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Procuradoria denuncia hackers e Glenn por crimes relacionados à invasão de celulares de autoridades

Ministério Público Federal em Brasília acusa jornalista e mais seis investigados na Operação Spoofing por crimes relacionados à invasão de celulares de autoridades brasileiras

Foto do author Pepita Ortega
Por Pepita Ortega , Patrik Camporez , BRASÍLIA e SÃO PAULO
Atualização:

Atualizada às 13h20 de 21.01 com posicionamento do jornalista Glenn Greenwald*

O jornalista Glenn Greenwald. FOTO: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO  

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O Ministério Público Federal denunciou o jornalista Glenn Greenwald e seis hackers investigados no âmbito da Operação Spoofing, que apura invasão e roubo de mensagens de celulares de procuradores da força-tarefa da operação Lava-Jato e do então juiz Federal Sérgio Moro.

No que se refere à responsabilização de Glenn Greenwald, o MPF ressalta que o jornalista não era alvo das investigações. Ocorre que, durante a análise de um computador apreendido na casa de Walter Delgatti Netto, o 'Vermelho', foi encontrado um áudio de um diálogo entre Luiz Molição e Glenn.

Documento

Denúncia

A conversa foi realizada logo após a invasão sofrida pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. "Nesse momento, Molição deixa claro que as invasões e o monitoramento das comunicações telefônicas ainda eram realizados e pede orientações ao jornalista sobre a possibilidade de 'baixar' o conteúdo de contas do Telegram de outras pessoas antes da publicação das matérias pelo site The Intercept. Greenwald, então, indica que o grupo criminoso deve apagar as mensagens que já foram repassadas para o jornalista de forma a não ligá-los ao material ilícito", diz o MPF.

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Para o MPF, ficou comprovado que Glenn auxiliou, incentivou e orientou o grupo durante o período das invasões. Ainda segundo os procuradores, essa atitude do jornalista caracteriza 'clara conduta de participação auxiliar no delito, buscando subverter a ideia de proteção a fonte jornalística em uma imunidade para orientação de criminosos'.

"O jornalista Gleen Greenwald, de forma livre, consciente e voluntária, auxiliou, incentivou e orientou, de maneira direta, o grupo criminoso, durante a prática delitiva, agindo como garantidor do grupo, obtendo vantagem financeira com a conduta aqui descrita", diz trecho da denúncia.

A peça de 95 páginas da Procuradoria alega que o inquérito cumpriu a liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, em agosto. A medida cautelar proibiu que Glenn fosse investigado e responsabilizado pelas autoridades públicas e órgãos de apuração administrativa ou criminal (como a Polícia Federal) pela 'recepção, obtenção ou transmissão' de informações publicadas na imprensa.

Em dezembro, a Polícia Federal apresentou relatório de investigação sobre os hackers, e indiciou Walter Delgatti Neto, o 'Vermelho', Gustavo Henrique Elias dos Santos, Thiago Eliezer Martins, Danilo Marques, Suelen Priscila de Oliveira e Luiz Henrique Molição. No documento, a corporação diz que não era possível, até o momento, ' identificar a participação moral e material do jornalista Glenn Greenwald nos crimes investigados'.

'Não houve investigação. Não se descumpriu a decisão'

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O procurador Wellington Divino Marques de Oliveira ressalta que a decisão (do ministro Gilmar Mendes, do Supremo) que impedia investigação sobre Glenn 'criou uma espécie de imunidade especial e material", "uma presunção absoluta de inocência, garantindo um salvo conduto ao réu de ser investigado'.

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"O presente inquérito policial cumpriu as determinações contidas na Medida Cautelar proferida na APDF nº 601 porém, no material decorrente das medidas de busca e apreensão, autorizadas pelo Juízo da 10.ª Vara Federal do Distrito Federal foi possível identificar um áudio que ilustra a atuação do jornalista Glenn Greenwald no caso e indica a participação direta do jornalista na conduta criminosa", afirma a denúncia.

O procurador da Spoofing é taxativo ( "Não houve investigação. Não se descumpriu a decisão") e grifou em vermelho trechos de diálogos de Glenn com hackers.

Na avaliação do Ministério Público Federal, "as falas identificadas em vermelho demonstram alguns elementos importantes" - a) o grupo efetuou a invasão de dispositivos informáticos de diversas pessoas, como Danilo Gentili, Fernando Holiday e outros integrantes do MBL ainda no ano de 2018; b) Glenn Greenwald recebeu o material hackeado das contas pertencentes ao procurador da República Deltan Dallagnol, sabia que o grupo não havia encerrado a atividade criminosa e permanecia realizando condutas de invasões de dispositivos informáticos e o monitoramento ilegal de comunicações e buscou criar uma narrativa de 'proteção à fonte' que incentivou a continuidade delitiva.

