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'Tinha que ter imobilizado, algemado e levado ele', diz perito da PF sobre negociação com Roberto Jefferson

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Por Pepita Ortega
Atualização:

Marcos Camargo. FOTO: RAUL SPINASSÉ/NOVO SELO COMUNICAÇÃO  

Na avaliação do presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, Marcos Camargo, houve uma sequência de 'situações não protocolares' no tratamento dado ao ex-deputado Roberto Jefferson neste domingo, 23, após o ex-presidente do PTB atacar agentes da PF com tiros e granadas, no interior do Rio, ao resistir à prisão. Comentando o vídeo que mostra os policiais dentro da casa do político, Camargo entende que ali já havia uma situação de rendição e que o mandado de prisão deveria ter sido cumprido naquele momento.

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"Ali o que tinha que ser feito já era ter imobilizado ele, algemado e levado embora. Era essa a atuação. E não uma negociação naquele nível de conversa. Isso pelo que a gente tem das imagens. Até porque ele atentou ali contra a vida dos policiais. Acho que essa foi uma atuação fora dos protocolos de atuação para esse tipo de situação", afirma.

Camargo diz não ver 'erro' na abordagem dos agentes que foram até Levy Gasparian (RJ) para dar cumprimento ao mandado de prisão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, mas entende que a reação do ex-deputado, repudiada pela APCF, desencadeou os 'procedimentos não protocolares'.

Segundo o presidente da associação de peritos, a negociação é um procedimento delicado, realizado quando não é possível fazer a intervenção policial ou prender o investigado, 'porque ele tem uma posição em que uma ação policial pode desencadear danos maiores em relação a pessoas inocentes'.

"Nesse caso a gente obviamente necessita de uma negociação, mas em nenhum momento, numa situação grave como essa, você vai ter o negociador entrando no terreno do agressor e fazer uma negociação quase que em um ar de camaradagem. Você não tem esse tipo de situação", explica.

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Camargo diz ainda que outra conduta adotada em casos de negociação é o impedimento de entrada de pessoas no recinto. Neste domingo, 23, enquanto os policiais buscavam cumprir a ordem de prisão contra Jefferson, quem entrou na residência do ex-presidente do PTB foi o padre Kelmon - que chegou a ser candidato a vice na chapa do ex-deputado à presidência, antes de o nome do político ser barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Segundo o presidente da APCF, a quantidade de pessoas no local dos crimes deste domingo, 23, pode afetar a integridade de vestígios, como no caso de digitais, imagens de circuito interno, e dados de celulares. "Isso pode gerar dano à cadeia de custódia, mas não é impeditivo de fazer os exames. Os peritos avaliam aquilo que eventualmente gerou prejuízo à cadeia de custódia e, depois, o próprio processo, por meio do juiz, também vai sobrepesar tudo isso. Mas obviamente não é desejável que dentro de um local de crime haja uma circulação muito grande de pessoas", indica.

Camargo explica que a perícia no caso de Jefferson deve analisar o local do crime, visando estabelecer a dinâmica ocorrida e indicar de onde partiram os disparos - em que sentido, em que direção, se partiram somente de uma pessoa e somente de uma arma. Além disso, exames também podem indicar onde a granada - cujos fragmentos atingiram policiais federais - foi detonada, além de qual material estava contido no dispositivo. Ainda devem ser recolhidos fragmentos e eventuais projéteis.

Ainda de acordo com o perito, também é importante que seja realizada a análise das armas apreendidas e da viatura alvejada por Jefferson, para que se identifique como os disparos ocorreram. Camargo explica que tais análises podem indicar o 'risco que se assumiu' ao efetuar os disparos.

Mesmo sem a conclusão de tais exames, a Polícia Federal no Rio de Janeiro indiciou Roberto Jefferson pela tentativa de homicídio de quatro policiais - a agente e o delegado que foram feridos pelos estilhaços de granada arremessada pelo ex-presidente do PTB e outros dois PFs que estavam em uma viatura, mas não foram atingidos.

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Camargo alerta ainda que há outras questões que devem ser apuradas pela PF: como o ex-deputado teve acesso à granada, dispositivo de uso controlado pelo Exército, e como tinha à sua disposição um arsenal, já que Jefferson estava em prisão domiciliar.

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Reação

A Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal divulgou nota em que cobra da administração da corporação esclareça quais foram os protocolos adotados no planejamento, na execução e no gerenciamento da crise instalada durante a execução do mandado de prisão contra Jefferson, 'sobretudo diante da resistência que, por pouco, não resultou no óbito do Delegado e dos demais Policiais Federais envolvidos'.

"A Polícia Federal possui reconhecida excelência na atuação técnico-operacional, de acordo com os elevados padrões internacionais de atividade policial, o que reforça a necessidade de tais esclarecimentos e de saneamento de erros. A PF, instituição de Estado, polícia judiciária da União, carece da garantia constitucional de autonomia administrativa e funcional", registrou a entidade em nota.

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