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Presencialidade em nome do coletivo: caminhos para a educação em 2022

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Por Esther Carvalho
Atualização:
Esther Carvalho. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Após dois anos de restrições e diferentes modelos de escola devido à pandemia da Covid-19, a experiência do retorno presencial traduziu-se em novos e inesperados desafios. Iniciado o primeiro semestre de 2022, aquele lugar de convivência, de função civilizatória, de desenvolvimento individual e coletivo apresentava um desequilíbrio. A escola presencial, tão conhecida, não estava mais lá. Era necessário, mais uma vez, buscar um novo olhar quanto às rotinas, às dinâmicas e às aprendizagens desta comunidade, capaz de abarcar um novo coletivo.

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Os desafios esperados foram elevados à potência do inédito. Percebemos que o que fazíamos e conhecíamos, inclusive nas regras e rotinas, não era suficiente. O contexto mostrou ser necessário construir o que chamamos de um novo pacto pedagógico, envolvendo educadores, alunos e familiares para que pudéssemos extrair dessa convivência e de seus objetivos toda a sua potência. Estamos falando de uma nova escola presencial.

A presença do estudante

Após tanto tempo afastados presencialmente da rotina escolar, crianças e jovens trouxeram para a escola suas experiências individuais, seus hábitos, procedimentos e aprendizagens construídos no cotidiano doméstico. A sala de aula passou a reunir indivíduos que vivenciaram superexposição à tecnologia, restrições físicas, autogestão das rotinas e questões relativas à saúde mental. Nesse sentido, esse coletivo traduziu-se em turmas mais agitadas, com alunos mais imaturos e com lacunas de conhecimento e procedimentos de estudo, com foco e concentração comprometidos e mais centrados em si do que no coletivo.

O caminho encontrado foi estabelecermos o foco na presencialidade, de maneira a reiterar que estar aqui, agora, é fundamental. Olhando nos olhos, mas não pelas telas ou por videochamadas, passamos a atuar, juntos, para desconstruir hábitos adquiridos durante o período de ensino remoto, como o apego excessivo a aparelhos tecnológicos. Buscamos ouvir do estudante o que funciona para ele dentro do colégio, estabelecendo novos pactos que dialogam com as suas necessidades e, ao mesmo tempo, promovam uma consciência coletiva.

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Frente à queda de rendimento como um todo, a presencialidade se mostra fundamental para que haja um melhor aproveitamento do tempo destinado ao ensino e aprendizagem, assim como para o desenvolvimento da consciência coletiva. Partimos do princípio que todos têm a responsabilidade de contribuir para a dinâmica de ensino-aprendizagem em sala de aula.

A expectativa do professor

Os impactos dessa nova sala de aula chegam ao educador, que esperava um perfil diferente de aluno, sobretudo nas fases de transição de ciclos escolares. Os alunos, os tempos, os ritmos eram diferentes dos antes conhecidos, o que pode levar a um professor mais reativo, ansioso e preocupado. Rotinas e aspectos disciplinares foram dificultados, com estudantes que se adaptaram individualmente às próprias realidades e que, agora, afetam a dinâmica das turmas como um todo.

Com o corpo docente, foi necessário gerir a ansiedade em relação às expectativas de aprendizagem, pensar em conteúdos essenciais e redimensionar o que foi inicialmente planejado. Não adianta evoluir cognitivamente sem as condições necessárias para isso. Assim, repensar calendários de avaliações e verificar formas mais produtivas de realizá-las, trazendo um "olhar sistêmico", foi essencial, de forma a reformular antigas rotinas.

A experiência da comunidade interna

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Ao longo desses dois anos, lidamos com muitas variáveis de alto nível de complexidade, levando a decisões ágeis e criativas. Desse processo, tiramos um grande aprendizado: revisitar as práticas e uma consciência coletiva não podem ser ações realizadas apenas a partir de uma demanda pontual, reafirmando-se como um olhar perene que se estabelece na instituição. Redesenhar e repensar a dinâmica escolar tornou-se imperativo, o que só é possível com o compromisso e engajamento de todos.

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O caminho percorrido já traz conquistas frente essa nova escola presencial. Fortalecer o coletivo e promover o diálogo e a escuta ativa entre todos, traz para a gestão e para o processo de tomada de decisões mais sentido e assertividade. Cuidar das dimensões socioemocionais de educadores, colaboradores da escola, estudantes e suas famílias apresenta-se, também, como um importante caminho para superarmos os desafios e nos constituirmos como pessoas capazes de viver e intervir, como cidadãos, num mundo complexo, incerto, conectado, de rápidas mudanças.

*Esther Carvalho, diretora-geral do Colégio Rio Branco

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