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Promotoria do Rio prende delegada com R$ 1,8 milhão e mais onze em operação contra bingos ligados a acusado de matar Marielle

Adriana Belém teve sua prisão preventiva decretada na Operação Calígula, deflagrada nesta terça-feira, 10, após apreensão de dinheiro vivo em sua casa; entre os alvos da ofensiva está Ronnie Lessa, apontado como executor dos disparos que vitimaram ex-vereadora e o motorista Anderson Gomes em 2018

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Por Wilson Tosta e Rayanderson Guerra
Atualização:

Apreensão de dinheiro durante a Operação Calígula. Foto: Polícia Federal

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) abriu nesta terça-feira, 10, uma operação batizada Calígula, contra suposta rede ilegal de casas de jogos de azar liderada pelo contraventor Rogério de Andrade, junto de seu filho Gustavo de Andrade, e que conta com a participação de 'dezenas' de criminosos, entre eles Ronnie Lessa, acusado pelo assassinato a tiros da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018.

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Pelo menos onze pessoas foram presas. Além disso, durante as diligências, os promotores acharam R$ 1,8 milhão em dinheiro vivo na casa da delegada de Polícia Adriana Belém. Após a apreensão, ela foi presa preventivamente. O delegado Marcos Cipriano também foi detido.

Além do dinheiro achado na casa da delegada, foram apreendidos, até o momento, em vários endereços dos investigados, dezessete celulares, cinco notebooks, um HD e um pen drive, R$além de R$ 48.251,20, 2.200 dólares, 4420 pesos argentinos, 70 pesos uruguaios, todos em espécie, R$ 3.800 em cheque, documentos, pendrive, chips, máquinas de cartão, 107 máquinas de caça-níqueis, cópias de processos e componentes eletrônicos.

A Promotoria denunciou 30 pessoas por uma estrutura criminosa voltada à exploração de jogos de azar não só no Rio de Janeiro. São imputados aos envolvidos supostos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.

Segundo o MP, a quadrilha 'há décadas exerce o domínio de diversas localidades, fundamentando-se em dois pilares: a habitual e permanente corrupção de agentes públicos e o emprego de violência contra concorrentes e desafetos, sendo esta organização criminosa suspeita da prática de inúmeros homicídios'.

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A promotoria sustenta que a organização corrompe de maneira estável -com pagamentos regulares - policiais civis e militares.  Eram os integrantes da Polícia Civil e da Polícia Militar ligados à quadrilha que, de acordo com os promotores, coordenavam a distribuição do suborno. O objetivo dos pagamentos ers favorecer o grupo de Rogério. Oficiais da PM  "serviam de elo entre a organização e Batalhões de Polícia, que recebiam valores mensais para permitir o livre funcionamento das casas de aposta do grupo", afirma comunicado do MP.

"Em um destes episódios,", prossegue o texto", "o delegado de Polícia Marcos Cipriano intermediou encontro entre Ronnie Lessa, Adriana Cardoso Belém, então delegada de Polícia titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), e o inspetor de Polícia Jorge Luiz Camillo Alves, braço direito de Adriana Belém, culminando em acordo que viabilizou a retirada em caminhões de quase 80 máquinas caça-níquel apreendidas em casa de apostas da organização criminosa, tendo o pagamento da propina sido providenciado por Rogério de Andrade."

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Segundo a Promotoria, Adriana havia sido denunciada por corrupção em razão da liberação das máquinas de caça-níqueis. A Vara Especializada do Tribunal de Justiça do Rio decretou a prisão preventiva da delegada após a apreensão de R$ 1,8 milhão em sua casa. Para os promotores de Justiça, o valor é um 'forte indício de lavagem de dinheiro'. A delegada será levada para a Corregedoria da Polícia Civil.

Adriana Belém é funcionária comissionada da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer e ganhava cerca de R$ 10 mil mensais. A delegada atuou na 16.ª DP (Barra da Tijuca) até janeiro do ano passado, quando deixou o posto menos de 24 horas depois da prisão do chefe de investigações da DP, Jorge Luiz Camilo Alves. Ele era um dos subordinados diretos de Adriana. De acordo com a secretaria, Adriana será exonerada do cargo.

Operação Calígula prendeu dois delegados da Polícia Civil. Foto: Polícia Federal

Parceria

De acordo com o MP, Rogério de Andrade e Ronnie Lessa mantêm uma 'parceria antiga', ao menos desde 2009, 'quando Ronnie, indicado como um dos seguranças de Rogério, perdeu uma perna em atentado à bomba que explodiu seu carro'.

A Promotoria diz que, em 2018, ano do assassinato de Marielle e Anderson, 'os dois denunciados se reaproximaram, e Rogério novamente se aliou a Ronnie e pessoas a este ligadas, abrindo uma casa de apostas na localidade conhecida como Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, havendo elementos indicando a previsão de inauguração de outras casas na Zona Oeste do Rio'.

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Segundo o órgão, o bingo financiado por Rogério e administrado por Lessa e Gustavo de Andrade foi fechado pela Polícia Militar no dia de sua inauguração. "Em seguida, após ajustes de corrupção com policiais civis e militares, a mesma casa foi reaberta, e as máquinas apreendidas foram liberadas", narrou a Promotoria.

A defesa de Rogério de Andrade diz que não existe necessidade de prisão cautelar.

"Essa operação além de não deixar demonstrado a necessidade da prisão cautelar do Rogério, se mostra claramente uma afronta ao STF que acaba de conceder o trancamento de uma ação penal contra ele", diz a nota do advogado Ary Bergher.

O Estadão não conseguiu localizar os advogados dos outros citados.

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