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Promotoria de São Paulo e Choque da PM buscam 12 da cúpula do PCC no Brasil e no exterior

Operação Sharks cumpre 12 mandados de prisão contra líderes da facção, responsáveis pela movimentação anual de mais de R$ 100 milhões do tráfico de drogas e pelos planos de fuga de lideranças presas e morte de autoridades

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Foto do author Fausto Macedo
Por Pepita Ortega e Fausto Macedo
Atualização:
 Foto: Estadão

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo deflagrou na manhã desta segunda, 14, a Operação Sharks para cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra lideranças da facção Primeiro Comando da Capital, o PCC. A ofensiva mira tanto lideranças que estão presas quanto outras que estão soltas - algumas que inclusive se mudaram para o exterior, comandando atividades logísticas da facção a partir de outros Países. Agentes cumprem 12 mandados de prisão e realizam 40 buscas em endereços da capital, da região metropolitana, da baixada santista e de cidades do interior.

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Segundo a Promotoria, quatro pessoas foram presas em flagrante por tráfico de drogas. Um investigado entrou em confronto com a polícia e morreu após tiroteio em Praia Grande, no litoral paulista, sendo que havia explosivos escondidos no local. Durante as buscas foi apreendida quantia superior a R$ 100 mil em dinheiro vivo, além de diversos veículos de luxo, porções de drogas, uma pistola calibre 9mm, munição e oito cartuchos de emulsão explosiva (TNT). Os agentes encontraram também diversos equipamentos eletrônicos e documentos.

"A operação é considerada por nós como a mais importante desde a remoção do Marcola e demais líderes para o sistema penitenciário federal. Porque foi identificado farto conjunto probatório, todos os líderes que foram indicados pelo Marcola e demais líderes para assumirem todos os setores da facção aqui na rua", afirma o promotor Lincoln Gakiya que conduz as investigações junto ao MP-SP.

Segundo o promotor, as investigações tiveram início após a prisão de um integrante do PCC que tinha o apelido de 'tubarão', sendo que ele era responsável pelo setor financeiro da facção. Na ocasião, os agentes apreenderam diversos documentos com a contabilidade do grupo criminoso, sendo que as planilhas detalhavam inclusive o envio de milhares de reais para o Paraguai e para a Bolívia. Gakiya indica ainda que alguns dos investigados possivelmente estejam em tais Países da América Latina.

"O importante foi a identificação desses indivíduos, que integram a cúpula do PCC hoje em exercício, e a responsabilização criminal deles. Ainda que alguns não sejam presos na data de hoje - possivelmente estejam no Paraguai e na Bolívia -, as diligencias vão continuar e logo vamos ter a prisão de todos os investigados", indicou o promotor.

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Segundo o MP-SP, as investigações tiveram início no primeiro semestre de 2019. A ofensiva aberta nesta manhã conta com o apoio da Polícia Militar e do 1º Batalhão de Polícia Militar de Choque (ROTA). Participam da ação promotores de justiça, agentes do Ministério Público e mais de 250 policiais militares e 65 viaturas.

Os promotores apontam que a cúpula da facção comanda um sistema que movimenta mais de R$ 100 milhões anualmente - montante proveniente do tráfico de drogas e da arrecadação de valores de seus integrantes -, com rigoroso controle em planilhas. Para ocultar os valores, os faccionados compravam veículos e usavam imóveis com fundos falsos ('casas-cofre') para ocultar dinheiro vivo antes de realizar transferências, muitas vezes por doleiros.

"As investigações revelaram a cadeia logística do tráfico de drogas da facção, bem como a sucessão entre suas principais lideranças a frente da fonte de maior renda da organização criminosa, indicando, ao final, a participação de 21 pessoas, algumas presas durante as investigações", informou o MP-SP em nota.

De acordo com os promotores, as lideranças que são alvo da operação tem em comum 'elevado poder decisório' na fação, a proximidade com a cúpula presa e ainda a 'ostentação de vidas de luxo, com múltiplos imóveis, carros de luxo, isso quando não residem fora do país e com seus gastos pagos pela própria facção'.

Veja o detalhamento da operação feita pelos promotores do Ministério Público de São Paulo:

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Alvos

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A Promotoria indicou que entre os investigados tem destaque o principal líder de rua atualmente do PCC. Segundo os investigadores, tal alvo da operação está à frente da 'Sintonia final da rua' responsável por comandar os integrantes soltos da organização criminosa, mantendo contato direto com a cúpula presa da facção. A Promotoria classificou os investigados pelas iniciais de seus primeiros nomes.

"MRA é suspeito de ser responsável pelos planos de fuga das lideranças da facção reclusas em presídios federais desde 2019, quando o MP-SP obteve ordem para suas transferências. Também é suspeito de liderar os planos de assassinar agentes e autoridades públicas em represália às transferências e às ações contra a cúpula da facção. M.R.A., tamanha a audácia da facção criminosa, ostenta cargo de adido da embaixada de Moçambique, sendo desconhecidas suas atividades nessa função", registrou o Ministério Público de São Paulo. Marcos Roberto de Almeia é apontado como o sucessor de Marcola pelos investigadores.

Tal alvo da 'Sharks' teria herdado as funções na 'Sintonia final da rua' de três outros investigados pelos promotores - E.A.A., M.M.P. e D.L.G.

Um dos outros alvos da ofensiva atua logo abaixo de M.R.A, à frente do 'Setor do Raio-X' - órgão de consulta da 'Sintonia final', responsável pela comunicação entre a cúpula solta e todas as demais funções da facção, cumpridoras das suas determinações. Segundo os promotores, G.F.L.P. era responsável pela chamada 'Célula territorial' e tinha a incumbência de fazer o contato entre a cúpula e as lideranças atuantes em outros estados do Brasil e países da América Latina, a chamada 'Sintonia Geral dos Estados e Países'.

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Dois outros integrantes do 'Setor do Raio-X' tiveram suas prisões decretadas, diz a promotoria - G.S.L., responsável pela logística de distribuição da maconha na facção criminosa ('Setor do Bob') e W.R.C., responsável último por fazer cumprir as normas e a disciplina da facção criminosa ('Resumo disciplinar').

Segundo o MP-SP, a 'Sharks' não investiga somente responsáveis pela organização superior da facção, mas também integrantes responsáveis pela logística do tráfico de drogas.

A promotoria cita V.A.S. e S.L.F.F., que comandam a cadeia de suprimento de drogas da facção, sobretudo aquela vinda de outros Países. Ambos continuam foragidos, segundo o MP-SP, e a suspeita é a de que eles estejam fora do Brasil, de onde atuam para a facção. Ambos estão no rol de pessoas mais procuradas do Ministério da Justiça, assim como um outro investigado, L.A.F, que já foi preso.

Para a distribuição das drogas, a facção tinha como seu último responsável o investigado O.L.B.J., a frente da 'Sintonia Final do Progresso' e da 'Padaria' (refino de drogas). Ele era responsável direto pelo preparo, guarda e divisão da droga entre os integrantes.

De acordo com os promotores, tal quadro da facção ainda contava com os investigados J.P.T.S. e E.M., bem como com um setor financeiro, tendo como destaque C.L.R.L. Parte dessas funções foram antes exercidas por D.M.G.C. ('Final do Progresso') e R.S.L. ('Sintonia Financeira'), também investigados no caso.

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