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Executivo da Odebrecht cita à PF preocupação de Aécio com Sérgio Cabral

PF interceptou mensagens entre Benedicto Barbosa, alvo da Operação Acarajé - desdobramento da Lava Jato -, e o empreiteiro Marcelo Odebrecht que envolveriam políticos

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Foto do author Julia Affonso
Por Mateus Coutinho , Julia Affonso e Ricardo Brandt
Atualização:

Sérgio Cabral (esq) e Aécio Neves (dir). Foto: Estadão

Em depoimento à Polícia Federal no dia 24 de fevereiro, o presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Barbosa explicou suas conversas com o dono da holding Marcelo Odebrecht interceptadas pela Lava Jato. Benedicto Barbosa afirmou que, em um dos diálogos de novembro de 2014, eles tratam de doações para o presidente nacional do PSDB Aécio Neves e da preocupação do tucano com o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), investigado na Lava Jato por suspeita de ter recebido propina de empreiteiras envolvidas nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). É a primeira vez que os nomes do tucano e do peemedebista são citados por executivos da Odebrecht aos investigadores da Lava Jato.

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"Que deseja consignar que a interpretação dada pelo analista (da Polícia Federal) de que havia preocupação, por parte da Odebrecht, em relação a Sérgio Cabral no caso MF (sigla que a PF atribui a Márcio Faria, ex-executivo da Odebrecht condenado na Lava Jato a 19 anos e quatro meses de prisão por corrupção, lavagem e formação de quadrilha) , é equivocada, uma vez que tal preocupação teria sido manifestada por Aécio Neves", afirmou o executivo aos investigadores, sem dar mais detalhes sobre como essa preocupação do tucano foi relatada a eles. Benedicto afirma ainda que a preocupação não envolve nenhuma "conduta criminosa". A sigla MF aparece em vários aparelhos telefônicos e e-mails de executivos da Odebrecht e a Polícia Federal atribui a sigla ao nome do ex-diretor da empreiteira Márcio Faria, apontadocomo um dos responsável por ordenar o pagamento de propinas no esquema de corrupção na Petrobrás.

Em março de 2015 o Superior Tribunal de Justiça abriu inquérito para investigar o governador do Rio Luiz Fernando Pezão e o ex-governador Sérgio Cabral por suspeita de terem recebido R$ 30 milhões em 2010 do esquema de corrupção na Petrobrás. Os dois rechaçam qualquer envolvimento no esquema.

 Foto: Estadão

Em um dos diálogos Benedicto diz: "Preciso resolver R$ 100 mil (tarja preta). Vou aproveitar este momento PT/PSDB", e Marcelo Odebrecht responde: "Não entendi, depois vc me fala seguro" eles estavam discutindo doações eleitorais para Aécio e "Piciani". As empresas do grupo Odebrecht doaram R$ 8 milhões à campanha do tucano e R$ 16,7 milhões ao comitê da presidente Dilma Rousseff. Nem o deputado federal Leonardo Picciani (PMDB) nem o seu pai e presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani, aparecem como destinatários de doações da Odebrecht. A empreiteira, contudo, doou R$ 13,9 milhões ao PMDB em 2014.

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"Que sobre o diálogo da página 35 da representação, a qual refere um suposto canal seguro existente entre o declarante e Marcelo Odebrecht para conversas, deseja consignar que interpreta que o diálogo se refere a falar quando estivesse seguro, não por meio de um meio seguro", disse o executivo. Ele afirmou ainda que considera "seguro" para conversar com Marcelo Odebrecht o telefone de seu escritório na empreiteira.

Benedicto não explica e nem é questionado pelos investigadores da Polícia Federal, que por se tratar de uma investigação em primeira instância não envolve políticos, porque teriam sido tratadas as doações eleitorais com Marcelo em 7 de novembro, 12 dias após o fim do segundo turno das eleições de 2014 na qual Dilma foi reeleita. Pela legislação eleitoral até então, as campanhas presidenciais podiam receber doações mesmo depois de terminado o segundo turno, até um prazo limite. Atualmente, por determinação do STF, as doações empresariais para campanhas estão proibidas.

