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Promessa de 'Disque-PGR' e elogios de Renan na sabatina de Aras no Senado

Decepcionaram-se aqueles que sintonizaram a TV Senado nesta quarta, 25, esperando polêmicas e clima tenso na sabatina do escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para a Procuradoria-Geral da República

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Por Renato Onofre , Daniel Weterman e Breno Pires
Atualização:

Augusto Aras durante a sabatina no Senado. Foto: REUTERS/Adriano Machado

Quem ligou a TV Senado na manhã da quarta-feira, 25, esperando algum tipo de polêmica na sabatina do subprocurador da República Augusto Aras ao cargo de procurador-geral da República se decepcionou. O clima era de 'conversa boa' como, por mais de uma vez, os senadores declararam para permitir a extensão do tempo da fala de Aras. Em 'retribuição', o subprocurador prometeu manter o canal aberto com a Casa, uma espécie de 'Disque-PGR'.

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"Eu tenho certeza de que embora o senador Otto (Alencar, do PSD-BA) diga que não vai entrar em contato comigo, eu quero dizer ao senador Otto e a todos que, se eu merecer essa confiança desta Casa, por favor, nós poderemos resolver problemas simplesmente com um telefonema", afirmou Aras que no final da sabatina trocou número de celular com um senador petista.

O subprocurador-geral chegou ao Congresso minutos antes do início da sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Acompanhado apenas da mulher, a subprocuradora-geral da República Maria das Mercês de Castro Gordilho, e de dois assessores de imprensa, evitou falar com a imprensa antes e depois da confirmação do seu nome - tanto no CCJ como no plenário.

Indicado em um contexto no qual o presidente Bolsonaro pretendia o 'alinhamento' ao Planalto, Aras não teve do seu lado, ao menos no discurso, a base governista. Um dos fiadores da sua escolha, o primeiro-filho, senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), não pediu palavra, em nenhuma das vezes em que se fez presente na comissão.

O filho do presidente não quis comentar a fala de Aras. "Quebra meu galho, quebra", afirmou.

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Flávio ficou pouco mais de 40 minutos pela sessão de manhã e voltou à tarde a tempo de ouvir Aras responder a provocação do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) sobre a atuação do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), rebatizado de Unidade de Inteligência Financeira.

Aras defendeu a obrigação de servidores do órgão de denunciar possíveis irregularidades quando detectadas. Flávio não desviou o olhar do escolhido do seu pai e nem esboçou reação durante a resposta. No final da sessão, fotografou o resultado e saiu da sala sem cumprimentar o subprocurador.

Além de Flávio, um dos aliados de primeira hora do presidente Bolsonaro, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), fez colocações rápidas, e perguntas apenas sobre seu Estado, Roraima.

O líder do governo, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que tenta anular uma ação de busca e apreensão contra ele e seu filho no Congresso com base em um parecer da PGR, não apareceu.

A principal defesa ao seu nome veio da boca de quem menos Aras e os governistas esperavam. Sentado ao lado de Flávio, coube ao senador Renan Calheiros - 'inimigo' velado da Operação Lava Jato e do ministro da Justiça, Sérgio Moro - o maior elogia à indicação.

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"De todos os atos do presidente Jair Bolsonaro, talvez o mais acertado e significativo seja o da indicação do doutor Augusto Aras para exercer esse honroso cargo de chefe do Ministério Público", afirmou Calheiros.

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O único momento em que o ar pesou na sala da sabatina e Aras saiu da zona de conforto foi quando o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) o confrontou sobre o apoio a uma carta de juristas evangélicos que criticavam famílias homoafetivas.

"O senhor não reconhece a minha família como família? Eu tenho subfamília?", indagou o senador. "Eu sou doente, senhor procurador?", insistiu Contarato. A pergunta gerou aplausos na sala da comissão.

O plenário 2 da CCJ, que tem espaço para 68 pessoas sentadas, ficou lotado durante quase toda a sabatina. Por causa disso, no início da sessão, o chefe do Ministério Público Militar, Jaime de Cassio Miranda, chegou a ser impedido por seguranças de ocupar um lugar na sala. Após interferência de assessores de Simone Tebet (MDB-MS), presidente da comissão, foi devidamente acomodado.

Entre convidados e curiosos, mais de 200 pessoas passaram pela sabatinos. De deputados baianos que cruzaram em comitiva os salões Verde e Azul do Congresso para abraçar Aras ao advogado do delator da Lava Jato Lúcio Funaro, Bruno Espiñeira, estiveram presentes. "Eu vim na condição de conterrâneo e admirador do jurista Augusto Aras, apenas isso", afirmou o advogado, baiano como o PGR.

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Alijada do processo de escolha da vaga da procurador-geral da República pela primeira vez desde 2003, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) também acompanhou de perto as respostas do futuro chefe do MPF. O presidente da entidade, Fábio George Nóbrega, ficou de pé no fundo da sala observando as falas de Aras. O Estado abordou Nóbrega, que não quis falar.

Após a aprovação na CCJ, acompanhado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o subprocurador seguiu para o plenário onde gravou vídeos com senadores e cumprimentou àqueles que não foram ao colegiado. Antes da votação que confirmou o seu nome, o subprocurador foi embora sem falar com a imprensa.

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