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Prêmio lançado por Alvim tinha no conservadorismo norte de políticas públicas

Minuta de edital obtida pela reportagem do ‘Estado’ via Lei de Acesso à Informação mostra que pasta ‘norteava’ política pública com base ‘na Pátria, na Família, na Coragem do Povo e profunda ligação com Deus’

Por Paulo Roberto Netto
Atualização:

Minuta de edital do Prêmio Nacional das Artes, anunciado pelo ex-secretário de Cultura Roberto Alvim, apresentava o concurso como uma forma de levar o ‘conservadorismo’ para ‘além da recuperação econômica e da garantia de Justiça e Segurança Pública’. A proposta está suspensa desde o discurso desastroso do ex-secretário, que parafraseou o ministro nazista Joseph Goebbels.

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O documento foi obtido pelo 'Estado' via Lei de Acesso à Informação e aponta que a proposta com tal teor já era discutida internamente desde o início de janeiro. Nessa quarta, 19, a reportagem mostrou que parecer da Consultoria Jurídica da Secretaria de Cultura afastou 'possibilidade de defesa' do edital após o discurso de Alvim. Segundo a advocacia da União, a fala do ex-secretário tornou 'inconteste' a associação do nazismo ao concurso.


'PÁTRIA, FAMÍLIA, CORAGEM DO POVO E PROFUNDA LIGAÇÃO COM DEUS'Documento

Oficialmente apresentado como um prêmio para garantir o 'renascimento das artes e da cultura', a proposta inicial apontava que seu objetivo seria recuperar 'os princípios e os valores da civilização ocidental'.

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A minuta foi encaminhada a servidores para 'avaliação, apontamentos e contribuições' no dia 02 de janeiro após uma reunião de Alvim com coordenadores do Programa de Cultura do Trabalhador. A proposta seria anunciada duas semanas depois, no dia 16.

"A Pátria, a Família e a Coragem do Povo e nossa profunda ligação com Deus norteiam nossas ações na criação de políticas públicas", aponta a minuta. "As virtudes da fé, da lealdade, do autossacrifício e da luta contra o mal serão alçadas ao território sagrado das obras de arte".

O documento aponta que o concurso buscava ser um 'marco histórico' na arte brasileira. "Sua implementação e perpetuação ao longo dos próximos anos irá redefinir a qualidade da produção cultural em nosso País".


O ex-secretário da Cultura, Roberto Alvim, em seu antigo escritório, em Brasília. Foto: Gabriela Biló / Estadão

Alvim era apontado nos bastidores como um nome de confiança do presidente Jair Bolsonaro, compartilhando de posições do Planalto em relação ao conservadorismo nos costumes. Antes de assumir a Secretaria Especial de Cultura, em novembro do ano passado, Alvim esteve à frente do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Funarte, onde provocou polêmica ao atacar a atriz Fernanda Montenegro.

Discípulo de Olavo de Carvalho, Alvim chegou a declarar nas redes sociais que 'arte de esquerda é doutrinação e arte de direita é emancipação poética'.

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Arquivamento. O discurso de Roberto Alvim ao anunciar o Prêmio Nacional das Artes levaram a Consultoria Jurídica da Secretaria de Cultura a recomendar o arquivamento imediato do edital. Segundo parecer do advogado da União Eduardo Magalhães, as frases ditas pelo ex-secretário tornava 'inconteste' a associação do nazismo ao concurso e impossibilitava uma defesa jurídica do caso.

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"O Edital já estaria fadado a sofrer inevitáveis e numerosos questionamentos judiciais, uma vez que estaria ligado de maneira umbilical à manifestação de cunho pretensamente nazista exarada pelo Secretário Especial de Cultura, sr. Roberto Alvim".

Como o edital do Prêmio Nacional das Artes não foi publicado no Diário Oficial da União, a pasta optou por suspendê-lo, deixando em aberto a possibilidade de ser trabalhado pela futura gestão, que será comandada pela atriz Regina Duarte.

A sugestão da consultoria jurídica é apenas opinativa e não vinculante, ou seja, Regina Duarte não é obrigada a cumprir a manifestação sugerida pelos advogados.


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PARECER JURÍDICO DO PRÊMIO NACIONAL DAS ARTES Documento

O concurso, inicialmente estimado em R$ 35 milhões e revisto para R$ 20 milhões quando foi anunciado, concederia prêmios milionários para óperas, peças de teatro, pinturas, obras de literatura, música e histórias em quadrinhos. Os vencedores seriam selecionados por 'membros do Poder Público e membros com notório saber e comprovada experiência na área específica relacionada ao edital', conforme minuta do edital.

A pasta ainda não se manifestou sobre o destino final do Prêmio Nacional das Artes. Regina Duarte aceitou o convite para dirigir a Secretaria em 29 de janeiro, mas ainda não foi empossada oficialmente.

COM A PALAVRA, A SECRETARIA ESPECIAL DE CULTURA A reportagem entrou em contato, por e-mail e por mensagem, com a Secretaria Especial de Cultura desde a última terça-feira, 18, e aguarda resposta. O espaço está aberto a manifestações (paulo.netto@estadao.com).

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