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Procrastinar ou pivotar?

Por Cassio Grinberg
Atualização:
Cassio Grinberg. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O Segway, uma espécie de hoverboard com guidão, prometia alcançar mais do que a própria bicicleta conseguira em duzentos anos: como solução para o caos do trânsito dos Estados Unidos à China, venderia um bilhão de unidades antes mesmo de percebermos que, ao contrário do que às vezes pensamos, mesmo inovadores como Steve Jobs cometeram enganos comuns aos empreendedores que arriscam.

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Há um dilema na prática de inovação, facilmente transportável para o campo das relações humanas. É representado por correntes complementares, mesmo que baseadas em movimentos polares: enquanto a "Escola do Vale do Silício" sugere a lógica do fail fast, a "Escola de Wharton" defende a procrastinação como mais favorável ao sucesso nos negócios.

Procrastinar expõe as vantagens do processo de incubação sobre o vício da pressa; na essência, uma sorte de ansiolítico, que nos previne de fazermos hoje algo que talvez não precisássemos fazer amanhã. "Pivotar", em contrapartida, evita que fracassemos a custos altos demais -- nos separamos antes de ter os filhos.

Somos capazes de decidir melhor se estamos dispostos a abrir mão do "controle das variáveis". Um hábito cuja máscara de planejamento sufoca a intuição; e que se alimenta, para o cedo ou para o tarde, da auto-suficiência de nosso orgulho de abrir mão: se acende uma falsa luz e desabamos na futurística das loterias quando nos socorremos da ilusão das certezas, e não de nossa alquimia de experiência e coragem. A velha tentativa e erro.

Walt Disney acertou quando levou sete anos para finalizar sua Branca de Neve, um sucesso procrastinado até o orçamento estourar seis vezes e sua casa ser hipotecada -- mas o mercado estar recuperado da crise de 1929, e a ideia pronta para tornar-se um clássico. Steve Jobs ignorou o alarme de Jeff Bezos de que o Segway era apenas uma história bem vendida demais -- e isso antes do tombo de George W. Bush diante das câmeras.

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E por que, entre dois ícones, um soube procrastinar e o outro (que saberia usar o erro como trampolim para reaprender e logo reinventar a indústria do entretenimento) demorou para pivotar? Porque o mundo, setenta anos depois, agora girava em transitoriedade líquida. Um tempo de olhar e escutar, com variáveis demais para manter sob controle.

*Cassio Grinberg, sócio da Grinberg Consulting e autor do livro Desaprenda - como se abrir para o novo pode nos levar mais longe

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