Ao transcrever um diálogo do jornalista do The Intercept, o procurador enfatiza. "Comprova que, diferentemente da tese apresentada pelo jornalista, Glenn Greenwald recebeu o material de origem ilícita enquanto a organização criminosa ainda praticava condutas semelhantes, buscando novos alvos, possuindo relação próxima e tentando subverter a noção de proteção ao 'sigilo da fonte' para, inclusive orientar que o grupo deveria se desfazer das mensagens que estavam armazenadas para evitar ligação dos autores com os conteúdos hackeados, demonstrando uma participação direta nas condutas criminosas."

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O procurador ressalta que, por causa da liminar de Gilmar Mendes, "não foi possível aprofundar as investigações de forma a identificar outros elementos de prova que demonstrem outras condutas de Glenn Greenwald no caso concreto".

Ele destaca que cópia da denúncia e dos 'elementos de prova juntados' será encaminhada à Procuradoria-Geral da República para subsidiar eventual pedido de revogação da liminar em vigor.

Segundo o procurador, 'é certo que Glenn agiu como partícipe nas condutas funcionando como garantidor e orientador da associação criminosa'.

Crimes cibernéticos

As sete pessoas foram denunciadas por crimes relacionados à invasão de celulares de autoridades brasileiras. São apontadas a prática de organização criminosa, lavagem de dinheiro, bem como as interceptações telefônicas engendradas pelos investigados.

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A denúncia assinada pelo procurador da República Wellington Divino de Oliveira relata que a organização criminosa executava crimes cibernéticos por meio de três frentes: fraudes bancárias, invasão de dispositivos informáticos ( como, por exemplo, celulares) e lavagem de dinheiro. A peça não explora os crimes de fraudes bancárias. Nesse sentido, a finalidade ao citá-los é apenas o de caracterizar o objetivo dos envolvidos e explicar as suas ligações. Uma ação penal apresentada posteriormente tratará tais crimes.

As apurações realizadas esclareceram os papéis dos denunciados. Walter Delgatti Netto, o 'Vermelho', e Thiago Eliezer Martins Santos atuavam como mentores e líderes do grupo. Danilo Cristiano Marques era "testa-de-ferro" de Walter, proporcionando meios materiais para que o líder executasse os crimes. Gustavo Henrique Elias Santos era programador, desenvolveu técnicas que permitiram a invasão do Telegram e perpetrava fraudes bancárias.

Já Suelen Oliveira, esposa de Gustavo, agia como laranja e "recrutava" nomes para participarem das falcatruas. E, por fim, Luiz Molição invadia terminais informáticos, aconselhava Walter sobre condutas que deveriam ser adotadas e foi porta-voz do grupo nas conversas com Greenwald .

 Foto: Reprodução

COM A PALAVRA, O ADVOGADO RAFAEL BORGES, QUE DEFENDE GLEEN GREENWALD

"Recebemos com perplexidade a informação de que há uma denúncia contra o jornalista Glenn Grenwald, cofundador do The Intercept. Trata-se de um expediente tosco que visa desrespeitar a autoridade da medida cautelar concedida na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 601, do Supremo Tribunal Federal, para além de ferir a liberdade de imprensa e servir como instrumento de disputa política. Seu objetivo é depreciar o trabalho jornalístico de divulgação de mensagens realizado pela equipe do The Intercept Brasil em parceria com outros veículos da mídia nacional e estrangeira. Os advogados de Glenn Grenwald preparam a medida judicial cabível e pedirão que a Associação Brasileira de Imprensa, por sua importância e representatividade, cerre fileiras em defesa do jornalista agredido".

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COM A PALAVRA, WALTER DELGATTI NETO

A reportagem busca contato com a defesa do denunciado. O espaço está aberto para manifestações.

COM A PALAVRA, GUSTAVO HENRIQUE SANTOS

A reportagem busca contato com a defesa do denunciado. O espaço está aberto para manifestações.

COM A PALAVRA, THIAGO ELIEZER

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A reportagem busca contato com a defesa do denunciado. O espaço está aberto para manifestações.

COM A PALAVRA, LUIZ HENRIQUE MOLIÇÃO

A reportagem busca contato com a defesa do denunciado. O espaço está aberto para manifestações.

COM A PALAVRA, SUELEN PRISCILA DE OLIVEIRA

A reportagem busca contato com a defesa da denunciada. O espaço está aberto para manifestações.

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COM A PALAVRA, DANILO CRISTIANO MARQUES

A reportagem busca contato com a defesa do denunciado. O espaço está aberto para manifestações.

 

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