investigadores, os policiais teriam exigido R$ 300 mil para liberar 'Armani', alegando ter conhecimento de que ele ocupava função de comando no PCC e havia recebido cerca R$ 1,5 milhão para financiamento da célula 'federal'.

'Armani' teria negado o pagamento e acabou conduzido pelos policiais até sua casa, sendo que, mediante coação, os agentes teriam entrado no imóvel, 'de forma ilegal e sem mandado judicial'. No local, encontraram R$ 15 mil, subtraindo o valor.

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"Em seguida, a vítima foi levada até a sede do DEIC, onde os sequestradores prosseguiram com exigência de pagamentos, como condição necessária à restituição da liberdade de Armani. Além de mantê-lo privado de liberdade, os policiais disseram ter recebido denúncias anônimas que prejudicariam a organização criminosa", relatou ainda o MP-SP em nota.

Duas advogadas da facção ficaram responsáveis por negociar com os policiais os valores de resgate e de propina, para que Armani fosse solto e para que os policiais não registrassem os fatos supostamente relatados em denúncia anônima. Uma das advogadas, denunciada na Operação Fast Track, teria providenciado o pagamento imediato de R$ 30 mil aos policiais, prometendo o pagamento de mais R$ 30 mil para dali a 30 dias.

Ouça os grampos

Da mulher de 'Armani': "Não é mentira não, Tô. Não é mentira não. Sexta-feira, fizeram uma denúncia anônima na quinta-feira à noite. Quando foi na sexta-feira os cara invadiu. Pegaram ele ali no posto comprando o cigarro. Aí já algemaram ele e desceram pra minha casa, invadiram minha casa, filha. Fui buscar ele lá no DEIC lá, tô. Tivemos que dar setenta e cinco mil pra soltar ele. Mudei de casa, troquei de carro, mó barato louco, To. Foi mó maldade. Eles mesmo falaram. Fizeram com vocês aí, foi maldade e ainda na denúncia falaram que vocês tão morando aí, dois meses só. Você tem que ver o que aconteceu aqui, To. Passei sábado e domingo chorando em estado de choque. Em estado de choque. Mó barato louco. Mó maldade".

Da mulher de 'Armani': "Você acredita, To? Não acharam nada To. Nada, nada, nada, nada, nada, nada, nada. Levaram quinze mil que tinha em casa, aí eu levei mais trinta na sexta-feira, lá no prédio e daqui vinte dias tem que dar mais trinta. Eles pediram trezentos mil, tô. Aí o Bruno falou: 'tá doido, senhor, não tenho esse dinheiro, não'. 'Então, a gente quer cem'. Ele falou, 'eu não tenho, eu não tenho'. Aí os cara falou: 'ó, vamos fechar, então, no setenta e cinco, a gente já pegou aqui quinze, manda a sua mulher pra trinta e daqui vinte dia mais trinta e se você não quiser fechar, nós vai f**** sua vida aí, já era'. Eles iam forjar, To. Aí o Bruno falou: 'não, demorou então'. Aí ficou assim. Os cara falou que foi uma denúncia anônima na quinta-feira à noite. Denunciaram meu carro, minha casa, falaram que a gente morava lá fazia dois meses. Ai eles passaram na quinta-feira à noite, viram que constava o endereço e o carro. Na sexta de manhã, onze horas da manhã, eles ficaram na campana lá, To. E eles mesmo falaram que 'foi alguém aí que veio aí na casa de vocês aí que fez maldade aí procês aí, viu?'. Porque foi denuncia anônima. Mó barato louco, To. Você não tem noção. Mas está bom. Mais tem Deus pra dar do que o diabo pra tirar. Vamos que vamos. Fazer o que".

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Da advogada de 'Armani': "Pra ficar claro, pra resumir, como foi a situação lá no prédio. Eles receberam uma denúncia anônima que o 'Armani' que fechava com a 'Federal' tinha recebido um milhão e meio. Que esse um milhão e meio estava nesse endereço e que além do dinheiro eles encontrariam também cinco fuzis. Eles ficaram de campana no local, abordaram ele, entraram procurando por esse 'Armani'. Eh vasculharam toda a casa. Não encontraram nada, mas levaram ele pra lá pra fazer toda a verificação vasculharam todo o passado dele. E até pelo histórico eles ficaram na dúvida se era ou não a pessoa que eles estavam procurando, tá? E como eles estavam com um monte de questionamento, perguntando sobre várias coisas, as prisões anteriores dele, resolveram fechar nesse valor até pra não esticar muito o assunto, tá? Mas eles estavam procurando pelo 'Armani', devido a essa, a essa denúncia anônima. Fechou nos sessenta mil, trinta mil agora. Cinco que estava na casa, mais vinte e cinco mil e o restante pro dia 14. Ficou comigo o telefone do investigador Henrique, né, que vai ficar o responsável pra receber o restante do dinheiro até o dia 14.

Assista os vídeos das câmeras de segurança da casa de 'Armani'

Veja as imagens das apreensões

Agentes apreenderam armas e dinheiro na casa de um dos alvos da Operação Quebec Sierra Juliet. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

Agentes apreenderam armas e dinheiro na casa de um dos alvos da Operação Quebec Sierra Juliet. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

Agentes apreenderam armas e dinheiro na casa de um dos alvos da Operação Quebec Sierra Juliet. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

Agentes apreenderam armas e dinheiro na casa de um dos alvos da Operação Quebec Sierra Juliet. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

Agentes apreenderam armas e dinheiro na casa de um dos alvos da Operação Quebec Sierra Juliet. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

Agentes apreenderam armas e dinheiro na casa de um dos alvos da Operação Quebec Sierra Juliet. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

Agentes apreenderam armas e dinheiro na casa de um dos alvos da Operação Quebec Sierra Juliet. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

Agentes apreenderam armas e dinheiro na casa de um dos alvos da Operação Quebec Sierra Juliet. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

 

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