O Ministério Público Federal, representado pela secretária de Cooperação Internacional, Cristina Romanó, reafirmará em Lisboa o posicionamento de que não há impedimentos para a extradição do empresário Raul Schmidt para o Brasil. A defesa será feita junto a autoridades de Portugal, onde Romanó se reunirá, a partir desta segunda-feira, 14, com a procuradora-geral do país europeu, Joana Marques Vidal, e com procuradores locais que atuam no processo de extradição de Schmidt, alvo da Operação Lava Jato. Integrantes do Ministério das Relações Exteriores vão participar das audiências.
As informações foram divulgadas pela Secretaria de Comunicação Social da Procuradoria.
O objetivo da missão, segundo a Procuradoria, além de garantir que o empresário seja extraditado, é definir como será feita a extradição, que já foi determinada em todas as instâncias da Justiça portuguesa.
O caso transitou em julgado naquele país em janeiro e a defesa exauriu todos os recursos cabíveis. "A missão a Lisboa tem por objeto tratativas com as autoridades portuguesas para dar cumprimento a essa decisão, com a entrega definitiva do principal operador de propinas da Petrobras, para que ele seja julgado pela Justiça brasileira. É de suma importância para o Brasil e para todos os os demais países de lingua portuguesa, que o tratado de extradição firmado por estes países seja honrado"", destaca Cristina Romanó.
De acordo com as investigações, Raul Schmidt seria o principal operador de propinas da Petrobrás para os ex-diretores da estatal, Renato de Souza Duque, Nestor Cerveró e Jorge Luiz Zelada.
Ele é investigado no âmbito da Operação Lava Jato, pela suposta intermediação de mais de US$ 200 milhões em propinas. Está formalmente acusado por intermediar, somente no contrato do navio Titanium Explorer, US$ 31 milhoes em propina.
Ele operava usando dezenas de contas bancárias em nome de empresas offshores na Suíça, Mônaco, Inglaterra, além de outros países, destaca a Lava Jato.
O empresário brasileiro foi solto por decisão do Supremo Tribunal de Justiça português no último dia 3. Mas para as autoridades brasileiras o fato de Raul Schmidt estar em liberdade não impede a sua extradição.
O Poder Judiciário português já se manifestou diversas vezes que a nacionalidade portuguesa obtida pelo empresário, em 2011, não é fator impeditivo, já que a ação penal ajuizada contra Schmidt refere-se a crimes cometidos antes daquele ano.
No âmbito do processo de extradição, também foi definido que o julgamento no Brasil ocorrerá somente pelos atos praticados antes da obtenção da nacionalidade portuguesa.
Além de atuar como operador financeiro, Schmidt também aparece como preposto de empresas internacionais na obtenção de contratos de exploração de plataformas da Petrobrás.
Ele foi preso em Portugal, em março de 2016, na primeira fase internacional da Operação Lava Jato.
O empresário estava foragido desde julho de 2015. Morou em Londres, onde mantinha uma galeria de arte, mas, após o início da Lava Jato, mudou-se para Portugal, por ter dupla cidadania.
O pedido de extradição do brasileiro foi julgado pelo Tribunal da Relação de Lisboa, mas Schmidt recorreu ao STJ de Portugal, que confirmou integralmente, em setembro de 2017, a extradição.
O brasileiro ajuizou reclamação junto ao STJ português, que novamente indeferiu o pedido.
Na tentativa de evitar a extradição, recorreu ao Tribunal Constitucional de Portugal (TCP) que, por decisão sumária, de novembro de 2017, não conheceu o recurso.
Um mês depois, a defesa recorreu ao TCP, que confirmou a extradição. Em 9 de janeiro deste ano o mesmo tribunal indeferiu nova reclamação de Schmidt e confirmou o trânsito em julgado do processo de extradição para o Brasil.
A decisão do Tribunal Constitucional de Portugal, no entanto, não foi executada porque o Tribunal da Relação de Lisboa suspendeu a emissão do 'mandado de desligamento', documento imprescindível para a entrega às autoridades brasileiras, até a finalização do 'recurso de revisão' - espécie de ação rescisória -, julgada em abril pelo Supremo Tribunal de Justiça de Portugal.
Em abril deste ano, Schmidt recorreu ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) para suspender a extradição, alegando que as unidades prisionais brasileiras não cumpriam os padrões mínimos exigidos pela Convenção Europeia dos Direitos do Homem.
Para rebater esse recurso, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou às autoridades portuguesas ofício reafirmando o compromisso do Estado brasileiro de garantir e respeitar os direitos fundamentais de Schmidt, 'argumento que foi aceito pelo Tribunal europeu'.
COM A PALAVRA, O ADVOGADO ANTONIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, KAKAY, QUE DEFENDE RAUL SCHMIDT
Eu entendo que a decisão do STF de Portugal é muito clara. O Brasil não cumpriu no prazo previsto a extradição do Raul, que teria sido deferida pelos tribunais portugueses. Acho estanho inclusive que, neste momento, descumprindo uma determinação do STF, o país determine a ida a Portugal de uma procuradora com ônus para o contribuinte sabendo que está fazendo uma aventura Jurídica. Penso que há que haver responsabilidade do cumprimento de uma determinação judicial de um tribunal constitucional de Portugal. A autorização para que uma procuradora vá depois de uma decisão absolutamente clara e contrária à possibilidade de extradição é o uso indevido da força do estado, e inclusive deveria ser responsabilizado por esse gasto desnecessário com o dinheiro do contribuinte.