Colegas que haviam organizado no ano anterior a primeira edição da Brazil Conference, conferência que debate o Brasil nas universidades de Harvard e MIT, relatavam entusiasmados o debate de alto nível ocorrido mesmo entre opositores. Voltei para Oxford com uma ideia na cabeça e, graças à um grupo entusiasta de estudantes brasileiros que acreditavam no poder do diálogo, menos de três meses depois nascia o Brazil Forum UK. Como diria Darcy Ribeiro, era preciso debater o Brasil como problema. O Brasil estava em pauta, mas o fundador da UnB nunca imaginaria que seria mais fácil debatê-lo nas academias da terra dos Federalistas e da Revolução Gloriosa do que na universidade que criara à beira do Lago Paranoá.
O Brazil Fórum começou sua quinta edição com uma exposição de abertura onde participaram os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso do PSDB e Dilma Rousseff do PT. O ministro do STF Luís Roberto Barroso, apoiador de primeira hora do evento, fechou o evento. Nas edições passadas estiveram presentes Marina Silva e Dráuzio Varella, Sérgio Moro e Fernando Haddad, André Lara Resende e Djamila Ribeiro, Deltan Dallagnol e Celso Amorim, Otávio Frias Filho e Luiz Felipe Pondé, dentre inúmeras outras lideranças com posições diferentes e, inclusive, opostas. O Fórum prova que pontes quebram grades e furam bolhas. Mas ainda é mais fácil quebrá-las em Oxford do que na Esplanada dos Ministérios.
O Brazil Forum UK, nas suas cinco edições, consolidou um feito memorável. Ampliou o diálogo entre dois Brasis que não se falavam. A única condição para um painel existir é que nele sejam representadas opiniões plurais. "Transcendendo dicotomias" é o lema da sua primeira edição e reflete bem o espírito do Fórum de apostar no diálogo como melhor estratégia para superar a polarização atual da sociedade brasileira. Construindo propostas concretas, esse ano o evento perguntou "What´s next Brazil?"
Iniciativas autônomas de estudantes que se revezam a cada ano para organizar espaços de conexão entre lideranças do setor público, privado e da sociedade civil, como a Brazil Conference e o Brazil Fórum, são fundamentais. Criam oportunidade para lideranças que não dialogam no Brasil, pelo menos se escutem no exterior. A edição deste ano ocorreu de forma virtual transmitida em parceria com o Estadão e criou uma grande oportunidade de democratizar o debate e construir propostas em todas as regiões do país. O mundo pós-covid cria novas oportunidades para se ampliar o diálogo futuro através de tecnologias que aproximam os que estavam afastados.
Mas a questão principal é: Por que nossos líderes precisam sair do país para poder dialogar entre si? Esse é o principal desafio que precisa ser superado pelo país, principalmente no momento que instituições democráticas estão sob ataque. Democracia exige diálogo e tolerância e não ataques às instituições com tweets ou fogos de artificio. O esgarçamento institucional pelo qual passa o Brasil é resultado de anos de polarização política raivosa. Se em 2016 vivíamos uma crise política e econômica, em 2020 adicionamos uma crise sanitária à equação. A superação dos enormes desafios atuais do país exige a retomada do diálogo entre lideranças que pensam diferentes. Os ideais políticos modernos não são apenas a igualdade e a liberdade, mas também a fraternidade. Para sair da crise o Brasil precisa de mais diálogo fraterno para superar a polarização intolerante. É muito bom termos estudantes brasileiros no exterior dispostos a contribuir com a construção do diálogo tolerante. Porém, o ideal seria que nossas lideranças pudessem construir convergências sem precisar ir à Harvard ou Oxford. Assim como no passado superamos a ditadura através do diálogo que deixou de lado interesses particulares e divergências menores, construir pontes entre os democratas é o principal chamado que o momento requer. Que se torne uma rotina no próprio Brasil.
*João Francisco Maria - Mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford, co-idealizador e 1° Coordenador Geral do Brazil Forum UK.