"O conteiner estava lá com carne estragada, sem refrigeração nenhuma, fedia aquele conteiner a hora que foi aberto." O relato é de uma auxiliar de inspeção que trabalhou na Peccin Agroindustrial, de 2013 a 2014. Ela foi ouvida pelo juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal, em Curitiba, dos processos da Operação Carne Fraca, que completa nesta terça-feira, 17, sete meses.
Carne vencida, sujeira, alteração de fórmulas, cobrança de propinas e até ameaça de morte, são alguns dos relatos feitos por testemunhas das seis ações penais abertas na Justiça Federal, em Curitiba, decorrentes da operação da Polícia Federal que revelou irregularidades em frigoríficos do País, entre eles unidades da JBS e da BRF - duas maiores gigantes do setor - e corrupção no Ministério da Agricultura (Mapa).
OUTRAS DO BLOG:
Corrupção sistêmica. Com os processos penais contra fiscais do Paraná, Goiás e Minas Gerais em andamento, a Carne Fraca pode crescer.
A PF tem elementos de que o esquema pode ter sido espelhado nas demais superintendências do Ministério da Agricultura, nos Estados, e nos serviços de inspeção de produtos de origem animal (Sipoas).
O ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná Daniel Gonçalves Filho, apontado na Carne Fraca como um dos líderes do esquema preso desde o dia 17 de março, negocia um acordo de delação premiada e pode ampliar o foco das investigações.
Ao lado de Maria do Rocio Nascimento, ex-chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Gonçalves Filho é apontado como líder do esquema descoberto pela operação Carne Fraca e seria responsável por arrecadar propinas de frigoríficos e empresas do setor alimentício.
A equipe da Carne Fraca tem a convicção de ter descoberto um esquema criminoso de indicações políticas, em cargos chaves do Ministério da Agricultura, que tinha como contrapartida a obrigação de arrecadar propinas para partidos como PMDB, PP e PDT com empresários do setor de carnes e embutidos.