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Procuradoria do Cidadão desautoriza manifestação de procurador bolsonarista que defendeu punição a atos políticos nas universidades

Em ofício enviado ao Ministério da Educação, Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão destaca que posição de Ailton Benedito é 'isolada' do Ministério Público Federal

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Por Paulo Roberto Netto
Atualização:

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal encaminhou manifestação ao Ministério da Educação (MEC) nesta sexta, 5, desautorizando a recomendação assinada pelo procurador Ailton Benedito que classificava manifestações políticas em universidades como atos de 'imoralidade administrativa'.

O ofício de Benedito foi encaminhado pela pasta às instituições em fevereiro e foi cancelado na noite de quinta após forte repercussão negativa e críticas dentro do MPF.

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Na manifestação enviada ao MEC, o procurador federal dos Direitos do Cidadão Carlos Alberto Vilhena afirma que a Procuradoria não concorda com as posições adotadas por Benedito e que a recomendação assinada por ele se trata de uma 'iniciativa isolada'.

"Tal cenário denota, nitidamente, tratar-se a recomendação em análise de iniciativa isolada, tomada com base na independência funcional do Procurador da República que a subscreveu", afirmou Vilhena. "Não é lícito, todavia, opor-se limites prévios às manifestações de pensamento no ambiente das universidades públicas".

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Para o procurador, apesar da liberdade de expressão encontrar limites, tal limitação não deve admitir 'qualquer tipo de condicionamento ou de conclusões taxativas estabelecidas a priori'. "Afigura-se, portanto, juridicamente inviável a conclusão geral e abstrata de que a realização de atos, ainda que de viés político-partidário, em ambientes públicos de ensino e pesquisa configure, por si só, ato ilícito", frisou.

Reprodução/REDES SOCIAIS 

A manifestação de Ailton Benedito em defesa de punições a manifestações políticas nas universidades foi repassada pelo MEC às instituições em ofício assinado pela Rede de Instituições Federais de Educação Superior no mês passado. O órgão informou às federais que repassou o documento a pedido da Corregedoria 'em face do recebimento de denúncias relativas à matéria'.

A nova posição da pasta, assinada pelo secretário de Educação Superior Wagner Vilas Boas de Souza, afirma que o documento enviado às instituições federais visou 'unicamente prestar informações às universidades sobre a possibilidade e conveniência de regulamentação (no exercício da autonomia universitária) acerca da cessão e utilização de seus espaços'.

"Não há, no ofício-circular em questão, quaisquer intenção de coibir a liberdade de manifestação e de expressão, no âmbito das instituições federais de ensino superior", afirmou. "Foi buscado, tão somente, orientar as universidades a garantir o bom uso do recurso público, sem, contudo, se dissociar do resguardo de todas as formas de manifestação livre de pensar nos ambientes universitários".

O cancelamento do ofício ocorre após o Ministério Público Federal cobrar explicações do MEC sobre o caso. Um dos documentos exigidos pela Procuradoria foi a cópia da solicitação feita pela Corregedoria que levou ao envio de uma manifestação assinada por Ailton Benedito.

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Em outra frente, um grupo formado por 25 subprocuradores assinaram um memorando nesta quinta, 4, pedindo uma manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o ofício. No documento, o grupo destaca que a posição defendida por Ailton Benedito no documento repassado pela pasta às instituições é isolado e embasado na independência funcional e em sua 'mundividência'.

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