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Precisei ser mãe para saber que sempre fui escritora

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Por Gisele Fortes
Atualização:
Gisele Fortes. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Eu sempre quis ser mãe. Esse era um desejo profundo e uma certeza inabalável na minha vida. Mas, apesar da vontade latente, a hora certa para a maternidade nunca chegava: em primeiro lugar estavam a carreira, o crescimento profissional e a busca pela tão sonhada estabilidade financeira.

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Então, aos 35 anos, decidi que não dava mais para adiar esse sonho e comecei as tentativas para engravidar. Acabei descobrindo que ter um filho não seria um caminho tão fácil, pois tinha as duas trompas obstruídas e precisava me submeter a um processo de Fertilização in Vitro (FIV). Foram três tentativas frustradas em menos de dois anos, mas, na quarta vez, veio o milagre: um embrião se implantou e se multiplicou espontaneamente, dando origem a gêmeas univitelinas.

Passei uma gravidez difícil, repleta de riscos e cuidados, mas trabalhei até o meu limite físico. Tive as minhas meninas, lindas e saudáveis, curti os seus primeiros meses de vida e concretizei muito mais do que consegui idealizar.

Quando já estava pronta para voltar à ativa, fui desligada do meu emprego. Com duas bebês de poucos meses, comecei a participar de processos seletivos e entrevistas diversas, mas, quando falava das gêmeas, a fisionomia dos recrutadores se fechava na hora.

A dificuldade para me recolocar no mercado formal, que parecia ser um pesadelo, acabou se tornando uma dádiva. Em casa, cheia de gás e tomada por múltiplas ideias, decidi voltar a fazer a coisa que mais amo: escrever. Comecei de forma tímida, fui ficando animada e, quando percebi, já estava inscrita em um curso de "Formação de Escritores".

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Os primeiros módulos já me permitiram uma rica troca com autores que, como eu, estavam ávidos por colocar o seu talento no mundo. Os ensinamentos, as experiências e as dicas logo me deram a motivação para escrever o meu primeiro livro.

Já no processo de escrita do quarto livro, tenho consciência de que fiz muita coisa em apenas um ano, sobretudo tendo em vista as limitações impostas pela pandemia do novo coronavírus. Mas tenho a convicção de que esse é apenas o início de uma jornada que será longa e, se Deus quiser, muito frutífera.

Eu descobri, na prática, que é possível se reinventar. Mais do que isso, que é preciso fazê-lo. Muitas vezes, estamos acomodados no caminho que escolhemos há décadas e, por medo ou até mesmo preguiça, não nos permitimos mudar tudo. Eu precisei ser demitida para virar o jogo e dar voz à minha paixão verdadeira.

A minha transição de carreira não foi planejada, mas mostrou que nunca é tarde para começar de novo. Sempre podemos buscar o que nos realiza e conseguir uma profissão que realmente nos faça feliz.

Eu precisei ser mãe para perceber que, lá no fundo, sempre fui escritora. E, agora, com as minhas filhas nos braços e os meus livros nas mãos, ninguém me segura. Nem o céu será o limite para os sonhos que povoam a minha mente criativa e a minha escrita incansável.

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*Gisele Fortes é formada em Comunicação Social pela UFRJ e autora do livro Desencontros de amor

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