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Os diálogos entre os executivos foram um dos elementos utilizados pela Polícia Federal para a deflagração da 23ª fase da Lava Jato, que levou à prisão o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura, que trabalharam nas campanhas presidenciais de Lula (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014), e também a prisão temporária de Benedicto, solto no dia 26 de fevereiro. Nos diálogos apresentados ao juiz Sérgio Moro, a PF coloca tarja preta em alguns nomes e siglas para preservar a identidade de políticos e autoridades com prerrogativa de foro. Em seu depoimento, contudo, Benedicto cita os políticos relacionados aos diálogos, sempre inocentando eles de quaisquer condutas criminosas.

Para a Polícia Federal, contudo, os diálogos entre Marcelo Odebrecht e Benedicto indicam que eles tratavam "de assuntos escusos", "certamente não se limitando a obter recursos para financiamento oficial de campanhas eleitorais", diz a Polícia Federal no relatório que embasou a 23ª fase da operação.

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TSE. As doações da Odebrecht a Aécio Neves foram uma das irregularidades apontadas pelo Tribunal Superior Eleitoral ao julgar a prestação de contas da campanha tucana em 2014. De acordo com a assessoria técnica do tribunal, Aécio repassou para o PSDB uma doação de R$ 2 milhões da Odebrecht, mas não registrou a transferência na prestação de contas. Questionada na época, a assessoria de imprensa do PSDB afirmou que todos os questionamentos foram respondidos e as doações, contabilizadas.

COM A PALAVRA, A ODEBRECHT:

"Benedicto Junior prestou todos os esclarecimentos em sua oitiva, buscando apenas esclarecer o que considera equívocos em relação à análise feita pela Polícia Federal de suas conversas com Marcelo Odebrecht. No mesmo depoimento, Benedicto Junior detalhou claramente como se dá o processo de definição das doações eleitorais no grupo Odebrecht"

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DE LEONARDO E JORGE PICCIANI:

"Como é sabido, todas as doações recebidas na eleição de 2014, mesmo quando recebidas via diretórios nacional ou estadual dos partidos, passaram a ter obrigatoriamente a identificação da origem, ou seja, da empresa que doou o dinheiro ao Diretório.

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Basta conferir no site do TSE: não constam recursos da Odebrecht para nenhuma das campanhas da familia Picciani, nem de forma direta nem indireta.

http://inter01.tse.jus.br/spceweb.consulta.receitasdespesas2014/abrirTelaReceitasCandidato.action

A única explicação que pode haver para que o nome de Picciani ter sido citado neste contexto é o fato de ele, como é sabido, ter coordenado, no Rio, a campanha presidencial de Aécio Neves em 2014, tanto no primeiro quanto no segundo turno.

A atuação de Picciani, entretanto, era apenas política. Ele nunca tratou de questões relativas ao financiamento da campanha de Aécio, cujas despesas eram de responsabilidade do comitê financeiro do candidato."

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DE AÉCIO NEVES:

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"O depoimento mencionado pelo jornal apenas confirma as informações prestadas à Justiça Eleitoral. É de conhecimento público que a empresa Odebrecht, assim como diversas outras, fez doações à campanha do PSDB, inclusive, como prevê a lei, depois das eleições, para cobrir débitos existentes.

Com relação aos diálogos, o senador não é parte de nenhum deles não tendo, portanto, nada o que acrescentar.

Sobre o questionamento referente a doações eleitorais da Construtora Norberto Odebrecht, não houve repasse de Aécio Neves para o PSDB no valor de R$ 2 milhões, como publicado pelo jornal. Não existem depósitos ou qualquer movimentação financeira de doações em conta de pessoa física, e sim em conta do candidato.

Os recursos sempre estiveram declarados. O que houve foi um erro formal de transferência de recursos de uma conta para outra conta da campanha.

Conforme já comprovado junto ao TSE, o Diretório Nacional do PSDB, em 26/09/2014, recebeu doação da empresa, de acordo com o Recibo Eleitoral 233, e repassou ao Comitê Financeiro para Presidente do PSDB o valor de R$ 2.000.000,00, registrados no Recibo Eleitoral 144. Houve um erro formal de digitação no lançamento da transferência e digitou-se o CNPJ da conta do candidato ao invés do CNPJ da Direção Nacional do PSDB. Um erro que foi corrigido junto ao TSE. "

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