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Por um 'melhor normal'

Por Luciano Deos
Atualização:
Luciano Deos. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Há quase 5 meses arrisco dizer que, depois das palavras pandemia, corona vírus e Covid-19, o termo com o qual mais temos convivido é o "Novo Normal", popularizado pelo economista Mohamed El-Erian como referência ao período pós-crise financeira de 2008, e desde março passado alçado a quase onipresença em discursos e conversas públicas e privadas. O uso no Brasil da expressão "Novo Normal" é tão amplo e indiscriminado quanto a cifra que o Google nos devolve ao fazermos a busca pelo termo: quase 1 bilhão de resultados até o momento em que escrevo este artigo.

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Fosse apenas a presença maciça da expressão a me gerar incômodo, talvez eu não tivesse me dedicado a pensar a respeito. Mas percebi que havia algo maior ao examinar a rejeição que a ideia me causa desde a primeira vez que a vi sendo usada no contexto da pandemia. A princípio pensei ser apenas minha negação ou ignorância quanto as profundas implicações da abrupta freada imposta pelo coronavírus no ritmo de um mundo que gira em alta velocidade. Pior: creio que a expressão se tornou apenas outra referência sob a qual se dão discussões crescentemente polarizadoras, disputas vazias pra ver qual aposta de futuro "vai vencer", qual achismo vai "vingar", ou ainda, se tudo o que estamos atravessando não passará de um doloroso hiato até voltarmos ao "velho normal". Debates estes que se tornaram verdadeiras armadilhas, nos aprisionando ora na ansiedade diante das incertezas, ora na inércia diante da magnitude dos desafios a serem superados.

Como especialista em dar forma e sentido às marcas no mundo, sei da importância do call-to-action, o chamado à ação que toda mensagem deve fazer à sua audiência. Logo, avalio que o lugar-comum no qual se transformou o "Novo Normal" não dá conta de comunicar o sentido de urgência que a pandemia nos trouxe quanto a necessária tomada de consciência coletiva sobre nossa interdependência e, consequentemente, a fundamental prática dos princípios dessa agenda de transformação.

Sob esse espírito proponho o desafio de ressignificar este clichê, ou melhor, abandoná-lo, trazendo para o centro da roda a ideia de "Melhor Normal". Sim, simplesmente um melhor normal, nem novo, nem velho, mas, primordialmente, comprometido com a mudança. Um conceito que veicule de maneira muito mais propositiva o imperativo de que, independentemente de como, nosso futuro seja melhor.

Mais do que um slogan ou frase de efeito, espero que o Melhor Normal seja visto como uma convocação à sociedade brasileira em prol do reboot do nosso sistema operacional. Como um movimento capaz de instigar em cada um de nós, como indivíduos, cidadãos e profissionais, o comprometimento com alguma prática que fundamente um melhor normal. E que o uso dessa expressão ajude a dar mais visibilidade a inúmeras iniciativas, individuais e coletivas, pessoais e institucionais, que já colocam em prática ideias inspiradoras, capazes de impulsionar um circulo virtuoso de ações construtivas. Porque mesmo em meio a tanta incerteza, confio que só sairá da suspensão quem trabalhar ativamente para tal. E com a oportunidade de se deparar, na outra ponta dessa travessia, com uma normalidade que, ainda que não nova, possa ser melhor.

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#MelhorNormal

*Luciano Deos, fundador e CEO do GAD' consultoria de marca

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